Arquitetura

Abandonado, coreto polêmico de Curitiba imita antigos castelos feudais

Vivian Faria*
08/07/2019 11:58
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Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Quem vai do Bom Retiro às Mercês passando pela rua Dom Alberto Gonçalves encontra, na esquina com a rua Paulo Graeser Sobrinho, uma pequena praça com uma construção que se assemelha a um coreto em arquitetura japonesa. Sem sinalização e com aparência de abandono, o local passa quase despercebido – contudo, a praça foi a primeira homenagem de Curitiba a sua cidade-irmã japonesa Himeji, tendo sido batizada com o mesmo nome.
A Praça Himeji foi inaugurada de 20 de junho de 1988, pelo então prefeito Roberto Requião. A irmandade entre as cidades havia sido estabelecida pela lei nº 6.484 quatro anos antes, ainda no governo de Maurício Fruet, mas aquele foi o ano em que se comemorou os 80 anos da imigração japonesa ao Brasil, e a praça foi uma das muitas homenagens feitas na época aos japoneses que decidiram se estabelecer em terras brasileiras tantos anos antes.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
De acordo com a edição da Gazeta do Povo de 18 de junho de 1988, dia em que se comemora a imigração japonesa ao Brasil, as celebrações foram tamanhas que contaram até com a participação do príncipe japonês Fumihito. Ele chegou a passar pelo Paraná no dia seguinte, visitando Londrina em companhia do então presidente José Sarney, mas não estendeu a visita à capital.
Porém, dois dias depois, uma comitiva do governo de Hyogo, província japonesa que tem Himeji como capital, chegou a Curitiba para se reunir com o prefeito e o governador do estado, que na época era Alvaro Dias. Aqui, encontraram a praça recém-inaugurada, com o coreto, uma placa explicando a homenagem e um parquinho.
Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Fotos: Jonathan Campos/Gazeta do Povo
“Ao que parece, ela foi feita a toque de caixa porque haveria essa visita do pessoal de Himeji”, diz o ex-vereador e ex-presidente da Associação Nikkei de Curitiba, Rui Hara. Contudo, há poucos registros oficiais sobre a história do local, o que dificulta a confirmação dessa pressa.
Também não há muitas informações sobre o coreto que caracteriza a praça, o que impede que a real intenção do responsável pelo projeto seja conhecida. Contudo, conforme Hara, a construção se assemelha a castelos japoneses. “Se você olhar a imagem de um castelo japonês, você percebe que a parede de pedra e o telhado são no mesmo formato [que os do coreto]. Então, a ideia parece ter sido essa”, explica.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES

Divisão

O que se sabe é que, quando foi feita, a praça ficava no fim de uma rua sem saída – a própria Dom Alberto Gonçalves. Em 2001, a prefeitura decidiu executar uma diretriz de arruamento de 1977, abrindo a via para circulação de carros e dividindo o espaço: de um lado ficou o coreto; do outro, o parquinho.
Para Hara, a divisão fez com que a praça perdesse a vitalidade –  e começasse a passar despercebida, inclusive pelo poder público. O sistema de proposições legislativas da Câmara Municipal de Curitiba mostra um pouco disso: há ali diversos requerimentos feitos por vereadores em nome de moradores da região. Os pedidos são para manutenção, instalação de melhorias e policiamento.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
No primeiro registro, de março de 2000, feito pela então vereadora Nely Almeida, a justificativa para o pedido foi a insatisfação dos moradores com o estado de sujeira e conservação do local, que estava “se prestando a reunião de vândalos”, os quais assaltavam os moradores da região.
Assim, em 2006, quando era vereador, Rui Hara tentou transferir a praça de lugar. “Questionamos se havia possibilidade de nomear outro lugar Praça Himeji”, conta Hara. A ideia era que a praça ficasse ao lado do Horto Municipal, no Guabirotuba, já que havia muitos imigrantes japoneses vivendo naquele bairro, no Uberaba e no Jardim das Américas. Contudo, ela não vingou.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
Hoje, quem vai ao local encontra um coreto e brinquedos dando sinais de que precisam de atenção –  e não vê qualquer indicação da homenagem a Himeji e à imigração japonesa. De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, há manutenção a cada 20 dias, mas a última “intervenção mais pesada” foi há três anos. Em abril, a vereadora Dona Lourdes atendeu a pedidos de moradores do entorno e fez um requerimento de manutenção do local – o qual, conforme a prefeitura, será atendido com “revisão completa dos equipamentos” em julho.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES

Outras homenagens

A Praça Himeji não é a única homenagem à cidade japonesa em Curitiba. No Parque da Imigração Japonesa, no Uberaba, há o Espaço Himeji, inaugurado em 2014, que conta com um bloco de rochas da serra do mar e placas com o desenho do mapa mundi marcando a capital paranaense e a cidade-irmã japonesa.
Há ainda a Sala Himeji, no Memorial de Curitiba, no São Francisco. Inaugurada em 2017, a sala abriga a maquete do Castelo de Himeji, um Patrimônio da Humanidade da Unesco. A maquete foi doada a Curitiba em 1997 e exposta na Praça do Japão durante vinte anos.
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
PRAÇA HIMEJI NO BAIRRO MERCES
*Especial para a Gazeta do Povo.

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