O que faz as ilhas Galápagos, no Equador, serem tão especiais? Esse arquipélago de origem vulcânica está extremamente isolado no Oceano Pacífico a mil quilômetros da costa no encontro de correntes oceânicas, formando habitats únicos no mundo. É como se fosse um túnel do tempo natural, nos levando ao passado do desenvolvimento das espécies no planeta. Essas condições permitiram a evolução de tartarugas gigantes, gaivotas de patas azuis e iguanas marinhas, entre outros animais que não existem em nenhum outro lugar do mundo. O ambiente remoto, mas muito diverso, serviu de inspiração para a teoria da evolução por seleção natural de Charles Darwin, consolidando sua fama e a importância única de Galápagos como um "laboratório vivo" para estudos científicos.
O arquipélago de Galápagos é composto por 13 ilhas grandes e 6 ilhas menores. Apenas cinco são habitadas: Baltra, Floreana, Isabela, San Cristóbal e Santa Cruz. A população total é de 33.000 habitantes. Aproximadamente 85% dessa população reside em áreas designadas para uso humano, cerca de 3% da extensão territorial do arquipélago. A área restante é protegida como parte do parque nacional de Galápagos.
O que a arquitetura, urbanismo e gestão pública têm a ver com isso?

Em 2018, como Conselheiro Sênior da ONU para gestão pública, tive o privilégio de ser convidado pelo governo do Equador para apoiar a coordenação digital entre Ministérios, já que o governo queria melhorar serviços públicos municipais no país como transporte, habitação, saúde, educação, etc.
As Ilhas Galápagos têm o status administrativo de uma província, como se fosse um estado do Equador, mas com governança única sob a Lei Especial de Galápagos, que estabelece uma estrutura para sua proteção e gestão sustentável. Na prática, é como se Galápagos fosse um país dentro de outro país, com a exigência de um visto especial, alfândega diferenciada e limitações de estadia nas ilhas para equatorianos e estrangeiros.
Tive a oportunidade de visitar Galápagos, debater planos de preservação para as ilhas e os vários desafios ainda existentes. Não é em qualquer lugar do mundo que você pode comer uma pizza em um bar na beira da praia ao lado de leões marinhos se espreguiçando na areia. Mas Galápagos é muito mais do que isso.
A Lei Especial de Galápagos, de 1998, fornece a base legal para a conservação, com a criação da Grande Reserva Marinha de Galápagos. Além disso, em 2022, criaram a expansão da reserva marinha de Hermandad, protegendo um importante corredor de migração para espécies ameaçadas de extinção e proibindo a pesca em parte deste corredor.
Há histórias surpreendentes: em 2012, o cidadão alemão Dirk Bender foi preso nas Ilhas Galápagos por tentar contrabandear quatro iguanas terrestres nativas para fora do país. Ele queria vender cada uma delas por US$ 50 mil. Os répteis protegidos foram encontrados anestesiados e embrulhados em pano em sua bagagem. Ele foi posteriormente condenado a quatro anos de prisão pelo crime ambiental.

Ameaças e Educação Ambiental
Os desafios atuais para a preservação de Galápagos incluem as espécies invasoras, como ratos e gatos, que ameaçam a vida selvagem nativa; por exemplo, iguanas marinhas já foram encontradas na ilha de Santiago, mas suas populações foram reduzidas por espécies invasoras, como porcos selvagens trazidos por barcos. Além disso, a pesca ilegal e excessiva prejudica imensamente o ecossistema marinho. Como sempre, o perigo mais sério são os impactos da atividade humana, incluindo o aumento populacional, a poluição causada por resíduos plásticos e os sistemas de gerenciamento de resíduos.
Uma das opções estudadas para o futuro desenvolvimento de Galápagos seria a proibição de assentamentos humanos nas ilhas, transformando o arquipélago em uma espécie de santuário natural sem atividades residenciais ou turísticas. Mas seria uma solução de difícil aceitação política.
Um aspecto importante em Galápagos é o alto nível de consciência ambiental dos moradores: a caixa do mercado explica porque não podemos usar sacolas plásticas, o garçom nos alerta para não tirar fotos com flash para não assustar os animais, os motoristas de táxi explicam que há punições severas para quem atropela animais. Se toda a população do planeta tivesse o mesmo nível de consciência ambiental, a preservação do planeta seria mais fácil.
Um futuro urbano para o planeta?
Curiosamente, segundo alguns critérios, a proporção de áreas urbanas no planeta como um todo é semelhante à proporção de áreas urbanas em Galápagos: apenas 3% são ocupados por áreas habitadas. Mesmo assim, essa ocupação de 3% tem sido potencialmente perigosa tanto em Galápagos como no planeta inteiro.
Isso evidencia a importância das áreas urbanas como unidades de produção, já que mais de 65% do Produto Interno Bruto dos países é gerado em 3% da área do planeta. Por outro lado, essa ocupação urbana de 3% já traz sérios impactos ambientais, como sabemos.

Nesse sentido, vejo Galápagos não apenas como um laboratório de evolução biológica, mas também como um teste importante de evolução ou involução urbana. Conforme comentei com nossos colegas do Equador, Galápagos é um excelente teste para confirmar o sucesso de políticas de preservação em áreas frágeis.
Todo o planeta Terra é uma área frágil. Assim, o futuro de Galápagos poderá ser uma importante referência para eventualmente nos mostrar se teremos ou não um possível futuro sustentável para a vida no planeta.