Arquitetura
A reinvenção do trabalho presencial e seus reflexos na arquitetura, na economia e no urbanismo
A transição para o trabalho remoto foi uma das mudanças mais discutidas e visíveis impostas pela pandemia global. E quando muitos achavam que a situação estava definida, começamos a ter que nos readaptar ao retorno gradual ao trabalho presencial.
Este retorno, longe de ser um simples passo atrás, está atuando como um catalisador para transformações significativas na economia paulistana, do Rio de Janeiro e das principais capitais e na configuração da cidade. Como CEO e especialista do mercado, tenho observado de perto essas mudanças.
O mercado imobiliário, um termômetro sensível das mudanças socioeconômicas, tem demonstrado sinais claros dessa transformação. Escritórios com mais de 50% de ocupação já representam a grande maioria do inventário disponível, indicando não apenas uma retomada, mas um crescimento expressivo em relação ao ano anterior. Em São Paulo, o equilíbrio saudável entre oferta e demanda de espaços de escritório já é uma realidade em muitas regiões, sinalizando um otimismo renovado e um apetite por parte dos desenvolvedores para novos projetos.
Esse cenário positivo, contudo, não está isento de desafios. O aumento do tempo de deslocamento, os custos elevados de transporte e a necessidade de readequação dos espaços domésticos anteriormente adaptados ao trabalho remoto são questões prementes. Esses fatores influenciam diretamente as decisões dos trabalhadores e, por extensão, as estratégias das empresas para retenção e capacitação de talentos, impactando a produtividade de maneira significativa.
Apesar desses desafios, a tendência é de melhoria contínua nos setores de transporte, varejo, logística e serviços, impulsionada pelo aumento do fluxo de pessoas e, consequentemente, da demanda por produtos e serviços. Esta dinâmica tem estimulado a expansão de estabelecimentos comerciais, a modernização de espaços e o fortalecimento do setor de entretenimento, evidenciando uma revitalização das áreas urbanas que vai além do simples aspecto econômico.
A mobilidade urbana também tem sido afetada, com um aumento na utilização de carros particulares e serviços de transporte, refletindo não apenas nas empresas de transporte público, mas também nos aplicativos de mobilidade e na indústria de combustíveis. Essa alteração nos padrões de mobilidade exige respostas mais rápidas e conscientes do poder público e do setor privado.
A volta ao presencial não significa apenas a retomada de velhos hábitos, mas a oportunidade de reinventar o espaço de trabalho. As empresas estão sendo desafiadas a criar ambientes mais colaborativos e acolhedores, que favoreçam a interação e a eficiência coletiva, ao mesmo tempo em que investem em tecnologia e infraestrutura para suportar essa nova realidade.
Estamos, portanto, diante de um ciclo de mudanças que afeta não apenas o mercado de trabalho, mas o tecido urbano como um todo. As adaptações necessárias nos transportes, no varejo e na logística urbana são testemunhas de um processo de transformação que, embora desafiador, carrega o potencial de revitalizar nossas cidades e economia de maneira sustentável e inclusiva.
Como líderes empresariais e cidadãos, devemos estar atentos e engajados neste processo de mudança, buscando soluções criativas e sustentáveis para os desafios que temos pela frente.
*Paula Casarini é CEO da Colliers, empresa líder em serviços profissionais diversificados e gestão de investimentos