Arquitetura

Pinó

Nota do autor Geraldo Pougy sobre o livro “Curitiba: Urbanismo Essencial”

Geraldo Pougy
19/10/2020 16:27
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Fazer acontecer é
propor uma ideia, um projeto, que todos ou a grande maioria entendam que é
desejável. Se entenderem que é desejável, vão ajudar a fazer acontecer.
Foi assim que Jaime
Lerner explicou como aconteceu a transformação urbana de Curitiba num encontro
sobre cidades realizado no MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts, no
início dos anos 1990. E completou:
As coisas só
acontecem se se mostra como vai ser, se a população entende qual é a
finalidade.
Para mostrar como vai ser é preciso apresentar um cenário, uma visão de futuro, que seja
atraente e que contenha em si a visão de uma cidade solidária. Um cenário que
represente uma melhor qualidade de vida para todos. A solidariedade é a
qualidade essencial de um cenário atraente, com o qual a população deseje
colaborar.
Essa era a essência
da forma de trabalhar do Grupo de Curitiba – aquele grupo de arquitetos e de
funcionários públicos que, a partir dos anos 1970, liderados por Jaime Lerner,
empreendeu a transformação urbana que virou referência em todo o mundo.
Para o Grupo de
Curitiba, conceber cenários de uma cidade solidária estava na essência do
planejamento. O desafio era conceber cenários viáveis, que pudessem acontecer
rapidamente e que causassem um impacto positivo na qualidade de vida da
população.
No livro Curitiba: urbanismo essencial (que está sendo lançado por meio de uma campanha de financiamento coletivo), apresento uma descrição desse modo de trabalho. Meu objetivo com o livro é divulgar esse modo de trabalho que, no meu entender, poderá ser aplicado ainda hoje em qualquer prefeitura que o queira.
A boa notícia é que o número inaugural da Revista Pinó, a nova publicação mensal da Gazeta do Povo, traz uma matéria sobre o livro e dá visibilidade à campanha. O primeiro motivo dessa carta é, justamente, agradecer a oportunidade oferecida pela revista. Espero que a matéria ajude a atrair mais pessoas interessadas em reservar um exemplar e a colaborar com a campanha.
Mas é preciso também fazer um esclarecimento. Depois de falar sobre o livro e sobre a perda da capacidade de inovar na Prefeitura de Curitiba, o texto da matéria diz que “existem indícios de que uma força criativa ainda pulsa, mesmo que fraca, entre planejadores urbanos da capital paranaense”.
E em seguida menciona dois exemplos indicados por mim: “o projeto da Linha Verde, iniciado na gestão Beto Richa em 2007 (em obra há mais de 13 anos) e a expansão das ciclovias feita no mandato de Gustavo Fruet (2013-2016)”.
É preciso esclarecer. Os dois exemplos são bem diferentes, quase opostos. (Leia a matéria já com a informação corrigida).
A Linha Verde é uma
das maiores intervenções recentes na cidade e foi, certamente, um projeto bem
estudado. Quero crer que seja também um projeto altamente defensável na
dimensão técnica. Mas o fato é que não conseguiu ser visto pela cidade como um
cenário de solidariedade e não conquistou o coração e as mentes dos
curitibanos. Talvez isso explique, em parte, os treze anos de obras ainda por
terminar.
Já o projeto de
expansão das ciclovias e a proposta da Zona Calma conseguiram ser percebidos como
cenários de uma cidade mais solidária. E, tendo baixo custo, foram rapidamente
implementados pela prefeitura. A capacidade de conceber cenários de
solidariedade é da essência do bom urbanismo.
Numa escala menor, considero
que foi essa também a qualidade essencial que permitiu ao movimento Salvemos o
Bosque da Casa Gomm conquistar a criação de um parque onde o shopping queria
abrir uma rua. Foi justamente a capacidade de propor um cenário mais humano e
sustentável para aquele pequeno pedaço da cidade que atraiu pessoas de todos os
espectros políticos para o movimento. A criatividade e a inovação só são boas
se forem boas para a maioria da população.
Que fique claro,
portanto: não considero que a Linha Verde seja um exemplo de pulsão criativa
dentro do IPPUC.
Cordialmente,
Geraldo Pougy