Urbanismo

Ao entregar projeto inovador para SP, Lerner provoca: “Curitiba pode retomar todas as conquistas que já teve”

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
02/10/2017 21:30
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Mobilidade urbana, atenção ao pedestre e integração entre as regiões centrais da cidade. Características que contribuíram para fazer de Curitiba exemplo de inovação urbana mundo afora e que marcaram as três gestões do ex-prefeito Jaime Lerner, em breve estarão presentes também em São Paulo.
A prefeitura da capital paulista apresentou, na última terça-feira (26), o projeto de requalificação da região central da cidade, que tem como autor o arquiteto e urbanista curitibano. A intenção de Lerner de revitalizar o centro de São Paulohavia sido noticiada, em maio, por HAUS, mas agora ganha forma com o projeto batizado de “Centro Novo”.
26/09/2017- São Paulo - O prefeito João Doria e o urbanista Jaime Lerner falam com a imprensa sobre o projeto de revitalização do centro da cidade, na sede da prefeitura<br>Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
26/09/2017- São Paulo - O prefeito João Doria e o urbanista Jaime Lerner falam com a imprensa sobre o projeto de revitalização do centro da cidade, na sede da prefeitura<br>Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
A mesma filosofia que tornou Curitiba conhecida no mundo agora será implementada na capital paulista
“O prefeito [João Doria, do PSDB] sinalizou que vai levar adiante as propostas. São várias mudanças que propusemos para se repensar o centro de São Paulo e revelar o incrível repositório de potencialidades que estão latentes no coração da maior metrópole do hemisfério sul”, conta Lerner em entrevista exclusiva para HAUS.

Mobilidade

Entre as propostas está a implantação da linha Circular Centro. Funcionando nos moldes da existente em Curitiba, a linha paulistana deverá conectar os equipamentos culturais, monumentos históricos, espaços de lazer, comércio e serviços e as infraestruturas de transporte do centro de São Paulo.
O transporte dos passageiros será feito por meio de Veículos Leves Sobre Pneus (VLPs) movidos a energia elétrica, cujo desenho lembra o de uma estação-tubo, com estrutura translúcida e encosto na cor vermelha. Doria prevê que o sistema esteja em funcionamento até 2020.
“Ele não tem relação com a estação-tubo. Até porque a ideia é a de que o Circular [Centro] tenha embarque e desembarque muito rápidos [no nível da calçada] e seja um veículo amigo do pedestre”, garante Lerner. O VLP terá sistema de cobrança de tarifa exclusivamente via celular.
O ex-prefeito de Curitiba acrescenta, no entanto, que sua experiência frente à revolução urbana que realizou em Curitiba – assim como os projetos que desenvolveu em outras cidades do mundo – serviu de inspiração e de base para o projeto do “Centro Novo”.
“Curitiba se transformou em referência para todas as cidades do mundo. E é claro que esta experiência contribui no sentido de dar legitimidade às transformações que precisam acontecer em São Paulo. A filosofia é a mesma, mas São Paulo é um centro maior, multicultural”, explica. Por isso, segundo Lerner, o projeto tem a intenção de promover a mistura de usos, a diversidade e a coexistência na região central da capital paulista, priorizando a ampliação das oportunidades de moradia para todas as faixas de renda e diferentes perfis familiares no local.

Outras ações

A criação de boulevares, que compreendem a requalificação dos espaços públicos ao longo das principais vias do centro de São Paulo, também está entre as propostas contempladas pelo projeto do “Centro Novo”. Ela prevê a instalação de passeios, iluminação, arborização e mobiliário urbano como forma de valorizar o comércio e os espaços de estar, além de incentivar a circulação dos pedestres. “Esse privilégio ao pedestre já está acontecendo em muitas cidades”, lembra Lerner.
A valorização da arquitetura também não foi esquecida e receberá destaque dentro do plano de requalificação da capital paulista por meio de “projetos icônicos”. Ou seja, a intenção é incentivar a construção de edifícios simbólicos que criem novas referências verticais na paisagem dos quatros maiores nós de mobilidade do centro: Princesa Isabel, Luz, Bandeira e Dom Pedro II.
Doria chegou a dizer durante a coletiva de imprensa para a apresentação do projeto de requalificação que “é inacreditável que a terceira maior capital do mundo e sétima maior cidade do planeta não tenha edifícios icônicos”. “Tem a ponte estaiada [ponte Octavio Frias de Oliveira] e o Masp [Museu de Arte de São Paulo], um projeto da década de 1950, da Lina Bo Bardi, e ficamos aí”, acrescentou.
A ideia é a de que estes novos edifícios favoreçam não apenas a orientação, mas também proporcionem conforto psicológico e o sentido de pertencimento a quem circula, mora ou trabalha no centro.
A secretária de Urbanismo e Licenciamento da prefeitura de São Paulo, Heloisa Proença, lembra que boa parte das propostas apresentadas no projeto do “Centro Novo” depende de alterações da legislação vigente, principalmente em relação ao zoneamento do centro da capital paulista.
Lerner, por sua vez, vê no prazo de execução – estimado em oito anos por Doria – um dos principais desafios desta requalificação. Para ele, este projeto precisa ser realizado de maneira rápida, como forma de se evitar burocracias.
“Isso está sendo analisado pela equipe do prefeito. Eles é que vão definir o cronograma e a ordem das intervenções. Eu acredito que dá para fazer em quatro anos, que é o meu desejo. Vejo em São Paulo vontade política no sentido de fazer as coisas. Então, devemos ver algo acontecendo em um curto prazo”, prevê Lerner.
Esta mesma vontade, na opinião do ex-prefeito de Curitiba, não é observada na capital paranaense na última década. “Curitiba ainda é uma grande cidade e ela pode retomar facilmente todas as conquistas que já teve. Não é difícil. Falta um comprometimento em fazer, em começar, em continuar inovando sempre. Conheço os profissionais da equipe da prefeitura e sei que eles são capazes de fazer isso”, afirma.

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