Design
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‘Conexão Design’ é uma coluna dedicada a pensar um futuro possível, o futuro circular. Neste espaço, os co-criadores do SOMA_studiomilano compartilham suas experiências, ideias e visões sobre design e economia circular, diretamente de Milão.
Conexão Design
Sustentar ou regenerar? Do que o planeta precisa?
AWA soap lava as roupas e melhora a qualidade da água em até 75%. | Divulgação
A grande maioria das discussões e iniciativas em torno da crise ambiental são focadas em causar menos danos ou nenhum dano à natureza. A ideia é proteger nosso planeta e evitar que as mudanças climáticas cheguem a um ponto de não retorno.
A economia circular, através do seu terceiro princípio: “regenerar ecossistemas naturais”, nos lança um desafio muito maior do que apenas proteger o meio ambiente. A ideia é trabalhar ativamente em busca de soluções regenerativas que nos permitam reverter os danos causados a diversos ecossistemas para que eles voltem a prosperar. Ou seja, em vez de apenas tentar causar menos danos, devemos ter como objetivo fazer o bem. E é ai que entra o chamado design regenerativo.
Nutrindo sistemas naturais e sociais
Quando se trata de regenerar sistemas naturais, biologia e design andam de mãos dadas. Por isso, percebemos um número crescente de designers se voltando para a natureza em busca de novas inspirações e ideias, explorando todos os tipos de materiais, desde microrganismos até alimentos e, em geral, se esforçando para entender a relação entre produtos, lugares e comunidades.
O design regenerativo baseia-se em 04 princípios básicos:
- Compreender a relação dos produtos ou processos com o local;
- Definir metas que identificam a capacidade regenerativa;
- Ser parceiro de lugares e comunidades;
- Esforçar-se para construir uma colaboração sustentável entre pessoas e lugares.
Um excelente exemplo de design regenerativo é o Compostboard - um material e superfície desenvolvidos pelo designer circular holandês Rik Makes. O designer usa resíduos da agricultura local como matéria-prima para criar móveis circulares. Uma vez que a mobília chega ao fim de sua vida útil, a mesma pode ser reinserida ao meio ambiente, devolvendo ao solo nutrientes e fibras, regenerando a natureza, causando um impacto positivo na agricultura local e, em última análise, nas comunidades de agricultores locais.
Outro case que chamou nossa atenção foi o do AWA soap (sabão AWA) criado por uma marca de água mineral peruana, a Andea, em colaboração com a agência criativa Fahrenheit DDB e pesquisadores do Cirsys.
No Peru, como em outras partes do mundo, as mulheres têm o hábito de lavar roupas nos rios, tradição que vem dos incas. Além de ser uma necessidade prática, lavar a roupa da família nas margens dos rios é um momento de descontração e socialização entre as mulheres da aldeia.
O problema é que os detergentes químicos usados para lavar roupas contaminam a água, impactando negativamente a fauna e a flora desse ecossistema e as comunidade que também utilizam essa água para beber e cozinhar.
A Andea lançou um desafio: “Como manter os rios limpos sem interromper uma tradição ancestral?”. A empresa encontrou um microrganismo com função probiótica que se alimenta de poluentes da água. Então, colocou esses microrganismos em barras de sabão em pó sem danificá-los ou reduzir sua eficácia. Depois de vários testes, eles converteram um sabão comum em um produto para descontaminar a água do rio. Segundo a marca, amostras de água coletadas antes e depois que o sabão AWA foi usado indicam que a qualidade da água melhorou em até 75%. O sabão foi distribuído gratuitamente e, assim, as mulheres podem continuar limpando suas roupas no rio, enquanto mantêm sua tradição e socialização.
Além disso, a Andea disponibiliza a fórmula da AWA gratuitamente para agências governamentais, organizações ambientais e fabricantes de detergentes para que possam fornecer água de melhor qualidade para 159 milhões de pessoas em todo o mundo que bebem água não tratada de fontes superficiais.
Estes e vários outros exemplos demonstram como a sustentabilidade em si já não é mais suficiente, é preciso ir além. Não basta “sustentar”, “conservar em bom estado”, “manter.” É urgente ir além para, de fato, restaurar e reabastecer o que as atividades humanas deterioraram radicalmente. Não é mera coincidência ou apenas uma tendência que uma das escola mais renomadas de Design do Reino Unido, a Central Saint Martin - University of the Arts London (UAL), lança para 2023 o seu MA Regenerative Design (Pós-graduação em Design Regenerativo). O curso desafia estudantes de realidades diversas, que vivam em contextos urbanos ou rurais, que trabalhem com artesanato ou design a revisitarem suas práticas criativas por meio de uma lente regenerativa.