Não há dúvidas de que participar de um workshop de imersão com Humberto Campana durante dois dias é um sonho que extrapola a área do design. E foi essa experiência que a Ôda Design Club, junto do Instituto Campana e com produção de Consuelo Cornelsen, proporcionou a onze profissionais curitibanos nos dias 7 e 8 de agosto.

Mais do que apenas proporcionar tardes de trabalho com um dos maiores nomes do design brasileiro, a proposta do projeto foi enaltecer o artesanato com fibra natural e vime a partir da história da Família Túlio — clã residente no bairro curitibano de Santa Felicidade que, através da sua fábrica, passa a arte do trabalho manual de geração em geração.

A edição, batizada de Resgate do Vime, integra o projeto social “Mãos em ação”, idealizado pelos três produtores. Os participantes foram escolhidos a dedo por representarem uma nova geração do design curitibano, de forma a unirem esse olhar com a herança histórica da arte dos Túlio. “A gente fez uma escolha baseada em um grupo que iria fluir bem com a proposta, facilitando essa atmosfera mais tranquila e informal que o projeto pedia”, conta Ticiana Martinez da Ôda Design Club.

Durante os dois dias, os profissionais puderam experimentar e descobrir, na prática, o potencial que os materiais poderiam oferecer. “O Humberto tem uma técnica totalmente intuitiva, uma proposta de que as pessoas experimentem de forma bem intuitiva. O propósito foi atendido no sentido de que tocou o coração desses meninos a respeito da beleza e qualidade desse material”, destaca Ticiana.

Ana Penso foi uma das designers convidadas a participar do projeto e, para ela, a atmosfera de total liberdade e de imersão na criatividade deu o tom da oficina. “Dois dias com Humberto Campana? Foi um presente gigante”, comenta. Ela conta que, no primeiro dia, foram apresentados os materiais e a fábrica, além do primeiro contato com as matérias-primas. Lá, eles aprenderam a filetar, cortar, fazer uma fita, dar nó e finalizar o material. Já no segundo, o foco foi o fluxo de trabalho. Ao fim do workshop, todos os profissionais tinham desenvolvido ao menos uma peça, essas integrarão uma exposição em um segundo momento do projeto.

“O Humberto deixou a gente muito livre. Ele tem um jeito dele, bem introspectivo, ligado à emoção, delicado”, lembra Ana. Para ela, foram três os principais resultados da iniciativa: a experiência e os ensinamentos do irmão Campana, a atmosfera positiva do trabalho em grupo e o privilégio de conhecer a história da família e a poética do vime.

O designer Henning Kunow, de origem alemã mas residente em Curitiba, celebrou poder participar da oportunidade. “Eu conheci os Irmãos Campana quando ainda estava na faculdade. Eles inspiraram meu trabalho já na Alemanha, e eu nunca imaginava que ia estar junto com Humberto em uma fábrica em Curitiba”, conta. Para ele, o espaço da fábrica e o espírito de colaboração entre os profissionais também ajudaram a inspirar o trabalho. “Normalmente, no design, você segue o briefing. Lá você estava direito com a mão na massa, sentindo o que se podia fazer com os objetos dali — o cérebro se desligava“.

Além dos dois designers, participaram da oficina Alberth Diego, Aline Volpato, Leandro Garcia, Ana Zimmermann, Bernadete Brandão, Daniel Ferrarezi, Diego Sebastian, Eduardo Bragança, Fabio Tulio, Leonardo Sokolovicz, Maurício Noronha, Rodrigo Brenner e Rômulo Lass.

A parceria dos Campana, de Martinez e de Cornelsen já vem de muito tempo. Em abril deste ano, quando os irmãos vieram a Curitiba lançar na Ôda Design Club as primeiras peças do Mãos em Ação, a ideia da imersão com o vime começou a se concretizar. “[O Humberto Campana] manifestou a vontade de trabalhar com vime e fibras naturais e sabia que Curitiba tinha o legado dos italianos e essa história do artesanato na cidade. Então fomos atrás de uma história vinda de imigrantes e chegamos até a família Tulio”, explica Ticiana.

Para Cornelsen, o objetivo da iniciativa é o resgate da brasilidade, trabalho que os Irmãos Campana têm desenvolvido em sua obra. “Nosso objetivo é o despertar da consciência, do pertencer a alguma coisa, de ser plural, de ser coletivo e ver o potencial das coisas simples, de ser humano e saber dividir e multiplicar. Utilizar coisas perenes e aprender a respeitar o planeta, ser um por todos e todos por um”, declara.

Ticiana afirma que o Mãos em Ação ainda reserva muito para o futuro. “Esse é só o primeiro desdobramento. Existirão outros projetos, e essa parceria é um desejo tanto da Oda quanto do Instituito para a longevidade”.