Arte contemporânea

Jonas Rabinovitch

Na coluna 'No Planeta das Cidades', Jonas Rabinovitch reflete sobre o que aprendeu convivendo com o pior e o melhor da arquitetura, do urbanismo e das artes pelo mundo afora. Arquiteto urbanista, trabalhou por 30 anos em Nova York como Conselheiro Sênior da ONU para inovação e gestão pública e foi convidado para atuar em mais de 80 países. Antes disso, foi assessor de Jaime Lerner no planejamento de Curitiba (PR).

No Planeta das Cidades

O preço de tudo

26/01/2024 16:26
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Artefatos culturais são geralmente avaliados pelo seu preço. Quadros, esculturas e objetos de arte têm um valor que tenta refletir sua beleza e raridade.
É claro que beleza é subjetiva. Você já comprou algum tapete no grande bazar de Teerã? O vendedor não olha para os tapetes. Ele olha atentamente para os seus olhos. Ele sabe quando os olhos do cliente se iluminam quando vê algo de que gosta; ele sabe qual tapete é o mais caro para cada cliente. Em Cabul, os vendedores colocam os tapetes na rua para serem atropelados pelos carros e depois vendidos como antiguidades.
O mercado de arte é um pouco mais complicado. Em 1917, o artista francês Marcel Duchamp exibiu um mictório na exposição da Associação dos Artistas Independentes de Nova York. A obra foi rejeitada, mas acendeu um debate sobre o valor e o significado da arte que dura até hoje. Muitas polêmicas depois, o mictório original, batizado de “A Fonte”, se perdeu. Uma das 17 cópias autorizadas foi recentemente avaliada em 3,6 milhões de dólares. O debochado Duchamp quis desafiar os critérios para se definir “arte” e conseguiu.
Hoje, “arte” é o que cada um acha que a arte é. Andy Warhol definiu arte em uma frase difícil de traduzir: “Art is what you can get away with”. Algo como: “Arte é tudo que você puder apresentar e sair impune”.
Em 2019, o artista italiano Maurizio Cattelan expôs na Art Basel, em Miami, uma obra de arte chamada “Comediante”: uma banana madura colada na parede por um pedaço de fita adesiva.  Ele saiu impune vendendo a “obra” por 120 mil dólares. Ou seja, ele não vendeu uma banana, mas um conceito. O artista David Datuna adicionou significado ao trabalho e conseguiu fama: foi lá e comeu a banana.  Ele chamou sua performance de “Artista Faminto”.
Enquanto existirem compradores, a arte conceitual vai viver impune – e garantir emprego para artistas, colecionadores, galerias, museus, investidores, marchands, autores, mídia e agregados.
A obra de arte mais cara jamais vendida no planeta foi o último quadro conhecido de Leonardo da Vinci, “O Salvador do Mundo”, leiloado pela Christie 's, em 2017, por 450 milhões de dólares. Nesse caso, o comprador não adquiriu apenas uma tela, mas um pedaço eloquente da história do Renascimento, pintado por volta de 1500.
Em 2018, o cineasta Nathaniel Kahn lançou no auditório do Museu de Arte Moderna de Nova York o documentário “O Preço de Tudo”, mostrando como o trabalho de alguns artistas atrai lances multimilionários, enquanto outros passam despercebidos. Por exemplo, Jeff Koons é o artista vivo de maior sucesso comercial no momento. Koons produz cachorrinhos metálicos coloridos em forma de balões, feitos por um exército de empregados em uma linha de montagem. Koons vendeu por 60 milhões de dólares uma enorme escultura de um cachorrinho balão com mais de 3 metros de altura. Ele também vende pequenas esculturas dos mesmos cachorrinhos por cerca de 10 mil dólares, mal colocando a mão em suas peças.
Eu estava no lançamento deste documentário e tive a ousadia de perguntar publicamente a Kahn se estaríamos vivendo uma grande bolha no mercado de arte, sustentada por especulações comerciais. É claro que, estando no maior templo de arte na capital do mundo, Kahn preferiu dizer que não há nenhuma “bolha”, mas reconheceu a fluidez na definição do valor de cada obra. Depois batemos um bom papo.
No fundo, a conclusão tem sido a mesma através dos séculos: qualquer objeto só vale aquilo que alguém quiser pagar.

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