É possível fazer as coisas certas antes das coisas erradas? Segundo um princípio universalmente consagrado, a mediocridade laboriosa às vezes ganha da criatividade preguiçosa. Porque, para quem não se questiona, para quem não exerce constantemente a autocrítica dos seus atos, sempre é mais fácil executar ideias recebidas. Jaime Lerner, Acupuntura Urbana.
Na semana do dia 12 de junho, Curitiba recebeu a visita do pensador urbano Charles Landry, pioneiro e referência no tema das Cidades Criativas. Seu Creative Cities: A Toolkit for Urban
Innovators celebra “bodas de prata” explorando como a criatividade pode transformar cidades em espaços mais vibrantes, inclusivos e sustentáveis. O argumento base era que, em um mundo globalizado, as cidades precisam ir além de sua função tradicional de centros econômicos e se reinventar por meio da inovação cultural e social. Diversidade, a participação cidadã e a experimentação seriam as chaves para enfrentar desafios urbanos como o declínio econômico, a exclusão social e a falta de identidade.
Innovators celebra “bodas de prata” explorando como a criatividade pode transformar cidades em espaços mais vibrantes, inclusivos e sustentáveis. O argumento base era que, em um mundo globalizado, as cidades precisam ir além de sua função tradicional de centros econômicos e se reinventar por meio da inovação cultural e social. Diversidade, a participação cidadã e a experimentação seriam as chaves para enfrentar desafios urbanos como o declínio econômico, a exclusão social e a falta de identidade.
Nos vinte e cinco anos que se passaram desde sua publicação original, o tema foi revisitado e amadurecido tanto pelo autor quanto por outras vozes - Richard Florida, Carl Grodach, Ana
Carla Fonseca Reis -, ampliando sua relevância. Em 2004, por exemplo, a UNESCO criou a Creative Cities Network - UCCN para promover a cooperação com e entre cidades que identificaram a criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento urbano sustentável. São hoje 350 cidades ao redor do mundo que colocam a criatividade e as indústrias culturais no centro de seus planos de desenvolvimento em focos como design, gastronomia,
cinema, música, literatura, artes midiáticas, artesanato e folclore.
Durante a visita, Landry proferiu uma pequena conferência com o tema ‘The Art of Creative City Making', refletindo sobre este aprendizado de décadas e o projetando sobre as cidades hoje, em um contexto em que guerras comerciais, incursões bélicas, emergências climáticas e ambientais, desafios sociais persistentes, temores sobre os impactos das “inteligências artificiais”, entre outras angústias existenciais, moldam nosso quadro de referência.
A mensagem fundamental se mantém: em tempos de mudanças dramáticas, tais como os que atravessamos, há que se criar as condições para que as transformações positivas emerjam em
um movimento que requer adquirir profunda autoconsciência do que seria a criatividade para cada cidade, a fim de entremear em seu tecido os elementos para que um ecossistema criativo
possa florescer. A cultura local é o “ativo” fundamental, uma vez que molda e pauta como atribuímos sentido e significado ao mundo. A fala que nos foi presenteada foi muito rica e
completa e, em momentos futuros, talvez possamos aprofundar outros pormenores. Mas, num esforço de síntese, destaco sua frase “a cidade é o laboratório para resolver os problemas que
ela mesma cria”, pela proximidade que guarda com outra que nos é muito cara, “cidade não é problema, cidade é solução”, com a qual o Jaime abria as palestras que conduzia mundo afora.
um movimento que requer adquirir profunda autoconsciência do que seria a criatividade para cada cidade, a fim de entremear em seu tecido os elementos para que um ecossistema criativo
possa florescer. A cultura local é o “ativo” fundamental, uma vez que molda e pauta como atribuímos sentido e significado ao mundo. A fala que nos foi presenteada foi muito rica e
completa e, em momentos futuros, talvez possamos aprofundar outros pormenores. Mas, num esforço de síntese, destaco sua frase “a cidade é o laboratório para resolver os problemas que
ela mesma cria”, pela proximidade que guarda com outra que nos é muito cara, “cidade não é problema, cidade é solução”, com a qual o Jaime abria as palestras que conduzia mundo afora.

Tendo tido a felicidade de acompanhar o Charles pelos dias que esteve em Curitiba, evidenciou- se uma bela convergência entre ele e o Jaime na forma de entender a cidade como o território
privilegiado em que as “soft skills” que caracterizam o humano em seu espectro positivo podem se expressar em prol do bem comum: a valorização das identidades, o respeito à diversidade e a capacidade de tolerância; a inventividade, a flexibilidade e a abertura mental; a capacidade de superação e criação. Para tal, contudo, há que se abandonar uma postura negativa e limitante
em prol de uma abordagem positiva e condicional: abraçar o “sim, se…” ao invés do “não, porque…”. Em suma, cidades criativas não são lugar para pessimismo. Nem para mediocridade.
privilegiado em que as “soft skills” que caracterizam o humano em seu espectro positivo podem se expressar em prol do bem comum: a valorização das identidades, o respeito à diversidade e a capacidade de tolerância; a inventividade, a flexibilidade e a abertura mental; a capacidade de superação e criação. Para tal, contudo, há que se abandonar uma postura negativa e limitante
em prol de uma abordagem positiva e condicional: abraçar o “sim, se…” ao invés do “não, porque…”. Em suma, cidades criativas não são lugar para pessimismo. Nem para mediocridade.
Por Ariadne dos Santos Daher