Boom de novos empreendimentos imobiliários oprime a vida nos bairros

The New York Times
18/08/2019 15:00
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Duas casas espremidas por novos empreendimentos imobiliários na Lenox Road, na região do East Flatbush, no Brooklyn. Foto: Stefano Ukmar/The New York Times | NYT

Quase 40% dos imóveis à venda ou para alugar em Nova York estão localizados a menos de 160 metros – cerca de um ou dois quarteirões – de uma nova construção residencial, segundo análise do mês de junho feita pela Localize.city, um site que disponibiliza informações sobre os bairros e os imóveis colocados à disposição para compra ou aluguel.
Para as pessoas que preferem um apartamento em um prédio novo, as chances são ainda maiores: quase 70% das residências disponíveis construídas após 2016 estão nesse raio de distância.
“Os dados não deixam dúvida: se você estiver se mudando nos próximos meses, as chances de ter um prédio em construção a um quarteirão de você são muito grandes”, declara Nir Gonen, cientista de dados da Localize.city.
Construction workers walk on June 12, 2019, along a stretch of Lenox Road in the East Flatbush section of Brooklyn which once had a continuous row of one- and two-family houses. Now several of the houses are sitting empty, in preparation for demolition. (Stefano Ukmar/The New York Times)
Construction workers walk on June 12, 2019, along a stretch of Lenox Road in the East Flatbush section of Brooklyn which once had a continuous row of one- and two-family houses. Now several of the houses are sitting empty, in preparation for demolition. (Stefano Ukmar/The New York Times)
Os bate-estacas parecem tão comuns quanto os pombos em Nova York hoje em dia, mas a nova onda de construções está se afastando de Manhattan em direção a bairros antes menosprezados, no Brooklyn e no Queens, onde as construtoras têm sido seduzidas pelos baixos preços dos terrenos e pelas margens de lucro potencialmente mais altas.
A construção pode significar um barulho de matar, poeira, perda de luz e de vista, menos espaço para estacionar na rua e outros incômodos, poucos dos quais os vizinhos têm o direito de desafiar. Em áreas que antes não interessavam para o desenvolvimento especulativo, a euforia das construções pode forçar residentes antigos a ir embora por causa da dificuldade de arcar com o aumento do custo de vista e com impostos mais altos. Críticos afirmam que o problema não são os novos desenvolvimentos, mas a falta de moradias acessíveis entre eles.
E, para os recém-chegados, outra descoberta: nada fica novo por muito tempo. O Localize.city analisou mais de 31 mil imóveis à venda ou para alugar na cidade em junho, em todos os subdistritos, com exceção de Staten Island, por falta de dados suficientes. Usando os registros de licenças, a empresa calculou a distância de prédios residenciais sendo construídos; as licenças para restaurações e conversões não foram incluídas.
Alyce Chan on the rooftop of her apartment building in the Greenpoint section of Brooklyn on June 12, 2019. Chan bought a two-bedroom unit four years ago, but says her growing family can't afford to stay in the area because all the new development has driven prices up.  (Stefano Ukmar/The New York Times)
Alyce Chan on the rooftop of her apartment building in the Greenpoint section of Brooklyn on June 12, 2019. Chan bought a two-bedroom unit four years ago, but says her growing family can't afford to stay in the area because all the new development has driven prices up. (Stefano Ukmar/The New York Times)
Em um mercado já fraco para vendas, a perspectiva de tantas novas construções poderia se impor como mais um obstáculo para os nova-iorquinos que tentam vender suas casas. Em Greenpoint, no Brooklyn, onde 78 por cento de todos os imóveis disponíveis estão a cerca de 160 metros de uma nova construção, aqueles que estão à procura de um novo lar vão notar isso, disse Win Brown, corretor da imobiliária Core.
“Quando chegam para conhecer o local, olham direto pela janela e veem um prédio novinho de seis andares“, disse ele sobre um apartamento de dois quartos que está sendo vendido ali a pedido da cliente Alyce Chan. “E perto dele tem um terreno vazio de 45 metros onde há claramente uma construção.”
“É uma enorme preocupação”, complementou, porque os compradores podem imaginar tudo que uma construção implica: o barulho, a mudança de vista, o trânsito nas ruas. Nesse caso, a vaga de estacionamento é comprada junto com a unidade, mas geralmente os novos residentes precisam contar com as cada vez mais raras vagas de rua para estacionar, disse ele.
Chan, que comprou seu apartamento de dois quartos em Greenpoint há quatro anos com o marido, disse que está triste de vendê-lo, porque a grande expansão de construções trouxe recursos necessários para a área: novas lojas, restaurantes e opções de creches para seus dois filhos pequenos. O prédio, parte de uma antiga fábrica de lápis convertida em apartamentos, foi concluído em 2010. Agora, entretanto, eles precisam de mais espaço para os filhos e encontrar um lugar de três dormitórios na região está fora de cogitação.
Duas casas espremidas por novos empreendimentos imobiliários na Lenox Road, na região do East Flatbush, no Brooklyn. Foto: Stefano Ukmar/The New York Times
Duas casas espremidas por novos empreendimentos imobiliários na Lenox Road, na região do East Flatbush, no Brooklyn. Foto: Stefano Ukmar/The New York Times
“Simplesmente, não cabe mais no nosso bolso”, justificou Chan, que produz um programa de comédia chamado “Bring Your Own Baby” em uma livraria da região. “Provavelmente, teremos de ir para o subúrbio”, acrescentou, observando que estão procurando casas em Westchester County.
Algumas das zonas de construção mais frenéticas estão próximas de grandes conglomerados viários no oeste do Queens e no norte do Brooklyn, onde o rezoneamento entre o início e a metade dos anos 2000 permitiu que construtoras erguessem projetos residenciais mais altos e mais adensados.
“Nosso quarteirão realmente tem sido devastado”, lamentou Judy Spence, terapeuta ocupacional aposentada que comprou uma casa geminada em estilo vitoriano, em 1973, em um pedaço da Rodovia Lenox em East Flatbush, onde antes havia uma longa fileira de casas similares. Agora, ela e uma vizinha estão esmagadas entre um prédio de seis andares de um lado e um de sete andares do outro, seu jardim frontal gramado e a varanda parcialmente cobertos pela sombra.
E o que restou das casas pitorescas de telha e tijolos antes perfiladas no quarteirão? Há ainda quem resista. Pearl Steele, que vive com os pais, Maximus e Violet Thom, adotou como regra não atender telefonemas de números desconhecidos, pois pode acabar na linha com outro construtor.
A vizinha de um lado já vendeu seu imóvel e uma cerca de construção agora está bloqueando parte da entrada de Steele. Apesar da cerca, a família dela possui um dos jardins mais belos da vizinhança, cuja vista só é parcialmente obstruída por placas que pedem aos representantes legais que não toquem a campainha.
E, se um construtor conseguir passar pelo portão fechado ou não for pego pelo identificador de chamadas de Steele, a mensagem dela é seca: “Não está à venda – tchau.”

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