Opinião

Instituto Jaime Lerner

Lentes positivas para pensar a cidade como solução pelo olhar do Instituto Jaime Lerner.

Instituto Jaime Lerner

A paisagem simbólica de uma cidade

03/05/2024 18:33
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O fim do mês de março marcou, no calendário desta cidade que me acolheu, não só seu aniversário, mas também a chegada de um evento cultural que nasceu com o nome de Teatro e que, em sua 32ª edição, chama-se Festival de Curitiba. Essa janela no tempo me leva a rememorar outra, quando, ainda menina, morando no Acre, entre manguezais e banhos de rio, eu era uma criança ávida por conhecer o mundo.
Meu programa favorito era vestir um vestidinho solto no corpo, certamente costurado por minha avó, e correr descalça para ver o circo que erguia sua lona colorida para iluminar toda a cidade. A emoção era tanta, as descobertas tão intensas, que isso se tornou rotina. Só não fugi com eles por completa distração.
Quando a lona não vinha mais, com saudades daquele êxtase, fiz uma lista das cidades que eu queria conhecer. Paralelamente, começou o sonho de ser atriz, bailarina, musicista, circense, advogada, desenhista, ou até mesmo médica, para usar o figurino com jaleco e ter a sensação de ouvir um coração bater em meu próprio ouvido. Eu ficaria satisfeita com qualquer coisa que me desse a possibilidade de viver outras histórias.
Bem, na lista que escrevi, aproveitei para colocar as principais coisas que gostaria de ver com meus próprios olhos e tocar com meus dedos finos. Em Paris, iria ao Louvre; em Londres, conheceria os teatros; na Índia, visitaria os templos; no Marrocos, veria mosaicos; em Nova York, comeria as comidas mais deliciosas do mundo e assistiria a um show de jazz em silêncio; e, em Curitiba, me apresentaria na Ópera de Arame.
Agora, aos 50 anos, entendi a dimensão dessa lista: uma colagem com a paisagem simbólica de cada lugar que eu conhecesse, para assim entender um pouco mais sobre a vasta constituição da alma humana e do coletivo. Posso fechar meus olhos e ainda ver as ruelas da Espanha, e mesmo sem nunca ter ido, posso imaginar os pulos e rodopios da mais interessante bailarina russa.
A importância da paisagem simbólica das cidades passa sutilmente por nós ao caminhar no calçadão da Rua XV, ao nos depararmos com um prédio antigo ou ao ler um livro na praça.
De tão sutil e intrínseca às nossas vidas, esquecemos que é a arte quem representa a passagem do homem neste mundo. É ela que registra nossa capacidade de ressignificação e que extrai do pintor o mais inusitado olhar sobre a paisagem. E é nessa força criativa que habita nossa história individual.
O universo simbólico dá significado às vidas e vilas de cada canto do mundo. É essa tapeçaria cultural que faz de nós, humanos, seres que carregam em si um arcabouço de significados para além da própria existência.
*Ana Rosa Genari Tezza, colaboradora do IJL, é diretora teatral e fundadora da Ave Lola espaço de criação, onde coordena projetos de arte e cultura no Brasil e no exterior.

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