Ícone e maior nome do design contemporâneo brasileiro, o Estúdio Campana celebra 40 anos no segundo semestre de 2024, mas quem receberá o presente será o Brasil, mais especificamente, a cidade de Curitiba, capital do Paraná.

Ele será nada menos do que a primeira instalação artística pública assinada por Humberto Campana, e estará localizada em frente ao edifício Amira, recém-lançado pela incorporadora MDGP + Aurora Centennial, no bairro Cabral.

"Eu gosto muito de Curitiba, porque é uma cidade que é exemplo. É clichê falar isso, mas eu ando pela cidade e obervo o cuidado que as pessoas têm [com ela], fico feliz em não ver lixo. [...] A instalação vai estar do lado de fora [do empreendimento], e isso é uma honra para mim. Agradeço muito, pois é a primeira vez que alguém me dá o projeto de uma instalação, de uma escultura. E é um sonho antigo esse, o de ser escultor", enfatizou Campana em conversa rápida com a imprensa durante o evento realizado neste sábado (4) no Campo das Artes, em São Luís do Purunã, na Região Metropolitana de Curitiba, para apresentação do conceito da instalação e do Amira. "Curitiba é uma cidade que gosta da gente. Eu tenho obras na Europa mas, no Brasil, a [primeira] obra pública será aqui", emendou.

A escultura está em fase de desenvolvimento e será entregue à cidade juntamente com a conclusão do empreendimento, prevista para cerca de dois anos. Até lá, o que o designer já adiantou é que se trata de uma instalação suspensa, executada com cinco pedras - sendo que a mais leve pesa 800 Kg - selecionadas por ele mesmo na região próxima ao Rio São João, na divisa entre os estados do Paraná e Santa Catarina, que estarão "levitando" e conectadas por uma estrututa em metal.

"Essa escultura nasceu de uma reflexão sobre a leveza das coisas, a insustentável leveza da alma. [...] Primeiro veio o desenho, com essa ideia de tornar as pedras 'leves'. A escultura irá se adaptar à pedra. Escolhi algumas pontiagudas, outras mais [roliças, que serão] conectadas com metal, mas ficarão suspensas. São pedras roladas de rio, eu não queria uma coisa extraída. [...] Elas são lindas, com a marca da existência, do tempo delas", adianta Humberto Campana sobre a instalação artística.

Ao celebrar os 40 anos de Estúdio Campana em 2024, Humberto Campana tem muito a recordar de sua trajetória, quase (ou toda ela, como fez questão de lembrar) construída ao lado do irmão Fernando, morto em 2022. "O Fernando está junto o tempo inteiro, eu acredito, eu sinto ele", disse entre os muitos momentos de emoção vivenciados durante suas falas no evento, no qual relembrou projetos emblemáticos e comentou sobre outros que estão por vir.

Entre eles, a inauguração do Parque Campana, em construção em Brotas (SP), cidade natal dos Irmãos Campana, com previsão de abertura em 29 de junho próximo, data da celebração dos 40 anos do estúdio. Além dela, a exposição "Impermanência", que será exibida no Power Station of Art, em Xangai (China), também está sendo montada, com curadora de Marco Sammicheli, da Triennale Milano, e da direção do museu, e cenografia pelo próprio Humberto Campana.

"Eu morro de medo de envelhecer criativamente. Adoro sair da zona de conforto. Sou devoto ao que faço com muito respeito à minha trajetória. Eu poderia ester muito rico, mas não quero. Quero estar rico criativamente, fazer, trazer coisas boas para o outro. Esse momento que vivemos é de compartilhar, não de polarizar. Compartilhar beleza, que é a única coisa que eu sei fazer. [...] Quando faço uma peça, coloco uma alma boa dentro dela, para contaminar aquele que a observa, que usa aquilo, com alegria, com afeto. [...] O mundo precisa disso: de afeto e de beleza", aponta Campana, que completa: "Acho que estou no melhor momento da minha vida criativamente [falando], pois crio coisas que me surpreendem. Pode ser pretensioso, mas que legal a vida estar me dando esse presente", finaliza.