Instituto Jaime Lerner

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Lentes positivas para pensar a cidade como solução pelo olhar do Instituto Jaime Lerner.

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O que é uma cidade boa?

03/11/2023 15:03
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Rua Dep. Heitor de Alencar Furtado, Curitiba. | Foto Luiz Hayakawa

Jaime Lerner dizia que uma cidade é boa quando ela é boa para seus habitantes. É a cidade que considera a universalidade do respeito à escala humana, que tem senso de justiça social, que dá dignidade e sustentabilidade à vida das pessoas por meio do trabalhar, do morar, do viver e do construir sua história. Pode-se dizer que Curitiba é um exemplo disso e que o planejamento urbano é o seu instrumento de transformação.
Jaime Lerner deixou todos os componentes para se identificar a tudo isso. A maior transformação de Curitiba foi o pensamento. Quando você muda uma ideia, os fenômenos ocorrem. Quando as pessoas entenderem o planejamento urbano dessa forma, tudo muda. Embora esse conceito seja simples, é bastante elaborado. Curitiba é fruto de um pensamento, uma ideia que se traduziu em proposta, que se transformou em projeto, que, por sua vez, se chamou planejamento urbano.
Costuma-se dizer que a maioria dos planos, projetos, programas, não só no campo do planejamento urbano, mas em qualquer outro, é composta de três partes: ideia, viabilidade e operacionalidade. Se uma dessas partes não se materializar, não adianta querer implantar, e se o for, estará fadado ao fracasso logo em seguida. O papel do planejamento urbano é permitir às cidades a possibilidade de ser eficiente, exercer sua centralidade, evidenciar forças econômicas e fortalecer relacionamentos culturais e sociais. A lógica do planejamento é se antecipar ao caos.
O último censo IBGE de 2022 está fomentando discussões entre técnicos urbanistas sobre como as cidades deverão se preparar para abrigar essa população urbana nos grandes centros. Pode-se elencar algumas normas básicas de planejamento em termos de ocupação urbana: primeiro, quando for intervir no território, intervir já para ter o equipamento da densidade máxima, para não ter que fazer de novo. Segundo, estimular que essa densidade, ou seja, essa ocupação, aconteça prioritariamente onde já há infraestrutura adequada. E terceiro, saber quando e onde os programas habitacionais irão ocorrer, para poder programar equipamentos de educação, saúde e transporte.
Curitiba implantou essa premissa como uma forma de organizar o desenvolvimento, a expansão da cidade associando, literalmente, o sistema viário, transporte de massa, uso do solo e meio ambiente na prática.
Um bom exemplo é a Rua Dep. Heitor Alencar Furtado, prolongamento da Rua Padre Anchieta, no Mossunguê. Era uma região de grandes glebas, propícia para ser edificada, e tinha-se que preservar o máximo possível do ambiente natural. O desenho e a forma de ocupação do espaço deveria ser diferente. O prefeito Jaime Lerner, na época, orientou pegar os mapas dos cartórios para ver o desenho dos loteamentos, de modo a você ter um mínimo de quantidade de desapropriação, e projetar a via de forma mais sinuosa, o que, inclusive, ficaria mais interessante.
De fato, estas ruas se consolidaram como um lindo projeto de paisagismo, com árvores formando um túnel verde tornando mais agradável o caminhar. Possuem muitas atividades de moradia, escritórios e comércio possibilitando o indivíduo passear a pé, resolver as demandas cotidianas e utilizar o comércio ao longo do eixo.
Quando um plano passa das pranchetas e vai para a implantação devem ser pesadas as condicionantes econômicas, políticas, operacionais e até mesmo a própria vivência, a característica da cidade. Esse é o papel do planejamento urbano. É mudar o comportamento, ampliar a visão de como usar os serviços, os parques, e se apropriar da cidade!