Urbanismo
Vila Nossa Senhora da Luz: uma cinquentona em boa forma
Vila Nossa Senhora da Luz, na Cidade Industrial de Curitiba. Foto: Antônio More/Gazeta do Povo | GAZETA
Entre os anos 1950 e 1970, Curitiba viu sua população mais que triplicar, saltando de 180 mil para mais de 620 mil pessoas. Com elas, veio a demanda por moradias e o poder público foi atrás de alternativas que diminuíssem o déficit habitacional. Nascia assim, há 50 anos, a Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, o primeiro programa de casas populares da cidade. Essa cinquentona que leva o nome da padroeira continua em forma. Afinal, é uma das poucas, entre outras que seguiram o mesmo projeto no país, que preserva sua estrutura original. Está distante de sofrer com a favelização e se desenvolveu, mas sem perder os ares de comunidade.
O projeto
O Brasil todo crescia e, logo após o golpe militar, vieram as primeiras tentativas de arranjar casa para todo mundo. A primeira delas foi a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), que viabilizou financeiramente as COHAB (Companhias de Habitação Popular). No Paraná, o órgão foi oficializado em maio de 1965 e, já no ano seguinte, uma equipe de arquitetos e engenheiros da COHAB se juntou para pensar em uma área que, além de receber as muitas famílias que viviam às margens da ferrovia e do Rio Belém, funcionasse como uma pequena cidade.
O terreno escolhido ficava na distante Cidade Industrial de Curitiba (que viria ser criada na década de 1970), e o projeto das casas, assinado pelos arquitetos Alfred Willer, Roberto Gandolfi, Cyro Correa Lyra e Lubomir Ficinski, previa dois modelos – um com 22m² e outro com 50m². Além das casas, a vila ganhou alguma estrutura para conseguir caminhar com as próprias pernas: centros de atendimento social e de saúde, escolas de ensino e profissionalizante, mercado e igrejas.
Em pouco mais de um ano, as 2.150 residências praticamente iguais foram erguidas e a chegada das famílias aos poucos foi dando forma à nova vila. Partindo de uma praça central, quatro ruas dedicadas ao comércio concentravam o movimento, contrastando com a calmaria das 12 outras praças espalhadas pela Vila. Todas as casas foram servidas com abastecimento de luz e água, e tinham estrutura em alvenaria de tijolos e sótão em madeira, uma das marcas registradas do projeto.
A escolha por materiais e técnicas econômicas permitiu a prestação mais baixa do Brasil na época, acessível aos moradores. “Do ponto de vista do resultado, o destaque fica para a rapidez da conclusão e da qualidade final das casas entregues”, diz Willer. Segundo ele, o baixo custo das casas permitiu que a Vila Nossa Senhora da Luz fosse considerada “o maior projeto da COHAB em toda a história”.
A ideia da equipe que projetou o local era permitir que as famílias pudessem se desenvolver e, aos poucos, remodelar as próprias moradias. Desde a inauguração, engenheiros da COHAB auxiliaram moradores para pensar em modificações das casas e, em menos de cinco anos, muitas já tinham garagens, anexos e mais pavimentos.
* especial para a Gazeta do Povo