Urbanismo
O impacto da tecnologia na mobilidade urbana e como a Uber planeja ser mais barata
Uber Pool e Uber Pool Express são serviços que começarão a operar no Brasil.
Gui Telles é um exemplar brasileiro dos executivos do Vale do Silício. Diretor geral da Uber no Brasil desde 2014, sua visão sobre o impacto da tecnologia na sociedade — e, mais especificamente, da Uber na mobilidade urbana — é o mais otimista possível, prevendo profundas mudanças na cidade através da reconfiguração do uso dos carros.
Por ocasião do seminário O Futuro do Consumo, realizado pela ONG Proteste no qual ele discursou sobre o futuro da mobilidade, Telles concedeu uma entrevista exclusiva à HAUS. O diretor explicou como a Uber tem contribuído para a otimização da mobilidade urbana nas cidades em parceria com o poder público através de uma plataforma aberta de dados. Além disso, explicou o processo que antecede o lançamento de dois serviços da Uber no Brasil, o Uber Pool — quando o carro realiza múltiplas corridas ao mesmo tempo, levando passageiros com trajetos que coincidem — e o Uber Pool Express — quando o usuário se dispõe a andar algumas quadras para otimizar o trajeto do motorista, barateando o custo total em até 40% do valor da viagem.
Confira a entrevista:
A discussão sobre cidades inteligentes sempre traz como solução a aplicação concreta de análises de big data. O próprio serviço Uber Pool nasceu em parte da análise da base de dados que vocês tinham em mãos. Quais outros insights vocês podem trazer para a mobilidade urbana a partir disso?
O que a gente tem de mais interessante agora é uma plataforma aberta que o poder público consegue acessar. São dados que mostram informações como trânsito, tempo de espera e trajetos de forma agregada e ajudam no planejamento das cidades. [O Uber Movement ainda não está disponível no Brasil e pode ser visitado aqui].
Durante muito tempo a gente falou com o poder público e eles sempre falaram que adorariam ter acesso aos nossos dados, e a gente respondia que não podia, porque são dados de usuários e motoristas. Então, pensando nisso, a gente tem trabalhado nesse projeto que está o tempo todo mudando. Com essa plataforma online, os planejadores da cidade conseguem ver de onde saem as pessoas, para onde elas vão, e com isso melhorar o planejamento e, obviamente, a mobilidade das cidades.
A primeira preocupação que a gente tem é com relação à privacidade. A gente jamais utiliza dados de forma individualizada ou qualquer coisa que possa colocar em risco a privacidade e a segurança de motorista e passageiro: isso vai ser jogado no lixo.
Você comentou que muita gente pergunta se o maior desafio da Uber é a concorrência. Qual você vê que continua sendo o diferencial da Uber com relação a outros aplicativos de mobilidade?
Imagine que o carro, quando foi pedido via Uber, demorou quatro minutos, e com um outro aplicativo demorou dez. Por que essa diferença é tão relevante? Primeiro, óbvio, porque você como passageiro quer esperar menos. Agora, do ponto de vista do motorista, são seis minutos a mais que ele dirigiu sem ninguém no carro. Isso queima gasolina que, no final, aumenta o custo. Então provavelmente esse aplicativo vai ter que cobrar mais.
Pense para a cidade: se só tivesse esse outro aplicativo que demora dez minutos, o carro iria ficar todo esse tempo andando vazio pela cidade e gerando trânsito desnecessário, que se fosse com Uber seria menos tempo. São coisas assim que começam a trazer uma diferença e que podem parecer pequenas mas, quando a gente para, pensa e analisa a gente vê que tem impacto muito grande.
Vocês começaram o mapeamento das ruas de Curitiba em março, processo que você mencionou ser essencial para o lançamento dos serviços Uber Pool e Uber Pool Express. Como está esse processo?
Ele ainda está em andamento. Quando os equipamentos chegaram ao Brasil, a gente já colocou os carros nas ruas e passou fazer isso literalmente a toda velocidade permitida. Hoje, 50% das cidades já foram mapeadas. A gente começou pelas capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, e a expectativa é de que seja concluído muito em breve. Mas não a gente não precisa concluir no Brasil inteiro para começar a utilizar os mapas em uma cidade já finalizada: se já fechou São Paulo, já consegue usar os mapas novos em São Paulo.
Uma das belezas da tecnologia é que, se você tem um produto novo, você consegue pegar um grupo de usuários, colocar e ver como funciona na prática, melhorar e só depois começa a expandir e lança para outros grupos de usuários. Tudo o que a gente faz, a gente gosta de testar antes.
Onde vocês costumam realizar esses testes? Os lugares escolhidos têm a ver com uma certa cultura de early adopters da Uber ou não necessariamente?
Não, a gente que escolhe [a cidade onde serão feitos testes]. Se a pessoa já está utilizando Uber, pra gente tanto faz. E não é que a gente pergunta se você quer usar esse serviço novo: a pessoa às vezes nem vai saber que ela está testando, ela vai ser escolhida por alguns critérios.
Na verdade, a gente prefere não utilizar as maiores cidades para testes porque, se dá errado, dá muito errado. Muitas vezes a gente pega cidades menores, que refletem um pouco as características do Brasil.
E como se dá essa escolha?
Imagine que a gente quer testar um sistema novo que ajuda o GPS com base no relevo. Vamos pegar uma cidade como Belo Horizonte, com muita subida e descida, pra ver se funciona. Então é muito mais pensar na característica e definir o que é sucesso para esse teste e e então pensar em qual a cidade ou região que tem melhor essas qualificações pra gente conseguir fazer um teste que de fato dê informações interessantes.
No caso dos mapas, não vai ser diferente: a gente vai lançá-los e vão ter problemas; sempre tem problemas. Mas a gente vai fazer os ajustes necessários para que, com base nesses mapas, a gente consiga lançar produtos. O Uber Pool Express é só o primeiro deles.