Retrospectiva

Arquitetura

Qual o legado de 2021 para a arquitetura e o design?

HAUS
28/12/2021 14:32
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Vacinação. Superação. Reabertura. Depois de muitos desafios e de uma certa paralisia causada pelo desconhecimento, 2021 se mostrou ainda difícil, mas já apontando caminhos que levaram a um cenário de mais flexibilidade, saúde e de muito trabalho. Como resultado, foram muitas as conquistas alcançadas pelos profissionais da arquitetura e do design neste ano, assim como representativos os eventos que permitiram o reencontro após tantos meses de isolamento. Uma verdadeira celebração.
Mas, como nem tudo são flores, não passamos ilesos a perdas e despedidas, que foram muitas e levaram nomes que serão para sempre reverenciados na história de Curitiba e do Brasil. HAUS listou sete fatos que se destacaram nos segmentos da arquitetura e do design local, nacional e internacional como forma de relembrarmos este ano e desejarmos o melhor para 2022. Confira!

Relevância

SESC Pompéia é o único edifício brasileiro entre as 25 obras mais significativas da arquitetura no pós-guerra.
SESC Pompéia é o único edifício brasileiro entre as 25 obras mais significativas da arquitetura no pós-guerra.
Um dos centros culturais que tem em sua arquitetura uma atração à parte, o SESC Pompéia integra a seleta lista e é o único representante brasileiro entre as 25 obras mais significativas da arquitetura no pós-guerra. O levantamento foi realizado e publicado pelo jornal “The New York Times” e coloca a obra de Lina Bo Bardi entre os edifícios mais importantes construídos após a 2ª Guerra Mundial. O reconhecimento acontece no ano em que Lina foi celebrada com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pelo conjunto de sua obra e teve sua segunda biografia publicada pela editora Todavia, com autoria do crítico e ensaísta Francesco Perrotta-Bosch.

Reconhecimento

A adega Cacho, por Choque Design para a Móveis James, foi premiada na categoria máxima do iF Gold Award.
A adega Cacho, por Choque Design para a Móveis James, foi premiada na categoria máxima do iF Gold Award.
Não é exagero dizer que 2021 foi o ano dos brasileiros. Afinal, não apenas nossos nomes estelares, como Lina Bo Bardi, foram celebrados internacionalmente, como também os jovens profissionais tiveram seus projetos e talento reconhecidos em diversas premiações pelos quatro cantos do globo. Só no iF Design, tido como o Oscar do design mundial, foram 22 prêmios conquistados, com destaque para o iF Gold Award (categoria máxima) concedido para a adega Cacho, por Choque Design para a Móveis James.
O escritório Giuliano Marchiorato Arquitetos, de Curitiba, conquistou seu 11º prêmio internacional em pouco mais de quatro anos de existência ao ser eleito pela New World Report como o estúdio de arquitetura e design mais inovador do Sul do Brasil. A plataforma de negócios voltada às Américas reconhece as empresas mais inovadoras e com visão de futuro do continente, e destacou o escritório pelo conjunto de seus projetos.
Projeto da churrascaria OX Room Steakhouse, do Studio Guilherme Bez, foi premiadopelo International Design Awards.
Projeto da churrascaria OX Room Steakhouse, do Studio Guilherme Bez, foi premiadopelo International Design Awards.
Já o Studio Guilherme Bez, por sua vez, teve o projeto de design de interiores que assina para a churrascaria OX Room Steakhouse eleito como a melhor decoração do setor pelo International Design Awards (IDA), prêmio que reconhece novos talentos de design e arquitetura.

Despedidas

2021 foi um ano de muitas despedidas. Em meio ao cenário ainda pandêmico, tivemos que celebrar a vida e passar a conviver com a saudade deixada por alguns dos gênios da arquitetura e do design que partiram deixando um legado imensurável para trás, e que irá reverberar por décadas.
Jaime Lerner deixou história na revolução urbana.
Jaime Lerner deixou história na revolução urbana.
Um dos principais deles, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, partiu em maio, aos 83 anos, deixando na história uma revolução urbana, parques notáveis e soluções por vezes simples, mas de grande impacto na vida da cidade (as “acupunturas urbanas”, como ele chamava), que fizeram dela exemplo copiado e admirado mundo afora. Junto dele, partiram também nomes que compunham sua equipe e que têm uma produção tão representativa quanto, como Manoel Coelho. Falecido em março, o arquiteto é um dos ícones da produção arquitetônica curitibana e foi responsável pelas logomarcas e identidades visuais nas gestões Lerner, além da revitalização da Praça Osório, com a criação da Boca do Brilho.
Manoel Coelho foi ícone da produção arquitetônica curitibana.
Manoel Coelho foi ícone da produção arquitetônica curitibana.
Em maio, José Maria Gandolfi nos deixou vítima de câncer, aos 88 anos. Integrante do time de arquitetos paulistas que vieram para Curitiba à época da criação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná, Gandolfi é reconhecido por sua produção voltada aos concursos de arquitetura, como o edifício sede da Petrobrás, que leva sua assinatura.
José Maria Gandolfi assinou o projeto da sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro.
José Maria Gandolfi assinou o projeto da sede da Petrobrás, no Rio de Janeiro.
Um dos criadores da solução estrutural que dá forma inconfundível ao Museu Oscar Niemeyer (MON), o engenheiro Shido Ogura, professor da UFPR, faleceu em março, também vítima de câncer. Além do MON, ele participou de outros grandes projetos na cidade, como o edifício da Telepar, a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e o Clube Athlético Paranaense, para citar alguns.
Shido Ogura participou de grandes projetos arquitetônicos de Curitiba.
Shido Ogura participou de grandes projetos arquitetônicos de Curitiba.
Ainda em Curitiba, nos despedimos também do arquiteto José Luiz Desordi Lautert, que por 14 anos trabalhou no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Paraná, sendo três destes como superintendente do órgão que ajuda a zelar pelo patrimônio.
José Luiz Desordi Lautert ajudou a zelar pelo patrimônio da cidade.
José Luiz Desordi Lautert ajudou a zelar pelo patrimônio da cidade.

