Urbanismo
Soluções inovadoras e sustentáveis de urbanismo aproximam Curitiba e Barcelona
O bairro 22@barcelona recuperou uma área industrial degradada e hoje colhe frutos no campo da inovação e do urbanismo. Foto: Reprodução
O intercâmbio recente no âmbito das cidades inteligentes tem aproximado ainda mais Barcelona de Curitiba, como atesta a realização de eventos como a Smart City Expo Curitiba – que terá sua segunda edição realizada em 21 e 22 de março de 2019. Este é o maior evento sobre cidades inteligentes do mundo e tem como evento principal o promovido pela FIRA Barcelona. A edição de 2018 aconteceu entre os dias 13 e 15 de novembro.
Mas engana-se quem pensa que a proximidade entre a capital catalã e a paranaense é recente. Soluções históricas de urbanismo, como a elaboração de um precoce Plano Diretor, e iniciativas recentes do chamado urbanismo tático traduzem a identificação das cidades na caminhada para se transformarem em smart cities.
Na capital catalã, a região industrial do Poblenou se transformou com o projeto vanguardista 22@barcelona. Em Curitiba, o antigo bairro industrial Rebouças abriga a Agência Curitiba de Inovação, instalada dentro do Engenho da Inovação. Os velhos barracões industriais reúnem o poder público, empreendedores e técnicos na região que foi o berço do chamado Vale do Pinhão, ecossistema de inovação proposto pela atual administração de Rafael Greca.
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O termo “cidade inteligente”, vale lembrar, vai além dos aspectos tecnológicos, englobando soluções inovadoras e sustentáveis para resolver os problemas diários do convívio nas regiões urbanas.
Essa convergência auxiliou na realização da Smart City Expo em 2018. A iniciativa do iCities – empresa especializada em consultoria em ações inteligentes, que desde 2011 acompanha atentamente as experiências vividas por Barcelona – teve o apoio da Prefeitura Municipal de Curitiba e de dezenas de empresas e instituições.
Projetos 22@ e Vale do Pinhão
Levando em conta a dimensão humana, além de dez universidades e centros tecnológicos, o projeto 22@barcelona contemplou a construção de escolas primárias e de ensino médio para as crianças de Poblenou, com estímulo a talentos e empreendedorismo, contando ainda com um programa de digitalização de “pais analógicos” para que pudessem acompanhar suas crianças na revolução digital.
“As cidades só existem, só têm sentido, na perspectiva das pessoas. Se a cidade perde de vista as pessoas é impossível entender o fenômeno urbano. No 22@ isso está presente nas ruas, nas construções, nos espaços públicos, nos postos de trabalho. Todos os elementos somados funcionam bem”, relatou — com exclusividade para a HAUS durante a Smart City Barcelona — Joan Clos, ex-prefeito de Barcelona (1997-2006).
Conforme observa André Telles, cofundador e diretor de marketing do iCities, o plano de mobilidade do distrito privilegiou o transporte público e o uso de bicicletas. “Os carros, embora não fossem proibidos, foram desestimulados por conta da densidade da cidade. Para climatização, foi feito uso da água do mar, além de criadas galerias subterrâneas de serviços para evitar que nas expansões futuras, as vias precisassem ser reabertas”, aponta.
Em 15 anos de criação, o projeto integra oito mil empresas instaladas no distrito, com fluxo de 93 mil trabalhadores e um faturamento de 10 milhões de euros.
Entenda a implantação do 22@
Em Curitiba, a primeira região industrial localizada nos bairros Rebouças e Prado Velho acabou abandonada com a criação da CIC, a Cidade Industrial de Curitiba, nos anos 1970. De lá para cá, iniciativas públicas e privadas buscam “dar novo rosto” para os bairros.
“A sustentabilidade e a busca por soluções inovadoras estão em nosso DNA. É o que nos motiva a fomentar ambientes como o Vale do Pinhão e a aproximar ainda mais as relações com cidades parceiras e investidores estrangeiros em potencial”, pontua Telles.
Superquadras: urbanismo tático
Conceito que promove uma visão participativa de “faça você mesmo” de reestruturação urbana, em que aqueles que são mais afetados por uma questão se mobilizam ativamente para enfrentá-la, o urbanismo tático costuma ser apresentado como uma forma de “reapropriação do espaço urbano” por seus usuários. E vem ganhando força nas grandes metrópoles pelo mundo.
Nesse sentido, as superquadras (super blocks) de Barcelona são consideradas exemplo de urbanismo tático. Segundo o urbanista André Turbay, professor de Arquitetura e Urbanismo da PUC-PR, a região do Rebouças e do Prado Velho tem potencial quando o assunto é urbanismo tático posto em prática. “Temos várias fábricas desativadas e espaços que podem ser utilizados como coworking para startups e ações culturais, por exemplo. Por outro lado, a organização social dos moradores da vizinhança precisa ser estimulada, no sentido de tomarem a frente dessas iniciativas”, destaca.
Pioneirismo curitibano
Dentre as ações urbanísticas implantadas por Curitiba ao longo das últimas décadas, o Calçadão da Rua XV de Novembro foi pioneiro do Brasil ao interromper o fluxo de veículos na região central da cidade, em plena década de 1970, no governo do prefeito Jaime Lerner. Trinta anos antes, porém, o traçado da antiga Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais já havia sido remodelado a partir do Plano Agache.
Curitiba é lembrada ainda como cidade modelo em dois aspectos: o transporte público, com vias exclusivas para ônibus (canaletas) e estações-tubo, e a consolidada cultura de limpeza urbana e reciclagem do “lixo que não é lixo”, desde os anos 1990.
A inspiração em Barcelona é uma das constantes para o poder público e a iniciativa privada curitibanas, como atesta a comitiva de 50 representantes do poder público, empresários e executivos de 14 cidades do Brasil que viajou para Barcelona durante a Smart City Expo a fim de se aprofundar no tema cidades inteligentes .
A missão é promovida pelas empresas iCities e Global Business. “Em 2014 havia apenas cinco pessoas na comitiva, hoje estamos em 50 e para ano que vem planejamos ter mais de 300 brasileiros na programação que inclui o Smart City World Congress”, comenta Roberto Marcelino, cofundador e diretor de novos negócios do iCities.
* com informações de Milena Seabra, diretora corporativa do GRPCOM, que compõem a comitiva brasileira que participa do Smart City World Congress.
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