Arquitetura
Conheça a história do primeiro prédio redondo de Curitiba
Em forma de cilindro perfeito, o Edifício Governador foi um marco na arquitetura curitibana dos anos 1970. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo | Carolina Werneck Bortolanza
“Aqui se trabalha uma nova forma que projeta Curitiba.” Foi assim que, no final dos anos 1960, o o primeiro prédio redondo do Brasil foi anunciado ao público. Com projeto de Adel Karam e pérgola do arquiteto Abrão Assad, a construção chamava a atenção por seu formato inusitado e seus apartamentos com fachada de 20 metros de comprimento.
Quem conta a história do edifício é o filho de Adel, Fernando Karam, que naquela época estava começando sua carreira na arquitetura. “Ele contava que, quando começou a desenhar, pegou uma tachinha e amarrou nela um barbante, porque não havia um compasso com o diâmetro necessário. Então ele desenhou a circunferência na mesa e foi bolando os apartamentos.” Por fim, o engenheiro civil não ficou satisfeito com as duas torres separadas e convidou Assad para projetar o coroamento do edifício. Uma pérgola foi, então, construída para criar unidade entre os dois volumes. Na base do edifício, um grande painel do artista Israel Pedrosa, autor do best seller “Da cor à cor inexistente”, completa o visual inusitado da obra.
A uma quadra do Passeio Público, o Governador foi inaugurado em uma época em que o crescimento vertical da cidade ainda engatinhava. Olhando para cima, a paisagem de Curitiba era dominada pelo céu. Também por isso a forma circular atraía os olhares de quem passava pela esquina da Rua 13 de maio com a Presidente Faria. Para Assad, o Governador apresenta uma característica marcante da época em que foi construído. “A solução arquitetônica para esses prédios era ter uma distinção entre a base e o corpo principal. Então ele tem um embasamento e, depois, se solta desse embasamento e assume sua própria forma pura.”
As plantas de cada andar são espelhadas, de modo que os compradores poderiam ter unidades quase personalizadas. David C. Briski, que é síndico do condomínio, afirma que, por esse motivo, “tem apartamentos com dois quartos e outros com seis”. Mesmo assim, comercializar as unidades foi um desafio. “Tinha um apartamento modelo para mostrar que era possível decorá-lo. Porque não se pode chegar com uma mesa que você herdou da sua avó, por exemplo, e colocar na sala. Vai ficar espremido. Então é preciso ter um pouco de criatividade”, explica Karam.
Uma história que Assad garante ser verdadeira ilustra o estranhamento causado pelo formato do Edifício Governador à época de seu lançamento. “Parece que um senhor foi comprar um apartamento nesse prédio e, quando viu que o apartamento tinha 140 m², duvidou. Perguntava ‘mas como podem ser metros quadrados se o prédio é redondo?’”, diverte-se. Para Karam, a obra é uma prova concreta de que seu pai era um engenheiro de vanguarda. “O que eu aprendi com ele é que a gente não deve ter medo de ousar. Tem que buscar o que esta sempre realmente adiante, porque o mundo já está cheio de mesmice.”
*Especial para a Gazeta