Quais as principais estratégias das três cidades mais inteligentes do mundo?
Viena desponta no ranking das cidades inteligentes com ações integradas em diversas áreas. Foto: Bigstock.
Para construir uma cidade inteligente, é preciso traçar boas estratégias. Porém, mais importante que isso, é colocá-las em prática. Essa é a tese apresentada pela empresa alemã de consultoria estratégica Roland Berger no ‘Smart City Strategy Index 2019’ (SCSI 2019), relatório que elencou as cidades inteligentes mais preparadas para o futuro a partir da análise dos planejamentos e ações de 153 smart cities. Viena, na Áustria, foi coroada como a melhor smart city do mundo, pela segunda vez consecutiva. Londres, na Inglaterra, vem em seguida, acompanhada pela cidade canadense St. Albert.
O trio obteve o melhor desempenho nos 12 critérios considerados pelos estudiosos da empresa alemã como essenciais para as cidades inteligentes. Seis estão no campo da ação: a gestão inteligente da energia e meio-ambiente; mobilidade; saúde; governança e de edificações. Os demais critérios são os que permitem a execução das ações estratégicas: infraestrutura (que inclui dados abertos e internet de alta velocidade para a população); estrutura política e legal; engajamento dos cidadãos e demais atores urbanos; coordenação administrativa e prioridade executiva; planejamento com metas mensuráveis e orçamento.
A partir desses critérios, as cidades foram avaliadas considerando a pontuação máxima como 100 pontos. Viena, Londres e St. Albert pontuaram, respectivamente, 74, 73 e 72. Apenas 15 das 153 smart cities obtiveram pontuação superior a 60, valor que indica que as estratégias planejadas pelas cidades são abrangentes, com atividades e metas detalhadas em todos os critérios. De acordo com o relatório, apenas oito cidades estão em estado avançado de execução dos seus planos, com uma ampla gama de projetos ativos ou concluídos.
A campeã: Viena
Não é só no estudo alemão que Viena é celebrada como a cidade mais inteligente do mundo. Neste ano, pela 10ª vez consecutiva, a capital austríaca ocupou o primeiro lugar no ranking global da Mercer sobre cidades com a melhor qualidade de vida. O último índice global sobre cidades da revista britânica ‘The Economist’, publicado em 2018, também coloca Viena à frente de todas as outras cidades do mundo.
“A capital austríaca lidera em razão de sua estratégia integrada e soluções inovadoras para mobilidade, meio ambiente, educação, saúde e administração, como também do sistema que monitora o progresso de todos os projetos individualmente”, explica Thilo Zelt, sócio da Roland Berger.
A estratégia de Viena é garantir qualidade de vida para os cidadãos e equilíbrio social, garantindo o uso de recursos de maneira sustentável e utilizando soluções inovadoras. A Smart City Vienna Agency, unidade que integra ações da administração da capital austríaca às áreas de pesquisa, negócios e indústria, criou um plano de longo prazo para a cidade, definindo 38 objetivos para 2025, 2030 e 2050.
Algumas das principais metas da cidade para as próximas décadas incluem a área da educação, com o fortalecimento de escolas integrais de alta qualidade para crianças e jovens, e incentivo para que os cidadãos continuem em instituições de ensino mesmo depois de encerrarem o período de educação obrigatória. Até 2050, a cidade pretende se transformar em um dos cinco maiores polos europeus de pesquisa e inovação.
No quesito administrativo, Viena quer se tornar a cidade europeia mais progressista em relação à transparência governamental até o próximo ano. Outros objetivos importantes para a smart city europeia são manter um sistema de saúde público, forte e socialmente equitativo; preservar as áreas verdes mesmo com o crescimento da cidade e fortalecer o transporte público, incentivando a caminhada e o ciclismo e diminuindo o tráfego individual motorizado na cidade para 20% até 2025, 15% até 2030 e menos de 15% até 2050.
