Design Filosófico
Pedro Franco
Na coluna 'Design Filosófico', o artista Pedro Franco se dedica a trazer suas reflexões, que mesclam estudos antropológicos e iconográficos, análises filosóficas, estudo de inclinações da sociedade, além — é claro — de aspectos estéticos e formais. Tudo baseado na premissa de que o bom design é feito para pessoas.
Design Filosofico
Tempo e propósito
Na coluna deste mês, quero abordar dois pilares fundamentais não apenas para o âmbito do design, mas para a vida como um todo: a questão do tempo e do propósito.
Enquanto realizava meus exercícios matinais, seguindo minha rotina de meditação diária, percebi que esse é um momento sagrado de conexão comigo mesmo. No entanto, observei ao meu redor que poucos estavam verdadeiramente presentes e desfrutando desse mágico momento de bem-estar.
Na moda dos exercícios funcionais do tipo “tenha seu corpo perfeito com 10 minutos diários”, vi pessoas suando e se exercitando freneticamente. Parece que todos têm pressa, mas a pergunta que precisamos fazer é: pressa para quê?
Tudo se resume ao propósito, e não quero soar como uma daquelas frases clichês de autoajuda. A verdade é que só conseguimos realizar ações com alma e coração quando estamos verdadeiramente conectados e vivendo o momento presente. Esse propósito não se limita a grandes planos para salvar o mundo. Na realidade, são os pequenos hábitos do cotidiano que nos mantêm conectados com nossa essência.
O ato de criar, por exemplo, requer um profundo comprometimento e autoconhecimento. Materializar algo que desejamos expressar à sociedade exige essa conexão. Acredito, portanto, que 90% de qualquer criação surge de um profundo estado de bem-estar e conexão antes de se manifestar no mundo.
Vivemos em um mundo que muitas vezes valoriza a ação em detrimento do planejamento e da reflexão. Isso, convenhamos, é um caminho certo para a infelicidade. Em tempos de transição para um mundo cada vez mais dominado pela inteligência artificial, é crucial refletir sobre o que nos torna humanos e como humanizamos nossas ações. Essa é a pergunta fundamental para nossa sobrevivência nesse novo cenário. E esse entendimento, como mencionado anteriormente, vem principalmente das pequenas ações diárias feitas com coração e propósito.
Esse pensamento não se aplica apenas às pessoas, mas também às “coisas”. Nesse contexto, o propósito dá lugar à vocação. Por que algo existe? Isso pode ser um evento, um negócio ou um objeto.
Recentemente, compartilhei aqui sobre minha visita à relevante Bienal de Arquitetura de Veneza, que representa um exemplo perfeito de vocação. Em vez de focar apenas na arquitetura estética, essa bienal coloca em destaque transformações humanas e sustentáveis que são cruciais para o presente e o futuro do nosso planeta. Isso é vocação em ação. Por outro lado, vejo mostras de decoração que seguem um padrão superficial, criando espaços “bem decorados” que carecem de uma mensagem significativa para a sociedade. Isso é falta de vocação.
Atualmente, a reputação de uma empresa é fundamental. O que sua marca faz pelas pessoas e pelo mundo? Valores como sustentabilidade ambiental e inclusão social se tornaram plataformas essenciais para a reflexão.
Portanto, é importante pensar profundamente e tornar sua existência ou sua marca relevante não apenas para você, mas também para o mundo. Lembre-se da famosa frase de Neil Armstrong: “um pequeno passo para o homem, um grande passo para a humanidade.”