Opinião
Ana Luiza Magalhães e Nina Zulian
Ana Luiza Magalhães e Nina Zulian são co-fundadoras do Anima Futura e compartilham, diretamente de Milão e Amsterdã, pesquisas, especulações e projetos que utilizam o design para criar futuros sustentáveis, regenerativos e circulares.
Anima Futura
A nova era das cores sustentáveis
A busca pela sustentabilidade no design tem levado a iniciativas inovadoras focadas em responsabilidade ambiental e social. Essas iniciativas estão transformando como as cores são criadas, utilizadas e percebidas em diversas indústrias, desde a moda até interiores.
Um avanço significativo é o desenvolvimento de pigmentos de fontes ecológicas e não convencionais. Designers estão utilizando microrganismos seguros para humanos e não-humanos para produzir tons vibrantes, como os impressionantes rosas derivados de bactérias e as diversas tonalidades de fungos.
Essas iniciativas representam avanços significativos nas práticas do design sustentável, reduzindo os impactos ambientais prejudiciais e apoiando os princípios da economia circular. Ao abraçar tais abordagens inovadoras, as indústrias podem alterar significativamente sua pegada ambiental, oferecendo aos consumidores produtos que são tanto bonitos quanto éticos.
Pigmentos que vêm de fungos
A Fabulous Fungi, por exemplo, usa fungos para criar corantes têxteis sustentáveis. Esse processo aproveita as capacidades naturais de produção de pigmentos dos fungos, evitando métodos de extração baseados em combustíveis fósseis. Essa abordagem não só reduz as emissões de CO² e o uso de água, mas também garante que pigmentos residuais sejam biodegradáveis, evitando a poluição da água. Sua linha de produtos inclui uma gama de cores, como o Vermelho Responsável e o Coral Limpo, com mais tons em desenvolvimento.
Corantes de algas e algas marinhas
Outra abordagem inovadora envolve o uso de algas. A Algaeing se especializa em criar soluções têxteis utilizando algas renováveis. Seus produtos, Algaink™ e Algadye™, são biodegradáveis e projetados para não gerar resíduos, apoiando a desintoxicação da indústria têxtil em larga escala.
De forma semelhante, o projeto Seaweed Research, de Nienke Hoogvliet, explora o potencial das algas marinhas como um recurso sustentável para fios e corantes. As algas marinhas, sendo um recurso rapidamente renovável, não requerem água doce ou terra para cultivo e são extraídas no local de sua produção, tornando-se uma alternativa ecológica aos tradicionais corantes e fibras de plantas.
Os corantes naturais extraídos das algas oferecem uma gama de cores variadas e terrosas, desde verdes profundos a marrons mais ricos, e possuem propriedades antibacterianas, adicionando valor funcional aos têxteis.
Transformando resíduos têxteis e corantes naturais
O projeto (Un)woven da Studio Sarmite adota uma abordagem única para reciclar fibras têxteis misturadas e não recicláveis. O projeto utiliza pigmentos naturais para criar padrões semelhantes a mármore, transformando fibras inferiores em biotêxteis leves, adequados para moda, interiores e design de produtos. Enfatizando a reciclabilidade em vez da longevidade, o material (Un)woven é resistente e pode ser reciclado no final da sua vida útil e reaproveitado continuamente para novos ciclos de produção. A linha de pigmentos naturais, originada de plantas, minerais e também de resíduos agrícolas, foi desenvolvida em colaboração com o Roua Atelier, integrando a tintura diretamente no processo de produção do biotêxtil, o que resulta em uma paleta de cores sutil e sofisticada.
Superando desafios e impulsionando a inovação
Sabemos que a indústria de tingimento tem impactos ambientais significativos, principalmente devido ao uso intensivo de água, energia e produtos químicos. Os processos de tingimento tradicionais são conhecidos por contribuir para a poluição da água, as emissões de gases do efeito estufa e o consumo substancial de recursos.
Desenvolver fontes de cor natural e introduzi-las nos processos de fabricação existentes apresenta desafios, como garantir a consistência na qualidade da cor e a escalabilidade da produção. No entanto, esses desafios também impulsionam a inovação. Técnicas como a fermentação para pigmentos bacterianos ou o refinamento da extração de cores de algas estão evoluindo para atender às demandas industriais.
Tais práticas estão moldando um futuro em que a criação e aplicação de cores não só estão em harmonia com a natureza, mas também inspiram uma nova geração de designers e indústrias a adotarem práticas mais verdes trazendo benefícios para o meio ambiente, para as pessoas envolvidas na produção e para os consumidores finais.