Planejamento Urbano

Instituto Jaime Lerner

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Lentes positivas para pensar a cidade como solução pelo olhar do Instituto Jaime Lerner.

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Sobre a complexidade das cidades e a simplicidade das soluções

15/03/2024 19:56
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Jaime Lerner e Jan Gehl no 5o. Congresso da Fundación Arquitectura y Sociedad, realizado em 2018 em Pamplona, na Espanha. | Miguel Galiano

Pensar as cidades e agir sobre elas não é tarefa fácil. Requer domínio técnico, sensibilidade social, habilidade política e coragem de experimentação. Dois arquitetos e urbanistas que certamente personificam estas qualidades são Jaime Lerner e Jan Gehl. Nascidos na década de 1930, são contemporâneos e possuem marcantes contribuições para o campo dos Estudos Urbanos, com vários pontos de convergência. 
Suas ideias advogam pela simplicidade nas soluções, pela inovação e pela experimentação, sempre embasadas na concepção de cidades centradas nas pessoas. Não por acaso, a trajetória de ambos transcende a série de projetos urbanos desenvolvidos em diferentes países, influenciando gerações de profissionais e moldando a forma como se compreende o espaço urbano. 
Ao unir os ofícios profissionais, de pesquisa e docência, eles representam a superação da clássica e já envelhecida dicotomia entre teoria e prática, entre academia e atuação profissional, entre refletir sobre a cidade e intervir sobre ela. Esse cenário motivou a realização do evento O URBANO em debate, promovido pelo Programa de Pós-graduação de Gestão Urbana (PPGTU) da PUCPR em parceria com o Instituto Jaime Lerner. 
Discutimos uma agenda propositiva para o futuro das cidades a partir da visão de arquitetos e urbanistas dos escritórios de Jan Gehl e Jaime Lerner – profissionais que conviveram com eles e cuja trajetória se destaca pela integração entre exercício profissional, pesquisa e docência. O público participante também refletiu a proposta do evento, reunindo gestores públicos, consultores, professores e pesquisadores. A tônica das discussões ressaltou a importância da observação, intuição e criatividade, elementos justamente potencializados na interlocução com a pesquisa, espaço privilegiado de experimentação. 
Não se pode negar a importância dos dados e como estes moldam a forma como enxergamos as cidades. Em tempos de ubiquidade de algoritmos e plataformas, o desafio está em como interpretamos esses dados e os processos que os geram, pois não são neutros. A leitura atenta das dinâmicas de apropriação dos espaços e das relações humanas que escapam ao digital nos conduz a respostas inovadoras pela sua simplicidade. Tal como afirmou Jaime Lerner, “temos que ter a coragem de fazer coisas simples e imperfeitas – a arquitetura, às vezes, é um compromisso com a simplicidade e imperfeição”.  Este convite à simplicidade permanece atual e sinaliza para cenários possíveis em direção a cidades mais humanas e resilientes.
Paulo Nascimento Neto é arquiteto, urbanista e coordenador do Programa de Pós-graduação em Gestão Urbana (PPGTU), da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).