Opinião
Jonas Rabinovitch
Na coluna 'No Planeta das Cidades', Jonas Rabinovitch reflete sobre o que aprendeu convivendo com o pior e o melhor da arquitetura, do urbanismo e das artes pelo mundo afora. Arquiteto urbanista, trabalhou por 30 anos em Nova York como Conselheiro Sênior da ONU para inovação e gestão pública e foi convidado para atuar em mais de 80 países. Antes disso, foi assessor de Jaime Lerner no planejamento de Curitiba (PR).
No Planeta das Cidades
Ajudando a resolver problemas no país mais bombardeado do mundo
Monges no Templo Pha That Luang | Arquivo pessoal
O Laos é um país pobre no Sudeste Asiático entre a Tailândia e o Vietnã, sem acesso ao mar, banhado pelo rio Mekong. A população é pequena, são 950 mil habitantes (metade de Curitiba) no país inteiro. Cerca de três quartos do país são montanhas íngremes e áreas de difícil acesso.
Durante a Guerra do Vietnã (1964-1975), mais de dois milhões de toneladas de engenhos explosivos foram lançados no Laos, tornando-o, per capita, o país mais bombardeado do mundo. Até hoje, cerca de 80 milhões de bombas e minas não detonadas ainda dificultam a circulação de pessoas e a agricultura. Mais de 20 mil inocentes já foram mortos ou mutilados por causa desses explosivos.
O Laos é um país comunista com um único partido político, o Partido Popular Revolucionário do Laos (LPRP). Um colega da ONU comentou que viu nas ruas da capital Vientiane mais carros Rolls Royce do que nas ruas de Genebra.
Em 2019, fui convidado para trabalhar no Laos lidando com outro tipo de desafio: oferta de serviços públicos. O governo propôs uma série de centros para prestação de serviços de forma simplificada e descentralizada, usando recursos digitais: carteira de habilitação, certidão de casamento, permissão para construções e reformas prediais, matrículas em escolas públicas etc. O mais importante seria a integração e a oferta de serviços nas áreas mais remotas do país.
Pela primeira vez na história do Laos, fizemos uma reunião virtual com todas as 17 províncias (estados), estabelecendo uma rede de contatos para unir as cidades e harmonizar o serviço público. Houve sucessos, mas alguns desafios persistem. O projeto para a estrutura básica dos centros de prestação de serviços foi aprovado e financiado. Mas, como sempre, a competição entre algumas autoridades e instituições dificultou o processo.
O Laos agrega todos os estereótipos de um país exótico: contrastes entre budismo e comunismo, mais de 50 etnias, riqueza e pobreza extremas, templos maravilhosos. Encontrei apenas um brasileiro, trabalhando no único restaurante brasileiro – o Samba –, em Vientiane.
Dizem que a diferença entre a má arquitetura e a boa arquitetura está nos detalhes. Um bom projeto de arquitetura deverá ser sempre executado conforme suas especificações. Mas quando trabalhamos com arquitetura social, o maior desafio é sempre o mesmo em qualquer lugar do mundo. O lugar pode ser lindo e exótico, mas a competitividade e o nanismo da natureza humana ainda são o maior obstáculo para o desenvolvimento de qualquer país.