Arquitetura
Arquitetura
Quero reformar em 2024: o que priorizar? Imprevisto sempre acontece? Essas e outras perguntas respondidas
Repaginação arquitetônica conduzida por Marcela Fazio, Natacha Alves e Beatriz Slaibi em apartamento de 1970 às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas | Gustavo Bresciani
Reformar um imóvel é um desafio em qualquer circunstância. Seja para modernizar e adequar a casa atual a novas necessidades, seja para renovar antes de se mudar para um novo endereço, encarar uma obra traz múltiplas dúvidas para além das escolhas divertidas, como os tons que vão colorir as paredes. Como encarar os prazos dados? Sempre vai aparecer um ou outro imprevisto? Afinal, todas as demandas cabem no orçamento?
HAUS bateu um papo com a arquiteta Marcela Fazio, profissional com mais de 20 anos de atuação, para esclarecer esta e outras dúvidas a partir da experiência vivenciada em dois projetos bem distintos. Na conversa com a arquiteta consideramos como ponto de partida duas reformas: a de uma casa no Itaim Bibi, em São Paulo, e outra de um apartamento da década de 1970 na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro.
As obras tiveram características bem distintas entre si. Para a Casa de Vila (como o projeto foi batizado), o foco foi uma renovação completa. Já o apartamento da Lagoa Rodrigo de Freitas não sofreu mudanças estruturais, mas teve alterações importantes na comparação com sua planta original.
Nas palavras da profissional, "a Casa de Vila é bastante antiga e precisou de reforço estrutural em sua última intervenção. Por ser casa, a complexidade de obra é outra. O apartamento da Lagoa não passou por modificação estrutural, mas grande parte de sua configuração interna foi modificada. Criamos quarto, banheiro, cozinha e área de serviços onde não havia nada disso. Modernizamos absolutamente toda a hidráulica e elétrica. Estas etapas são trabalhosas e um tanto frustrantes para o cliente, pois não “aparecem”, mas são o que faz a casa funcionar no dia a dia, então tudo precisa ser executado com muito profissionalismo e cuidado", complementa, ao comentar sobre etapas desafiadoras da execução.
Mais uma diferença importante entre as obras é o fato de que na casa paulista Marcela era a única mente por trás de todo o conceito e estudo de possibilidades, além da condução da obra. No apartamento carioca, por outro lado, todo o projeto foi pensado em dupla com Natacha Alves, que conduziu a obra em parceria com Beatriz Slaibi, ambas também arquitetas.
Confira a entrevista a partir das experiências concretas:
O que é essencial que o cliente tenha em mente quando ele diz "sim" para uma renovação?
Marcela Fazio: Eu diria que, primeiramente, é necessário confiar no profissional contratado. Eu presto muita atenção à sinergia, sabe? Por muitos meses, seremos um time. A troca é bastante intensa. Atendimento a prazos (de ambos os lados) é essencial. E compreender que o projeto leva um tempo para amadurecer, antes da obra, e que esta tem seu prazo também. A ansiedade do cliente em ver tudo pronto logo pode estragar toda a experiência. Um bebê leva 9 meses para se formar no útero e, mesmo ao nascer, leva meses para se adaptar ao mundo externo. Assim também é uma obra.
Você considera que existe uma dinâmica ideal para uma reforma? Por exemplo, é indispensável saber qual o orçamento possível?
MF: Quando o orçamento é limitado, deve ser dito logo na primeira conversa. Busco ser sempre honesta e tenho valores médios de reforma na ponta da língua. Já aconteceu de recusar o desenvolvimento do projeto porque o cliente não tinha a verba necessária. Neste caso, prefiro não criar expectativa. Meu conselho foi: “pinte as paredes, leve teus móveis e junte dinheiro para fazer esta obra em outro momento.” Alguns clientes preferem nos deixar livres para criar e se preocupam com os valores posteriormente, porque entendem que a prioridade, neste caso, é a realização daquele sonho.
É ideal, então, começar esse relacionamento por um “alinhamento de expectativas” em relação ao que os clientes querem e o que é possível fazer?
MF: Sim, imprescindível. Tudo é investigado no briefing, ou seja, na primeira etapa do projeto.
Para quem está interessado em fazer uma reforma, mas nunca teve contato com o trabalho de um arquiteto, como funciona a criação do projeto? Quanto tempo leva, como são as trocas?
MF: O arquiteto é um profissional com grande habilidade para resolver questões ligadas ao espaço físico e deve respeitar desejos e necessidades do usuário. O projeto pode levar de dois meses a um ano, a depender de sua complexidade. As trocas são intensas e, quanto mais o cliente se entregar ao processo investigativo, mais satisfatório tende a ser o resultado final. Clientes atentos e que fazem boa gestão de seu tempo são os que recebem projetos e obras mais rápido e, portanto, costumam ser os mais satisfeitos com o resultado final.
Reforma sempre tem imprevisto? É factível começar uma obra com um cronograma definido, com prazo para início e fim?
MF: Sim, sempre tem imprevistos e o cronograma precisa estar bem amarrado, mas vai se ajustando durante a obra.
Para terminar: o que você considera indispensável ao fazer uma reforma?
MF: Dedicação, paciência, reserva financeira e muita vontade. Além de, obviamente, contratar a equipe certa, tanto para o projeto de arquitetura e interiores quanto para obra.