Urbanismo

Conheça a Rua da Liberdade, o primeiro “Centro Cívico” de Curitiba

Stephanie D'Ornelas*
12/02/2018 11:06
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Rua Barão do Rio Branco simboliza o processo de embelezamento que Curitiba passou no início do século 20. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

As cercanias da Praça Nossa Senhora de Salette, no coração do bairro Centro Cívico, em Curitiba, abrigam hoje os principais prédios governamentais do Paraná e de sua capital. Entre o final do século 19 e meados do 20, porém, as sedes do poder estiveram em uma única rua, que atravessa o centro e segue até o início do Rebouças. Era a Rua da Liberdade, que, em 1912, recebeu a denominação pela qual a conhecemos atualmente:  Barão do Rio Branco, uma homenagem ao então recentemente falecido ministro das Relações Exteriores.
A história da alameda nasceu com a implantação da Estação Ferroviária de Curitiba, em 1885. Era preciso ligar a área central, desde a Rua XV de Novembro, até o empreendimento, que abriu um importante canal de desenvolvimento socioeconômico para a cidade. Além das cargas que vinham e iam, a estrada de ferro que seguiria até Paranaguá trouxera um numeroso contingente de técnicos e engenheiros europeus, que trabalharia não só nesta, mas em muitas outras obras da cidade que se expandia, deixando marcas do estilo do Velho Continente em edificações da época.

Expansão urbana

A posição da antiga estação ferroviária no mapa da cidade – localizada onde estão, hoje, o Shopping Estação e o Museu Ferroviário de Curitiba – foi estratégica para a amplificação da cidade, que até então era restrita ao núcleo central. “Como aquela região da Praça Generoso Marques até a estação era praticamente descampada, foi uma sacada muito interessante. A estação foi colocada lá pensando que haveria um público maior de viajantes, o comércio se intensificaria na região, seriam criados hotéis no entorno”, explica o historiador Marcelo Sutil, diretor de patrimônio cultural da Fundação Cultural de Curitiba.
Fachada da antiga Estação Ferroviária de Curitiba, que atualmente acomoda o Shopping Estação e Museu Ferroviário de Curitiba. Foto: Arthur Wischrak/Casa da Memória de Curitiba.
Fachada da antiga Estação Ferroviária de Curitiba, que atualmente acomoda o Shopping Estação e Museu Ferroviário de Curitiba. Foto: Arthur Wischrak/Casa da Memória de Curitiba.
E foi, de fato, o que aconteceu. Símbolo da nova linha de crescimento, casarios, hotéis e lojas se multiplicaram no trecho, enquanto a indústria se aproximou nos arredores com fábricas de fósforos, engenhos de erva mate e madeiras. A Rua da Liberdade transformou-se em símbolo desse progresso com seus suntuosos palácios e comércios variados. A influência política, comercial e social cresceu com a implantação dos prédios governamentais na via, que recebeu a alcunha de Rua do Poder.

Endereços da governança

Ao longo do trajeto da rua foram instalados o Palácio do Congresso Provincial, o Palácio do Governo e a Prefeitura. O primeiro, construído em 1891, abrigou a Assembleia Legislativa do Paraná, o Conselho Deliberativo do Estado, e, em 1957, foi transformado na Câmara Municipal de Curitiba, instalada definitivamente no local em 1963. Já o casarão que sedia hoje o Museu da Imagem e do Som (MIS-PR), recentemente revitalizado, hospedava o Palácio do Governo. Construído na segunda metade do século XIX, o prédio foi sede do governo estadual desde 1891 até 1938. No encontro das ruas Riachuelo com a Barão, na Praça Generoso Marques, o Paço da Liberdade, um dos prédios mais elegantes da cidade, abrigou a Prefeitura entre 1916 até 1969, quando esta foi transferida para o Palácio 29 de Março.
O arruamento amplo da Rua da Liberdade foi também cenário de importantes eventos cívicos da história, como a partida do Barão do Serro Azul para a Revolução Federalista que ceifou-lhe a vida, em 1984; a triunfante chegada do tiro de guerra 19 Rio Branco, em 1910; os desembarques de Afonso Pena e Santos Dumont; e, ainda, visitas presidenciais e principescas, como informa boletim histórico da Casa Romário Martins.
Desfiles militares reuniam milhares de moradores da capital da província, como no ato realizado no dia 2 de setembro de 1917. Foto: Antonio Linzmeyer/Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Paraná/Casa da Memória de Curitiba.
Desfiles militares reuniam milhares de moradores da capital da província, como no ato realizado no dia 2 de setembro de 1917. Foto: Antonio Linzmeyer/Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico do Paraná/Casa da Memória de Curitiba.

Passado glorioso

Casarões que pertenciam à elite provinciana dão ares históricos à paisagem da Barão de hoje, assim como hotéis que tiveram a Liberdade como morada. O mais antigo deles, o Hotel Roma, foi restaurado e funciona até hoje como hostel. Quem caminha pela rua atualmente pode observar ainda edificações como a antiga sede do tradicional Clube Curitibano, na esquina com a Rua XV de Novembro. No início do século passado, o terreno pertenceu ao Grande Hotel, que chamava a atenção pelos banquetes oferecidos a presidentes da República e grandes personalidades.
*Especial para a Gazeta do Povo

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