Design Filosófico

Pedro Franco

Na coluna 'Design Filosófico', o artista Pedro Franco se dedica a trazer suas reflexões, que mesclam estudos antropológicos e iconográficos, análises filosóficas, estudo de inclinações da sociedade, além — é claro — de aspectos estéticos e formais. Tudo baseado na premissa de que o bom design é feito para pessoas.

Design Filosofico

Profissão: ativista

21/12/2023 19:27
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Estande da marca A Lot of Brasil, durante o Salão do Móvel de Milão 2023. | Divulgação

Há três anos recebi um dos convites mais desafiadores de minha vida profissional. O de me tornar colunista. É árduo e transformador o ato de escrever porque requer que estejamos analisando e refletindo sobre o mundo que está a nossa volta, de forma crítica. É também um ato mágico, que nos faz olhar (e entender) para além das aparências.
Nada é meramente um trivial entretenimento. Tudo se transforma, como dizia o filósofo Aristóteles. E eis que recentemente tudo se transformou ao assistir ao show de Roger Waters. Diante da inspiração proporcionada pelo espetáculo, percebo a essência transformadora que pode residir em cada um de nós, transcendendo os limites da atividade profissional convencional.
Assim como as notas musicais de Waters ecoam por estádios, podemos fazer nossas vozes ressoarem nas esferas que frequentamos. Se o palco é a decoração, que cada projeto seja uma expressão de respeito à diversidade e um tributo às raízes ancestrais. Cada móvel, mais do que um objeto de utilidade, pode ser uma declaração de compromisso com a sustentabilidade. Cada detalhe da decoração pode ser uma narrativa visual de nossa herança, habilmente tecida pelas mãos dos artesãos.
O convite é para que cada profissional, em sua área de atuação, se torne um agente de mudanças, um ativista que utiliza sua expertise para impulsionar reflexões profundas, assim como Roger Waters, que não transforma seu show em um palco de “chatice” ou discussões despropositadas, mas sim em uma plataforma para algo maior.
Muito além das belas e tradicionais canções dos tempos de Pink Floyd, trazia palavras (e vídeos) de denúncias sobre tiranos do mundo contemporâneo – desde (quase) todos os presidentes norte-americanos –, além de levantar bandeiras urgentes: pelos povos originários, pela paz, pela tolerância às minorias.
Refleti, então, que podemos fazer de nossos trabalhos uma ferramenta de transformação, levando adiante causas que importam. Imagine se, em cada projeto, conseguíssemos capturar e transmitir a essência da justiça social, da preservação ambiental e da celebração da diversidade.
Assim como pequenos posts se tornam tsunamis de comunicação, nossos esforços individuais podem se unir em uma onda de mudanças positivas, impactando não apenas nossos clientes, mas o mundo ao nosso redor.
Como dizia o educador Paulo Freire “'é proibido’ sermos pessimistas quando há vida à nossa volta”. É preciso o exercício da esperança, amplificando anúncio e denúncias.
Tornemo-nos, então, ativistas em nossas profissões, guiados pela convicção de que cada ato, por menor que seja, contribui para a construção de um mundo mais justo, sustentável e inclusivo. Que o trabalho não seja apenas uma fonte de renda, mas uma manifestação consciente de nossos valores, um convite constante à reflexão e à ação. Como Roger Waters, que transformou seu canto em uma engrenagem de reflexão, que cada um de nós possa fazer do próprio trabalho uma sinfonia de mudanças, ecoando por além dos limites profissionais, alcançando os corações e mentes daqueles que tocamos com nossas criações.

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