Uma nação órfã

O dia 23 de maio foi de luto para o Brasil. Foi nesta data que faleceu, aos 92 anos, Paulo Mendes da Rocha, um dos nomes mais emblemáticos e reverenciados da arquitetura brasileira e ganhador do Pritzker, o Oscar da arquitetura mundial, ao lado do também inesquecível Oscar Niemeyer. Assim como o pai de Brasília, Paulo fez do concreto armado sua matéria-prima e era um amante da cidade, que tinha como “a riqueza do homem”, como confidenciou em entrevista à HAUS, em 2018.

Adeus ao pai dos "redondinhos"

No fim de novembro, foi a vez de nos despedirmos do arquiteto e designer Ruy Ohtake. Filho da artista plástica nipo-brasileira Tomie Ohtake, Ruy faleceu vítima de câncer, aos 83 anos, deixando uma produção marcante que uniu as duas principais escolas da arquitetura brasileira: a carioca e a paulista. Entre suas principais obras estão o Hotel Unique, localizado na capital paulista, cuja forma lembra um navio, e os prédios “redondinhos”, como ficaram conhecidos os edifícios cilíndricos do conjunto habitacional de Heliópolis. No design, ao qual se dedicou nos anos mais recentes, foi reconhecido na categoria máxima do Red Dot Award, em 2019, um dos prêmios mais prestigiados do setor, com a coleção de cubas que assinou para a Roca. Assim como Paulo Mendes da Rocha, Ohtake defendia cidades “mais democráticas” e uma “arquitetura feita para o povo”.

Mais do que um salão

Em setembro, o mundo celebrou a volta do design aos holofotes com a realização de uma edição especial da Semana de Design de Milão. E este “especial” tem diferentes significados: marcou a retomada do principal evento do setor após um hiato de cerca de um ano e meio; trouxe discussões importantes sobre a necessidade (ou não) de se lançar tantos novos produtos todos os anos; celebrou peças-ícones e seus criadores; e trouxe uma edição completamente inovadora, seja pelo tamanho, forma de exibição das peças e sustentabilidade das instalações. Foi, realmente, um Supersalone.
Junto dele aconteceu, também, o Fuorisalone. Tradicional mostra paralela que exalta a criatividade dos designers, das marcas e apresenta instalações inspiradoras, além de promover encontros pelos charmosos e encantadores distritos de Milão. E. pela segunda vez consecutiva, HAUS foi media partner do evento.

Recorde

Mais de 80 projetos e de 73 escritórios participantes fizeram do Anuário HAUS 2021 o maior desde sua primeira edição, em 2015. Com uma diversidade de estilo e de linguagem, os trabalhos inspiram e trazem soluções apresentadas por profissionais reconhecidos no mercado, que contribuem para consolidar a publicação como a mais relevante do setor de arquitetura, decoração e design de interiores do país. Esse ano, o Anuário teve conceito de capa inédito, realizado em parceria com a Inove Design. O evento de lançamento, que aconteceu no showroom da Michelangelo Mármores do Brasil, trouxe apresentações artísticas e reuniu profissionais, fornecedores e parceiros. A celebração teve dois momentos distintos, como forma de garantir a segurança de todos ao mesmo tempo em que marcava a retomada dos eventos do setor.

Copan

Uma cidade inteira vive dentro de um dos prédios mais icônicos da cidade de São Paulo, para não dizer do Brasil. E abrigar seus cerca de 5 mil habitantes demanda uma atenção especial à estrutura projetada por ninguém menos que Oscar Niemeyer. Por isso, depois de cerca de dez anos de negociação, o projeto para as obras de restauração do Copan foi parcialmente aprovado pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) e pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp). O início das obras, entretanto, ainda não tem previsão, mas deverá focar especialmente na fachada do edifício, que completa 70 anos em 2022.

Mais areia

Enquanto as obras do Copan não saem, uma que também era discutida há décadas está em fase de finalização e tem dado o que falar. Trata-se do alargamento da faixa de areia de Balneário Camboriú, em Santa Catarina, que ampliou dos antigos 25 metros para cerca de 70 metros a área destinada ao uso dos banhistas. Além das discussões envolvendo os temas ambientais e da aparição de tubarões na praia, outra curiosidade sobre o projeto foi a transmissão, em tempo real, das obras pela prefeitura do município.