Opinião
Pedro Franco
Na coluna 'Design Filosófico', o artista Pedro Franco se dedica a trazer suas reflexões, que mesclam estudos antropológicos e iconográficos, análises filosóficas, estudo de inclinações da sociedade, além — é claro — de aspectos estéticos e formais. Tudo baseado na premissa de que o bom design é feito para pessoas.
Design Filosofico
Hiperconexão, uma encruzilhada irreversível
Recentemente, deparei-me com palavras que ecoaram em mim, proferidas por dois ícones que transcendem o convencional e personificam a perfeição do pensamento inovador e crítico: Caetano Veloso e Nizan Guanaes.
Ambos encerraram 2023 com uma assertividade desconcertante: "Não encham meu saco, não perguntem o que penso, não quero falar com ninguém, não quero networking tampouco projetos e oportunidades."
Um grito pela reclusão, um protesto contra a superexposição imposta pelo mundo incerto em que vivemos.
Nesse cenário de incertezas, deparamo-nos com a hiperconexão, uma realidade que nos arrasta para um precipício, um caminho sem retorno que muitos ainda não compreendem totalmente.
E é nesse contexto turbulento que a Inteligência Artificial emerge como uma força onipresente, infiltrando-se desde as raízes da pesquisa até as alturas do pensamento criativo.
Minha relação com as ferramentas de IA tem sido complexa, uma dança entre a curiosidade e o temor. Já redigi uma coluna em que trechos foram gerados por IA, mas o desfecho crítico sempre foi meu. Parecia, inicialmente, uma afirmação da superioridade humana, um desafio às previsíveis máquinas.
No entanto, a verdade é que todos nós já nos tornamos ciborgues, uma fusão complexa entre a máquina e a mente humana.
O futuro desenha-se como uma sinfonia, uma intersecção entre a máquina, seus inputs e a grande maestria que somos, ou pelo menos, aspiramos ser.
Em 2024, prevejo desdobramentos imprevisíveis, desde avanços notáveis em pesquisas médicas até uma redefinição estética global, expandindo nossos horizontes de exploração.
Os profissionais do futuro serão aqueles que veem um propósito no que fazem, com um constante espírito crítico e paixão.
Enquanto os que seguem fórmulas serão, inevitavelmente, substituídos por máquinas eficazes que analisam, desconstroem e reconstroem com base na vastidão da experiência humana.
Sabe aquelas respostas prontas? Sabe aquele fazer pela inércia, e sem o pensar? Ah, esses profissionais, realmente devem estar muito preocupados.
Vale realçar que tal processo pode ocorrer desde a atendente de caixa de supermercado ao CEO de uma grande empresa.
O trabalhador do futuro deve ter paixão e emoção!
No âmbito criativo, meu diálogo com a máquina tornou-se um espetáculo majestoso. Insiro imagens e pensamentos e a máquina responde com sua voz meiga, provocando novas reflexões. Em um diálogo eficaz com a máquina, a linearidade e a previsibilidade cedem lugar à imprevisibilidade, gerando insights e caminhos inexplorados.
Minha visão para 2024 é de inovações extraordinárias e soluções estéticas surpreendentes, democratizando o pensamento ousado de mentes como Frank O. Gehry ou Zaha Hadid.
No entanto, o inimigo desse percurso é o vazio e a aleatoriedade. E engana-se quem acredita que o trabalho será reduzido ou que os estudos se tornarão dispensáveis.
A analogia perfeita é a de uma orquestra, onde seremos os maestros, com conhecimentos gerais de grande envergadura, e a máquina trará cada instrumento singular.
2024 não será apenas mais um ano em nossas vidas; será o ano em que a Inteligência Artificial moldará e desafiará nossas concepções, exigindo que todos nós nos tornemos maestros de uma nova sinfonia tecnológica e humana.
Agradeço a todos por esse prazeroso “diálogo” através das páginas da Pinó, Que as mudanças que nos esperam para o ano de 2024 venham repletas de novos valores e significados.