Urbanismo
No rol das cidade inteligentes, Curitiba terá conexão direta com o Vale do Silício
Curitiba sediou o Smart City Expo World Congress, pela primeira vez no Brasil. Essa foi uma das iniciativas da cidade que busca se destacar como cidade inteligente. Foto: Aniele Nascimento / Gazeta do Povo.
As inovações urbanísticas e cuidado com o meio-ambiente tornaram Curitiba internacionalmente famosa no passado. Agora, a cidade olha para o futuro. E o restante do mundo olha novamente para a capital paranaense, agora em busca de novas propostas para o desenvolvimento de cidades inteligentes. Neste ano, Curitiba passou a integrar o seleto grupo de cidades que recebem o maior evento que discute smart cities do mundo, o Smart City Expo World Congress (SCE). O evento, que acontece anualmente em Barcelona desde 2012, foi exportado para cidades como Quioto, Istambul, Montreal e Buenos Aires. A primeira edição brasileira foi realizada nos últimos dias 28 de fevereiro e 1º de março — um presente para a cidade no mês em que completa 325 anos, no próximo dia 29.
MAIS SOBRE SMART CITY
No segundo dia do evento (1º), o prefeito de Curitiba Rafael Greca assinou um acordo de cooperação que cria o Observatório Brasileiro de Cidades Inteligentes (OBCI), com sede em São Francisco, nos Estados Unidos. A iniciativa visa aproximar o Brasil das tecnologias e soluções desenvolvidas no Vale do Silício, região que é sede da Universidade de Stanford e de empresas como Google, Facebook e Apple. O observatório, que é uma iniciativa do Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), da Federação Nacional das Empresas de Software (Assespro) e da empresa paranaense iCities Smart Cities Solution, terá como objetivo pesquisar, traduzir e disseminar conhecimento tecnológico de interesse público.
André Telles, diretor de marketing da iCities, acredita que o acordo será um incentivo para políticas públicas na área de cidades inteligentes. “O estado da Califórnia, especialmente na cidade de São Francisco e região, tem um PIB superior a todo o PIB do Brasil, porque grande parte das empresas tecnológicas que buscam soluções para diversos problemas relacionados a questões urbanas estão lá. O objetivo do observatório é justamente buscar as melhores práticas de políticas públicas que estão acontecendo no Vale do Silício e trazer para o Brasil”, explica.
O observatório tem a chancela do Consulado Geral do Brasil em São Francisco, representado pelo embaixador Pedro Henrique Lopes Bório, que destaca a importância do acordo de cooperação para o Vale do Pinhão – programa da Prefeitura de Curitiba que estimula a conexão entre os diversos agentes do ecossistema da cidade, para que atuem em conjunto e fortaleçam o desenvolvimento de negócios inovadores na capital – que foi criado, inclusive, em referência ao Vale do Silício. “O Brasil tem a obrigação de se manter na vanguarda das cidades inteligentes depois de receber o reconhecimento da Fira Barcelona com a realização do Smart City Expo. A função do OBCI vai ser acompanhar de perto as discussões em São Francisco, numa conexão direta com o Vale do Pinhão”, afirmou Bório, em depoimento gravado em vídeo para o evento.
Inovação no DNA da cidade
Foi a Fira Barcelona, um consórcio público espanhol formado pela Câmara de Comércio de Barcelona e pelo Governo da Catalunha, que elegeu a capital paranaense como cidade inteligente e sede da edição brasileira do Smart City Expo, concedendo a chancela do evento para a empresa iCities por quatro anos. Com isso, o congresso deve ser realizado novamente em Curitiba nos próximos três anos, pelo menos, com o apoio do WTC Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba.
O evento recoloca a capital paranaense como referência de cidade inteligente no cenário internacional, na opinião de Frederico Lacerda, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, entidade ligada à Prefeitura de Curitiba que tem a finalidade de fomentar a atividade econômica da cidade. “O evento nos coloca em contato com as soluções mais atuais do ponto de vista de inovações urbanas e mostra para o resto do mundo o que tem sido feito e desenvolvido em Curitiba”, afirma Lacerda.
Curitiba foi escolhida para abrigar o SCE por ter um “DNA de inovação”, segundo Telles. “A cidade se destaca desde a década de 1970 devido às questões urbanística, de meio-ambiente e à cultura da separação do lixo”, diz. Em 2009, a cidade foi citada como uma das cidades mais inteligentes do mundo pela Forbes, e, em 2015, foi considerada a mais sustentável da América Latina pelo Índice Verde de Cidades, realizado pela Siemens com a Economist Intelligence Unit.
A primeira edição do SCE no Brasil foi considerada um sucesso pelos organizadores. Reuniu 5.577 profissionais, incluindo congressistas de 25 países, e foi ponto de encontro entre 50 cidades do Brasil e da América Latina. O congresso recebeu 84 palestrantes nacionais e internacionais que compartilharam experiências em quatro áreas principais: tecnologia disruptiva; governança; futuras cidades sustentáveis; inovação digital e desenvolvimento econômico.
Vale do Pinhão em foco
O Vale do Pinhão teve um espaço exclusivo na feira para mostrar aos participantes as soluções tecnológicas produzidas pelas startups da cidade. Entre os projetos inovadores essencialmente curitibanos apresentados na Smart Plaza, destacaram-se o Adam Robô, desenvolvido pela startup Prevention, um robô capaz de pré-avaliar um paciente e realizar testes para diagnosticar doenças como miopia, hipermetropia, presbiopia e astigmatismo e, também, os óculos de realidade virtual desenvolvidos pela empresa Bee Noculus VR, que criou uma experiência exclusiva para o evento.
“As smart cities têm como eixo a inovação e a tecnologia, impulsionando uma sociedade colaborativa. Em Curitiba, o Vale do Pinhão tem essa missão de estimular empreendedores, startups, universidades, investidores, grandes empresas e o terceiro setor a atuarem em conjunto para fortalecer o desenvolvimento de negócios inovadores na capital, principalmente, na área de economia criativa e tecnologia”, conta Lacerda. Para o presidente da Agência Curitiba, o SCE é uma oportunidade para que a capital receba grandes empresas e as soluções que desenvolveram em suas cidades, além de articular negócios com as startups locais.
Cidades inteligentes
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 70% da população mundial viverá em cidades em 2050. Até lá, a organização espera que a população aumente para aproximadamente 9,8 bilhões de pessoas — o que representa cerca de 2,2 bilhões de pessoas a mais no planeta nas próximas décadas. As cidades de todo o globo enfrentam desafios semelhantes neste contexto de expansão: congestionamento, poluição, violência e falta de habitação, saúde e educação adequada e acessível são alguns deles. O conceito de smart cities (ou cidades inteligentes, em português), surgiu como uma aposta para melhorar a infraestrutura das cidades e torná-las mais eficientes para os cidadãos através do uso da tecnologia.
*Especial para a Gazeta do Povo.