Opinião

Ana Luiza Magalhães e Nina Zulian

Ana Luiza Magalhães e Nina Zulian são co-fundadoras do Anima Futura e compartilham, diretamente de Milão e Amsterdã, pesquisas, especulações e projetos que utilizam o design para criar futuros sustentáveis, regenerativos e circulares.

Desenhando futuros possíveis na Semana de Design de Milão

07/06/2024 14:55
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Vivemos em tempos de policrise, em que a sobreposição de ameaças ao planeta e seus habitantes é encabeçada por uma crise climática e ecológica sem precedentes. Diante desse cenário, como podemos imaginar e criar futuros possíveis? E, para começo de conversa, o que são futuros possíveis?
Quando falamos de futuros, no plural, estamos recusando soluções em massa que apontam para um só caminho. Estamos imaginando amanhãs criados a partir de soluções e caminhos múltiplos que considerem as potencialidades e vulnerabilidades de geografias, culturas, comunidades e economias diversas. E, acima de tudo, estamos falando de futuros onde seres humanos e não humanos possam prosperar.
Durante a Semana de Design de Milão, em abril, tivemos a oportunidade de conhecer em primeira mão pesquisas e projetos que se propõem a imaginar e criar futuros mais sustentáveis, regenerativos e circulares através do design. E mais uma vez, nos surpreendemos com o poder do design em nos ajudar a visualizar e comunicar ideias e conceitos complexos, fomentando diálogos, inspirando ações e impulsionando mudanças.
Nesta coluna inaugural da Anima Futura em HAUS, apresentamos três deles:

EconitWood, por Harry Thaler

Mobiliário com design de Harry Thaler feito com econitWood™️, material criado a partir de resíduos de madeira e serragem | Divulgação/Harry Thaler
Mobiliário com design de Harry Thaler feito com econitWood™️, material criado a partir de resíduos de madeira e serragem | Divulgação/Harry Thaler
Na exposição "Printed Nature" ("Natureza Impressa", em tradução livre), o designer Harry Thaler revelou uma nova série de elementos de mobiliário produzidos com material inovador, o econitWood™️.
Criado a partir de resíduos de madeira e serragem, e transformado por meio da impressão 3D, sem produzir nenhum resíduo, o econitWood™️ tem características excepcionais, isolamento térmico e resistência ao fogo, tornando-o ideal para produtos finais considerados neutros em termos de emissões de CO₂.
Thaler explorou essas possibilidades com uma abordagem lúdica, criando peças com formas orgânicas e proporções surpreendentes.

PET Lamp, por Alvaro Catalán de Ocón

PET Lamp transforma resíduos plásticos em objetos funcionais | Divulgação/Alvaro Catalán de Ocón
PET Lamp transforma resíduos plásticos em objetos funcionais | Divulgação/Alvaro Catalán de Ocón
O projeto PET Lamp destacou-se por sua capacidade de transformar resíduos plásticos em produtos funcionais e estéticamente atrativos.
Desde 2011, ele capacita comunidades locais a repensar o uso de garrafas plásticas PET, combinando-as com técnicas tradicionais de tecelagem de diversas partes do mundo para criar abajures artesanais exclusivos.
O processo incluiu uma pesquisa aprofundada e colaborações com artesãos para explorar e elevar suas tradições de tecelagem, utilizando fibras naturais locais, culminando assim na produção de novas coleções que promovem o engajamento social e cultural das comunidades locais e geram renda para elas.

OASE, por Johanna Seelemann

Vasos de terracota OASE permite irrigação de árvores sem perda d'água | Divulgação/Johanna Seelemann
Vasos de terracota OASE permite irrigação de árvores sem perda d'água | Divulgação/Johanna Seelemann
Muitas vezes, as árvores são negligenciadas em ambientes urbanos e tratadas mais como mobiliário do que como organismos vivos. OASE é um projeto que investiga a competição entre árvores e carros em paisagens urbanas e propõe uma intervenção para melhorar as condições das árvores nas cidades.
Johanna Seelemann, designer e criadora do projeto, buscou inspiração em um antigo método de irrigação de baixa tecnologia. Ela criou vasos de terracota não esmaltada que lembram tanques de combustível dos automóveis. A ideia é enterrar esses vasos próximos a árvores, permitindo a absorção direta de água pelas raízes devido à porosidade da terracota.
Essa irrigação subterrânea elimina as perdas de água devido à evaporação da superfície e à infiltração do solo, resultando em uma economia de água de até 70% em comparação com métodos tradicionais de irrigação de superfície, aumentando a resiliência das árvores.
Cada um desses projetos demonstra a potência do design em lidar com múltiplas crises e
reimaginar e, portanto, criar novos futuros, que apesar de incertos, podem, sim, ser sustentáveis, regenerativos e circulares.