Viena também quer garantir que todas as pessoas na cidade tenham boas condições de vida, vizinhança e segurança, independentemente de sua origem, condição física e psicológica, orientação sexual e identidade de gênero. Para isso, a Smart City Vienna Agency ressalta em seu plano os objetivos de oferecer habitações de qualidade a preços acessíveis para toda a população e de garantir que os trabalhadores sejam remunerados de maneira adequada, de forma que tenham acesso a todas as necessidades básicas da vida.
Londres olha para o futuro
Quando falamos de smart cities, Londres parece ser uma fonte inesgotável de inspiração. Algumas iniciativas recentes da cidade incluem a cobrança de taxa para a circulação de veículos poluentes na região central da capital da Inglaterra, como tentativa de reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera e melhorar a saúde respiratória dos londrinos; a instalação de bebedouros públicos para combater o uso de garrafas plásticas e a transformação gradual da Oxford Street em uma rua exclusiva para pedestres.
O SCSI 2019 destaca a iniciativa londrina de desenvolver ruas com infraestrutura inteligente, com tecnologias como postes que fornecem não só iluminação, mas também wi-fi, sensores de qualidade de ar e pontos de carregamento de veículos elétricos. Além disso, a capital inglesa desenvolveu plataformas online, como o London Datastore, que permitem que qualquer pessoa acompanhe o progresso dos projetos, podendo verificar áreas de potencial melhoria.
A pequena canadense
Com cerca de 53 mil habitantes, a cidade canadense St. Albert pode ser considerada pequena em relação a Viena, que tem mais de 1,8 milhão de habitantes, e Londres, com mais de 8 milhões. Mas ela é gigante em seu desenvolvimento como smart city. Publicado em 2016, o plano diretor da cidade inteligente apresenta 22 estratégias que integram aspectos tecnológicos e inovadores. Os três principais objetivos desse plano são a melhoria da prestação de serviços aos cidadãos, o desenvolvimento econômico e a eficiência organizacional.
Um exemplo de tecnologia inteligente utilizada em St. Albert são os seus semáforos. No ano passado, foram instalados sistemas inteligentes de transporte para melhorar o fluxo de tráfego da cidade, que funcionam a partir da coleta de dados e monitoramento das vias. Essas informações são usadas para que os sinais de trânsito funcionem de maneira personalizada a fim de evitar a formação de congestionamentos.
“St. Albert é uma comunidade que reconhece o valor de enfrentar seus desafios por meio de inovação, colaboração, e pela aplicação de novas tecnologias para benefício público. Essa abordagem é a essência de como a comunidade se define como uma smart city”, diz o site oficial do plano diretor.
Avanço asiático
Apesar da Europa e América do Norte dominarem o top três do ranking SCSI 2019, é a Ásia que detém o melhor desempenho em relação aos continentes. A média asiática foi 48,2 pontos, em comparação aos 41,8 da América do Norte, 41,8 da América do Sul, 37 da Europa e 32,1 do continente africano.
As cidades asiáticas também dominam numericamente o top 15 do ranking. Cinco delas são chinesas: Xangai (6ª colocação), Chongqing (8ª), Shenzhen (9ª), Dalian (11ª) e Cantão (14ª). A capital da Coreia do Sul, Seul (12ª), a cidade-estado Cingapura (4ª) e a cidade indiana Davanagere (15ª) também estão presentes no top 15.
Brasil na lista
Duas cidades brasileiras integraram a análise: Curitiba e Rio de Janeiro. De acordo com informações da Roland Berger, a capital paranaense está “no meio” do ranking. “Curitiba tem um forte desempenho nas áreas de planejamento estratégico e de mobilidade. Nossa avaliação mostra que há espaço para melhorias na maioria dos campos de ação – principalmente para política de tecnologia de informação e infraestrutura”, afirma Ulf Narloch, um dos responsáveis pelo estudo. Já o Rio de Janeiro ficou entre as 30 cidades com propostas e ações consideradas mais inteligentes.