Urbanismo
Instituto Jaime Lerner
Lentes positivas para pensar a cidade como solução pelo olhar do Instituto Jaime Lerner.
Instituto Jaime Lerner
A Cidade Integrativa, uma introdução
A tartaruguinha Vita, personagem do livro Vizinho, parente por parte de rua, de Jaime Lerner, ilustra a metáfora da "cidade integrativa" - vida, trabalho, mobilidade, juntos. | Croqui do Arq. Fernando Canalli
Nas últimas décadas, emergiram muitos movimentos e correntes que almejam cidades melhores, agregando à cidade diversos qualificativos: sustentável, inteligente, ‘smart’, humana, inclusiva, resiliente, regenerativa, responsiva, criativa, relacional… Assim, surge o termo "cidade integrativa".
Todos têm em comum a nobre busca por uma ‘visão holística’ que outrora o ‘urbanismo integrado ou sistêmico’ em parte abraçava. Ao nos aprofundarmos nestes qualitativos vemos que cada qual apresenta suas respectivas ênfases - inovação, tecnologia, ecologia, mobilidade, solidariedade, participação social, inclusão… – como fatores de disseminação e de síntese de sua prática. Decorre deste repertório conceitual um amplo leque de variáveis que, por suas especificidades, acaba por vezes se segmentado em públicos restritos, cujas mensagens chegam com dificuldade aos principais atores de transformações – agentes públicos, mercado e sociedade civil como um todo.
Nesses tempos de tantas mudanças velozes e incertezas, buscar conceitos/ideias capazes de melhor inspirar a imaginação das pessoas, criar sinergias e fazer convergir os esforços da sociedade é tarefa necessária. Novas situações por vezes requerem novas palavras, novos olhares….
Jaime Lerner dizia ‘…uma cidade é importante demais para ser entregue a um especialista’. A mensagem não era, em absoluto, desmerecer as expertises e o conhecimento técnico-científico, mas destacar as transversalidades, construir pontes, unir o físico com o intangível. Com simplicidade, por vezes intuitiva, e agindo empiricamente, Lerner objetivava sempre um ‘múltiplo alcance’ para cada ‘acupuntura’, plano, projeto, programa ou intervenção urbana.
Neste espírito, e querendo contribuir para o debate de ideias, propomos a ‘Cidade Integrativa’, baseada na leitura do legado de Lerner, mas agora inversamente, a partir das práticas e realizações, que podem se desdobrar em grande espectro de conceitos que exploram o ‘fazer acontecer’ sob uma leitura ‘integrativa’.
Por que ‘integrativa’? Uma das características da pós-modernidade é a diluição de fronteiras rígidas entre áreas do conhecimento. A medicina, por exemplo, tem se notabilizado por uma abordagem mais aberta, e é dela que ‘emprestamos’ o termo integrativa. Em linhas muito breves, a medicina integrativa tem por premissa focar a saúde e a prevenção, não a doença; e o paciente em sua totalidade, não como um
somatório de partes. A saúde não é apenas um fato biológico, mas uma condição ampliada para aspectos emocionais, sociais, mentais e espirituais.
somatório de partes. A saúde não é apenas um fato biológico, mas uma condição ampliada para aspectos emocionais, sociais, mentais e espirituais.
O Jaime sempre colocava que ‘cidade não é problema, é solução.’ Mas essa cidade não é “qualquer” cidade. A ‘cidade integrativa’ coloca em evidência a primazia do espaço público, do encontro, da ‘mistura’, da vida e trabalho juntos, da escala humana, da mobilidade leve e coletiva, da identidade, da arte, do verde, do cuidado com o desenho, e outros tantos temas que esperamos abordar na sequência deste diálogo mensal, e que são conquistas reais e concretas da nossa Curitiba.
Autores: Arq. Paulo Kawahara e Arq. Ariadne Daher