Opinião

Jonas Rabinovitch

Jonas Rabinovitch

Na coluna 'No Planeta das Cidades', Jonas Rabinovitch reflete sobre o que aprendeu convivendo com o pior e o melhor da arquitetura, do urbanismo e das artes pelo mundo afora. Arquiteto urbanista, trabalhou por 30 anos em Nova York como Conselheiro Sênior da ONU para inovação e gestão pública e foi convidado para atuar em mais de 80 países. Antes disso, foi assessor de Jaime Lerner no planejamento de Curitiba (PR).

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Eleições: Nossas cidades terão jeito ou terão jeitinho?

27/09/2024 09:00
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Imagem: Habitality

Uma das revelações mais importantes do último censo de 2022 é que, entre os 5.570 municípios brasileiros, o crescimento relativo das cidades médias (entre 100 mil e 500 mil habitantes) superou o das cidades grandes.  Ou seja: as decisões sobre o que vai acontecer nas cidades médias do Brasil nos próximos anos definirão o futuro urbano do país.
Em visita recente a algumas dessas cidades, fiquei penalizado com a degradação ambiental.  Há um intenso processo de "favelização" e construção em encostas, corte de árvores e crescimento desordenado.  As enchentes, deslizamentos e mortes decorrentes das chuvas parecem ter virado rotina.  No país do “jeitinho”, burrices óbvias frequentemente escondem espertezas inconfessáveis. 
Ao mesmo tempo, há bons exemplos no Brasil e no exterior. O caso de Curitiba tornou-se referência mundial devido ao trabalho de bons prefeitos e de uma população consciente e participativa. Na Europa, a preservação de boa parte da orla costeira em Nazaré, a abundância de áreas verdes na periferia de Berlim, o cuidado na manutenção de prédios históricos em Sevilha e nas cidades medievais ao longo dos rios Mosela e Reno, na Alemanha, são bons exemplos. O Plano de Ordenamento da Orla Costeira de Portugal e os Planos Nacionais de Restauração Ambiental da União Europeia fazem parte da solução. A consciência e educação da população, elegendo representantes que se preocupam mais com o bem comum e menos com suas agendas pessoais, é outro fator importante.        

Após trabalhar com práticas de desenvolvimento por 40 anos em mais de 80 países, recebi uma boa explicação para tudo isso de um taxista mexicano.  Por pura curiosidade, atravessei a ponte que une San Diego (EUA) a Tijuana (México). Regredi 100 anos de desenvolvimento urbano em 100 metros. A teoria da relatividade urbanística se revelou na arquitetura de cada prédio, no espaço-tempo de cada esquina, na decadência visível da qualidade de vida. Perguntei como o taxista explicava tudo aquilo.  Ele resumiu com simplicidade: “Es la corrupción, señor”.
O Brasil tem jeito? Claro que sim. Temos bons prefeitos, planejadores urbanos, e técnicos.  Capacidade não é o problema.  Um verdadeiro líder político sabe que precisa de excelente apoio técnico para avaliar opções e tomar decisões.     
Temos até data para começar a melhorar tudo isso: o 1º turno das eleições será no dia 6 de outubro para escolha de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.  Para municípios com mais de 200.000 habitantes, o 2º turno será no dia 27 de outubro.
Cidades inteligentes começam com eleitores inteligentes. Os lugares que deram certo começaram assim.   
Jonas Rabinovitch