Indústria moveleira
Negócios
Abimad’37 tem recorde de público e projeção de R$ 4 bilhões em negócios para 2024; confira entrevista com o presidente
Abimad'37 teve recorde de visitantes | Cleber de Paula
Maior feira de mobiliário da América Latina, a Abimad encerrou sua 37ª edição no último dia 2 de fevereiro com saldo positivo. Foram 23 mil visitantes - recorde de público do evento - e projeção de volume de negócios que atinge a marca dos R$ 4 bilhões para 2024, considerando as vendas realizadas durante os quatro dias de feira e as negociações que deverão ocorrer nos próximos meses.
“Iniciamos 2024 de forma muito positiva para a indústria”, resume Paulo Mourão, presidente reeleito da Abimad para o biênio 2024-2026. Em entrevista exclusiva a HAUS, ele fala sobre os planos para a gestão, o posicionamento do Brasil no mercado moveleiro internacional e a evolução do design de mobiliário nacional nesses últimos 21 anos, desde que a 1ª edição da feira. Confira na íntegra!
HAUS - Você acaba de ser reeleito para o segundo mandato à frente da Abimad. O que planeja para essa nova gestão?
P.M: Antes de ser presidente da Abimad, eu fui vice-presidente durante 12 anos. Eu já organizava, ajudava a elaborar a feira. E, na realidade, desde que nasceu a Abimad foi uma referência de alto padrão para a América Latina. Sempre fomos a principal feira para lançamento de tendências de móveis de decoração de alto padrão que, depois, estarão nas lojas do nosso segmento em todo o Brasil.
O que aconteceu ao longo desse tempo é que também desenvolvemos muito o nosso projeto de exportação. Nessa última edição da feira, tivemos compradores de 23 países, incluindo Europa, Ásia, Oriente Médio e, principalmente, Estados Unidos. Nós consolidamos a posição da Abimad como principal evento de alta decoração na América Latina. E esse é o plano, potencializá-la cada vez mais. [...] Desejamos realmente participar dessa fatia do mercado, especialmente dos Estados Unidos.
O que diferencia a Abimad é que temos programas voltados aos clientes VIPs [...] e também para a área internacional, um projeto de exportação.[...] O produto de alto padrão tem algumas características, e o design de produto avançou muito no Brasil, [desde] a matéria-prima utilizada, o processo de fabricação, de costura... Hoje, o Brasil tem maquinário de ponta para produzir móveis de alto padrão, tem um design muito avançado, uma enormidade de matérias-primas que outros países não têm. Isso coloca o país em evidência no design de mobiliário no mundo. A Itália se consolidou como um país de design (design automobilístico, moda e mobiliário); aí veio a Escandinávia, com o estilo minimalista; e o Brasil também se posicionou muito bem. O mercado entende o Brasil como um grande player nesse setor.
HAUS - Você comentou sobre o apelo dos produtos brasileiros no mercado norte-americano. E o mercado europeu? Ele é interessante para o Brasil?
P.M: A Inglaterra é um dos maiores compradores de móveis do Brasil. Não são móveis de alto padrão, mas o europeu compra móvel brasileiro. Existe mercado, mas, na Europa, são mercados de nicho. No Oriente Médio e na América do Norte temos um bom posicionamento. Na América Central, um excelente posicionamento. Na América do Sul, considerando a crise, temos uma excelente presença. Os maiores compradores de móveis do Brasil ainda são a América do Sul e a América Central.
HAUS - Desde a pandemia o setor vem sendo impactado positivamente pelo movimento das pessoas terem ‘acordado’ para suas casas, investindo mais em reformas, em remodelação dos ambientes. Mas, no ano passado, percebeu-se certa desaceleração. Como você sente isso e quais são as expectativas para o setor moveleiro para 2024?
P.M: O mercado de alta decoração no Brasil cresceu de 6% a 8%. Ele é bastante compatível com o crescimento da inflação. É claro que o primeiro ano do governo Lula causou alguns embates, algumas inseguranças, e provavelmente isso tenha afetado o consumo, principalmente o dos produtos de alto padrão. Mas já no final do ano [de 2023] percebemos uma recuperação. O brasileiro é muito rápido em mudar de ideia. Ele já viu que o mercado vai se estabilizar, a bolsa está crescendo... São bons sinais para consumo.
Você pode ver em Curitiba, Santa Catarina, São Paulo a quantidade de lançamentos de prédios de alto padrão, de entrega de prédios de alto padrão que irão necessitar de móveis de alto padrão, acessórios de alto padrão. Houve um hiato aí, provavelmente decorrente da mudança do governo. Acredito que agora, nesse ano, vamos retomar em bom padrão de volume o mercado interno novamente.
HAUS - Retomando o tema Abimad, o que a 37ª edição apresentou de diferencial?
P.M: Estamos completando 21 anos de Abimad, a maioridade da associação. A principal característica dela é que os principais produtores de móveis de alto padrão estão aqui. Essa feira do [início do ano] é a que concentra o maior volume de lançamentos de produtos. É a feira na qual os lojistas vêm negociar exclusividades. Então, temos um volume muito grande de negócios aqui. E o diferencial da feira, por exemplo, são alguns atrativos, como a sala VIP assinada pelo Léo Shehtman. Sempre temos novidades no nosso evento. Mas o principal diferencial da Abimad é essa relação com o cliente que já participa há vários anos da nossa feira e os lançamentos que trazemos para o mercado.
HAUS - Falamos um pouco sobre o mercado, sobre o reconhecimento do Brasil no exterior e sobre o mercado interno. Agora, sob o ponto de vista do design, como você avalia a evolução do setor desde a primeira edição da feira?
P.M: Lançamos um livro no ano passado [de celebração dos] 20 anos da associação, no qual retratamos a história da Abimad. [Quando a gente] começa a olhar o produto que se fabricava no Brasil 20 anos atrás e o produto que entregamos hoje, fica nítida a evolução da fabricação, do design, do acabamento… Para se inserir nos mercados internacionais, nos quais o design já era um pré-requisito, as indústrias brasileiras tiveram que se modernizar, comprar maquinário, contratar designers para desenvolver coleções que tivessem um desenho atualizado no [cenário] mundial, não só no mercado nacional. Isso tudo faz parte da necessidade de se conquistar novos mercados. E esse objetivo vem sendo atingido. Você pode reparar nos estandes: todas as empresas buscam o design como um diferencial para a linha. Hoje, há produtos de mercado de médio e baixo padrões nos quais se diz que há design. E tem mesmo, está certo? É um design específico para aquele tipo de mercado. Porque o design não [está restrito] aos produtos de alto padrão. Ele tem que ser compatível com o mercado-alvo do produto.