Conheça o casal brasileiro que mora sozinho na 1ª smart city social do mundo
Fotos: Divulgação | Roberta Bertolini Braga
Martha Rodrigues Alves e Carlos Henrique da Silva Carneiro são lendas no município de São Gonçalo do Amarante, que fica a 60 km de Fortaleza, no Ceará. Não é para menos: ali, onde vivem pouco mais de 43 mil habitantes, eles são os dois primeiros – e até o momento únicos – moradores oficiais da Smart City Laguna, a primeira cidade inteligente social do mundo. “Tem gente que acha que somos um boato mesmo”, ri Martha.
A Laguna se assemelha a um “condomínio aberto” de grandes proporções – ou uma pequena cidade, que poderá abrigar até 25 mil moradores quando estiver completamente pronta, o que está previsto para 2021.
Tendo planejamento urbano e arquitetura, tecnologia, meio ambiente e pessoas, e inclusão social como pilares do projeto, a cidade pretende ser sustentável, acolher diversas classes sociais, promover o senso de comunidade a partir do compartilhamento de espaço e serviços, e oferecer qualidade de vida aos moradores. Para isso vai contar com energia limpa, bicicletas e carros compartilhados, espaços de lazer e cultura gratuitos, entre outros serviços e estruturas.
Martha e Carlos – ela, auxiliar administrativa; ele, agente de pesquisa – encantaram-se com a proposta e resolveram trocar a vida que levavam no Rio de Janeiro por uma mais tranquila na região metropolitana de Fortaleza, chegando ao local em 14 de janeiro de 2019. Desde então, nenhum outro morador se mudou e há quase quatro meses os dois moram na cidade inabitada. “A princípio, foi meio assustador, mas hoje está bem mais tranquilo”, diz Carlos.
Para não dizer que eles estão completamente sozinhos, o casal conta com a companhia dos seguranças da cidade, dos operários que trabalham na obra e de alguns funcionários da empresas responsáveis pelo local. “Oficialmente nós dois somos os primeiros moradores, mas os corretores têm ficado em uma das casas e tem um pessoal que faz pesquisa de mercado que também está em uma casa na nossa quadra. Aí temos uns vizinhos”, diz Martha.
Junto com eles, o casal se encarrega de ocupar e dar vida à cidade. “Eu trabalho no hub de inovação [que fica dentro da Smart City], aí passo parte do dia lá, e venho almoçar em casa. Às vezes, nós saímos correr pela cidade, às vezes andamos de bicicleta. E se ele não pode ir comigo, chamo uma das meninas da pesquisa”, conta a auxiliar administrativa. Quando o objetivo é encontrar mais pessoas, o casal vai até o centro de São Gonçalo do Amarante, que fica a aproximadamente 15 minutos de bicicleta de Laguna.
Caminho inverso
Tanto Martha quanto Carlos são cearenses, mas ambos estavam vivendo no Rio de Janeiro quando souberam da construção da Smart City Laguna, há três anos. “Eu vi o vídeo de divulgação e achei interessante. Cheguei a comentar com ele, mas achamos que seria impossível fazer esse investimento, que seria caro”, conta Martha.
Pouco tempo depois, ela precisou ir ao Ceará e aproveitou para conhecer o local. “Minha prima já tinha comprado o lote dela, minha tia também. Viemos conhecer e um corretor mostrou tudo para mim”, lembra. De volta ao Rio, o contato com o corretor foi mantido e, sem muita demora, a compra foi fechada.
A espera foi de aproximadamente dois anos e meio. Em dezembro, o casal saiu do Rio de Janeiro e se mudou para o Ceará, percorrendo mais de 2,5 mil quilômetros para isso. E em janeiro, eles puderam entrar na casa nova. “Eu passei a vida inteira no Rio e ele morou por três anos lá. Temos família aqui, mas deixei meus pai e minha irmã lá. Fiz o caminho inverso do que meus pais fizeram quando eu era bebê”, diz.
Expectativas
Apesar de já estarem adaptados à vida na cidade quase deserta, o casal está ansioso pela chegada de novos moradores – o que, conforme Carlos, deve começar a acontecer até o fim do mês de maio. De acordo com eles, na parte da cidade que está pronta há dezenas de casas que já estão aptas a receber ocupantes.
Além de significar mais companhias, os novos vizinhos vão permitir que Martha e Carlos experimentem, plenamente, o dia a dia que a Smart City se propõe a oferecer a seus moradores – e que tanto encantou os dois. “[Nos chamou a atenção] a ideia de ser acessível para todas as classes e o acesso a todos os tipos de coisas, como horta compartilhada, piscina compartilhada, parque para as crianças. Além de ser uma cidade que vai ajudar o meio ambiente, e a Martha e eu sempre vivemos dentro desse critério”, explica Carlos.
Para Martha, a Smart City vai ser o lugar ideal para quem quer, de fato, aproveitar a vida. “Na minha rotina no Rio, eu levava uma hora só para chegar no trabalho e morava no bairro ao lado. Aqui, se eu for a pé, demoro uns 10 minutos. Então, para quem busca qualidade de vida, aqui vai ser o lugar. O principal objetivo é viver, além de morar, entende?”, avalia Martha.
*Especial para HAUS.