Urbanismo

Crochê vira arte urbana e dá cor às cidades em várias iniciativas pelo mundo

Stephanie D'Ornelas*
15/01/2018 09:30
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Instalação em Cingapura adicionou a atmosfera aconchegante do crochê à cidade. Foto: © 2017 Choi+Shine Architects

Não só de spray e tintas vive a arte urbana. Fios coloridos e agulhas também se transformam em matéria-prima nas mãos de artistas que levam o crochê para a arquitetura da cidade. Este movimento artístico tem nome: é o “yarn bombing” (bombardeio de fios, em tradução livre). A designer e empresária Jeniffer Padilha integra o Coletivo Mãos Urbanas, que leva esse tipo de intervenção para Curitiba.
Prédio histórico da UFPR recebeu as cores da grande peça em crochê. Foto: Samira Neves/ACS UFPR
Prédio histórico da UFPR recebeu as cores da grande peça em crochê. Foto: Samira Neves/ACS UFPR
Desde criança Jeniffer tem o crochê como hobby e levar essa atividade para a arquitetura é algo gratificante para ela. “O crochê é uma forma de chamar atenção. Às vezes, a pessoa passa por vários locais da cidade e não vê um objeto, mas se você coloca algo de crochê, ela vai olhar. Você redireciona o olhar da pessoa”, conta. “Se ninguém nota uma estátua e você coloca um cachecol nela, todo mundo vai olhar”.
Sacada da Casa Hoffmann  foi um dos locais decorados pelo coletivo. Foto: Coletivo Mãos Urbanas/ reprodução Facebook
Sacada da Casa Hoffmann foi um dos locais decorados pelo coletivo. Foto: Coletivo Mãos Urbanas/ reprodução Facebook
No ano passado, as obras coloridas do coletivo transformaram temporariamente o cenário de Curitiba, incluindo a fachada do prédio histórico da UFPR, bancos de madeira da Reitoria e a sacada da Casa Hoffmann. Uma árvore em frente ao Museu Alfredo Andersen recebeu apetrechos rendados e foi muito elogiado pelos funcionários da instituição. “É um museu que quase não tinha visitantes, e o crochê chamou atenção para ele”, lembra Jeniffer.
Intervenção feita no Museu Alfredo Andersen. Foto: Valeria Tessari/Divulgação
Intervenção feita no Museu Alfredo Andersen. Foto: Valeria Tessari/Divulgação

Arte de guerrilha

Karen Dolorez transforma suas inquietações em arte urbana. A artista visual residente de São Paulo é designer por formação, mas foi no crochê que encontrou sua verdadeira paixão. Suas obras envolvem questionamentos relacionados à ocupação de espaços públicos, arte de guerrilha, feminismo e amor. “Fico muito feliz quando consigo passar uma mensagem através da arte e quando tenho uma resposta das pessoas na compreensão e especialmente na identificação com o meu trabalho. Perceber que de alguma forma as pessoas se identificaram, se inspiraram e vão conseguir sair do lugar que estão é muito gratificante”, diz Karen.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Sua história com a arte manual começou na infância, quando sua mãe a ensinou a crochetar. “Quando retomei o crochê foi incrível, pois vi ali uma maneira de me expressar, de falar de coisas que não conseguia e também de me conectar com pessoas que eu não alcançava”, conta a dona das agulhas.
Foto: Lucas Cella Hirai/Reprodução/Facebook
Foto: Lucas Cella Hirai/Reprodução/Facebook
Assim como os grafites que são eventualmente cobertos por tinta ou outras intervenções, a relação das obras de crochê com a cidade também pode ser efêmera. Uma vez que está na rua, a peça está sujeita a modificações. “Quando a obra é tátil, como a de crochê, a duração da obra pode ser ainda menor, alcançando a média de uma semana”, revela Karen. Ela lembra sua tristeza da primeira vez que viu que uma de suas obras havia sido retirado da rua. Depois, passou a ver essa espécie de relação como uma resposta inerente a esse tipo de trabalho.

Instalação interativa

O escritório Choi + Shine Architects criou belas instalações interativas para o Light Marina Bay Festival, evento sobre sustentabilidade realizado em março deste ano em Cingapura. Batizadas como The Urchins (“Ouriços”), as imensas bolas de crochê foram costuradas à mão por 50 pessoas.
Instalação recebeu iluminação especial durante a noite. Foto: © 2017 Choi+Shine Architects
Instalação recebeu iluminação especial durante a noite. Foto: © 2017 Choi+Shine Architects
Ao longo do dia e das diferentes posições do sol, a instalação criava um lindo jogo de luz e sombras. As bolas gigantes também se moviam com o vento ou quando os visitantes as tocavam.
Obras permitiram a interatividade com o público. Foto: © 2017 Choi+Shine Architects
Obras permitiram a interatividade com o público. Foto: © 2017 Choi+Shine Architects

Casas cor-de-rosa

Refugiados ajudaram a produzir a instalação. Foto: Reprodução
Refugiados ajudaram a produzir a instalação. Foto: Reprodução
A artista Olek, de Nova York, é conhecida por envolver grandes superfícies em crochê. No ano passado, ela revestiu duas casas inteiras com linhas cor-de-rosa. As instalações, na Suécia e na Finlândia, foram feitas para chamar atenção para a situação dos refugiados que foram forçados a deixar suas casas para fugir dos conflitos de seus países.
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Para Olek, a casa rosa é símbolo de um futuro melhor, de esperança e ajuda mútua, em que todos tenham um local para chamar de lar. “Nossa casa rosa é sobre jornada, não apenas sobre uma obra de arte. É sobre nós nos reunindo em comunidade. É sobre um ajudar o outro. Na pequena comunidade de Avesta, na Suécia, nós provamos que juntos somos mais fortes, que podemos fazer qualquer coisa acontecer juntos”, contou a artista em seu site.

Good vibes e feminismo

A artista Julia Riordan deixa as ruas mais divertidas com o uso de peças em crochê. Ela espalha obras de estilos diversos por estruturas urbanas, incluindo mensagens good vibes e feministas. A maioria de suas obras são instaladas em Estocolmo, na Suécia, cidade em que reside. Porém, a artista sempre deixa sua marca em outras cidades europeias quando está viajando.
Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram
Julia começou a se aventurar no mundo do crochê e tricô com apenas dez anos. Desde então, ela não parou de explorar o que poderia criar com as linhas coloridas. “Eu estudei em um curso intensivo de tricô em Brighton, onde eu aprendi a costurar usando uma máquina. Foi muito bom estar em um ambiente tão criativo, eu nunca tinha experimentado nada parecido”, contou a artista em entrevista ao portal Radar Collective.
Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram
*Especial para a Gazeta do Povo.

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