Arquitetura
Linha do tempo: como as sedes do Clube Curitibano participaram da urbanização da cidade

O painel de Poty Lazzarotto representando a prática de esportes fica na entrada da sede do Clube Curitibano inaugurada em 1968 e com muitas marcas do modernismo. Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo
Manter tradições nem sempre significa deixar para trás a inovação. O centenário espaço social, cultural e esportivo Clube Curitibano mostra essa máxima ao utilizar estilos arrojados para a época em construções da instituição. Um exemplo é a sede do Água Verde, inaugurada em 1968 e localizada na Rua Getúlio Vargas, com o nome oficial de Barão do Serro Azul, que marcou a última fase da era modernista na arquitetura brasileira, estilo muito usado até os anos 1950.

O projeto era dos jovens e premiados arquitetos Luiz Forte Netto, Roberto Gandolfi e Vicente de Castro. No complexo que ocupa quase uma quadra, reinam as estruturas em concreto armado aparente e o minimalismo, já que qualquer adorno mais rebuscado era considerado um pecado para os modernistas. “A estética era desafiadora para os arquitetos da época. Não era algo fácil criar formas e fazer essa modelagem em concreto com a tecnologia daquele tempo”, explica a diretora de arquitetura do Clube Curitibano, Silvana Laynes de Castro.

Um dos elementos mais marcantes é o edifício onde se localiza o maior salão do Clube, o Salão Azul. O prédio é circular com cobertura plissada de concreto. De acordo com Laynes de Castro, originalmente era possível observar essa característica mesmo na parte interna do salão. Porém, com mudanças estruturais ao longo do tempo foi instalado o forro de gesso em estilo bolo de noiva que restringe a visão da parte plissada apenas pelo lado de fora. O pé-direito mais baixo, outra marca do estilo modernista, o imenso lustre de cristal e o painel de Poty Lazzarotto representando a prática de esportes na entrada da sede fecham a decoração que exala história.
Antes disso

Outras sedes também foram importantes para a paisagem urbana de Curitiba. Em 1950, é inaugurado na esquina da Rua XV de Novembro com a Barão do Rio Branco o chamado Palácio Encantado, prédio que, com seus nove andares, inova na cidade por ser um dos mais altos na época e por ter seu próprio elevador, raridade para os anos 1950. “No local, eram realizados com toda a pompa festas e bailes, especialmente os de Carnaval, que saía das ruas para ganhar os salões”, conta a historiadora Carolina Damrat. Com linhas retas e cruas, o edifício também leva a assinatura do modernismo e abriga o Clube até 1968.

Mas nem só de modernismo é permeada a arquitetura das sedes. Além da primeira casa do Clube – alugada, o segundo andar de um já demolido sobrado na Rua São Francisco esquina com a atual Rua Barão do Serro Azul que abrigava, em seu andar térreo, a Defesa Fiscal – uma sede que ficava no mesmo terreno que o Palácio Encantado foi usado de 1922 a 1942. Projetada por Guilhermo Baeta de Faria, conhecido por edifícios-chave da cidade como o Prédio Histórico da UFPR, se destacava pelos salões que valorizavam a cultura local com incentivo artístico, como o Salão Paranista. Apesar de o prédio não existir mais, o estilo clássico das sedes do Curitibano ainda pode ser visto na esquina da Rua Monsenhor Celso com a XV de Novembro, onde funcionou a primeira sede do Clube, adquirida em 1891. O sobrado em tons pasteis hoje abriga uma loja de calçados.

O intuito de reunir os homens da elite curitibana para palestras, jogos e conversas sobre cultura, objetivo inicial da fundação do Clube, acabou coincidindo com o processo de desenvolvimento da cidade. O local de construção da sede do Água Verde, por exemplo era considerado muito afastado do Centro, e a construção nos anos 1960 ajudou novos empreendimentos a se instalarem nas proximidades. “Uma arquitetura que tenha valor de qualidade busca não apenas a inovação pela inovação, mas se adequar ao contexto real da localidade e acaba impactando não só sua redondeza, mas a cidade de uma maneira geral”, conclui a arquiteta Silvana Laynes de Castro.
