Estilo & Cultura

Objetos da Praça do Expedicionário são troféus de guerra recebidos em rendição de soldados nazistas

Marina Pilato*
23/07/2018 10:30
Thumbnail

Museu do Expedicionário, em Curitiba guarda centenas de objeto que ajudam a contar como foi a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Fotos: Henry Milléo / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Paira sobre a região central de Curitiba um avião de guerra de mais de dez toneladas. Suspenso sobre a Praça do Expedicionário, o artefato é um histórico P-47 Thunderbolt, utilizado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, conflito no qual o Brasil atuou como aliado dos Estados Unidos. Apesar de ser o mais chamativo item do Museu do Expedicionário, o avião não é o único tesouro histórico guardado no local.
Arquitetura do prédio que abriga o museu tem formato de "E". Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
Arquitetura do prédio que abriga o museu tem formato de "E". Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
A maior parte das 25 mil peças contidas no museu são originais e foram utilizadas na Itália durante as batalhas com atuação do Brasil na guerra. Entre elas, estão o cockpit do avião que fica na praça, uniformes da época, uma mina naval, centrais telefônicas usadas para comunicação e objetos corriqueiros, como cigarros. A coleção de objetos alemães inclui braçadeiras, bandeiras nazistas e armas desativadas – como a metralhadora alemã de alta tecnologia para a época, mas que era chamada pelos pracinhas brasileiros de “lurdinha”. Material bibliográfico e diários também fazem parte do acerto.
Documentos e fotos históricas fazem parte do acervo. Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
Documentos e fotos históricas fazem parte do acervo. Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
“Quase no final da guerra, a Divisão de Infantaria Expedicionária brasileira recebeu a rendição de uma divisão alemã. Quando isso acontece, o material é entregue ao vencedor como fruto da rendição. Muitas peças que estão aqui são como se fossem troféus de guerra”, conta o diretor do Museu, o Coronel da Reserva Said Zendim. É o caso do canhão alemão e do veículo blindado que ficam na parte externa.
Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
Foto: Henry Milléo / Gazeta do Povo
Desde o final do ano passado, com o processo de transição da administração do museu da Legião Paranaense de Expedicionários (LPE) para as Forças Armadas – apoiadas pelo Governo do Estado e instituições privadas – o espaço passa por revitalização que deve ser concluída nos próximos seis meses. O intuito é tanto melhorar a parte estrutural quanto aumentar a comunicação visual do local, com explicações sobre o contexto de cada peça. Junto a um pneu do avião P-47, por exemplo, haverá uma placa explicativa sobre os chamados soldados da borracha, brasileiros que extraíam o material na Amazônia para produção de pneus de uso militar entre 1943 e 1945.
“Quando o visitante vê objetos que realmente estiveram nos locais de batalha e entende o contexto, aquela história é humanizada. E isso propicia a preservação e a divulgação daquela história”, afirma a museóloga e aspirante do Exército, Anna Juliace. Ela também explica que, por necessidade de conservação das peças em longo prazo, alguns dos uniformes originais são exibidos em esquema de revezamento com réplicas.
Museu do Expedicionario, em Curitiba
Museu do Expedicionario, em Curitiba

Sobre o prédio

Chamada de Casa do Expedicionário, o prédio do museu foi construído em 1951 pela Legião Paranaense de Expedicionários com objetivos essencialmente assistenciais, de apoio aos pracinhas que participaram das batalhas na Itália e suas famílias. Vindos do interior, muitos precisavam de local para se hospedar em Curitiba durante atendimentos médicos necessários no pós-guerra, e encontravam isso na Casa. Originalmente, o prédio em formato de letra “E”, de Expedicionário, era formado por alojamentos e por um auditório, que permanece em utilização.
Com o tempo, a Legião reuniu material de acervo histórico, contando com doações das Forças Armadas, estrangeiros e ex-combatentes, até colocar em funcionamento o Museu, em 1979. Apesar da transição da diretoria do museu para as Forças Armadas, a Legião ainda é sediada na Casa. Hoje, o local recebe cerca de 2.500 visitantes por mês.

LEIA TAMBÉM

Especial para a Gazeta do Povo

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!