Urbanismo

Adianta ter internet no ônibus se o transporte público está cheio de problemas?, questiona evento de mobilidade

Aléxia Saraiva*
22/03/2018 22:02
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Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo | Gazeta do Povo

Os problemas enfrentados na mobilidade por diversas cidades brasileiras são analógicos e anteriores à tecnologia, e deveriam ser prioridade. “Eventos de smart cities estimulam as empresas a desenvolverem tecnologia sem se perguntar qual é a prioridade daquela cidade. Do que adianta WiFi no ônibus se o transporte público está lotado e se as mulheres sofrem assédio sexual?”, alerta Jorge Abrahão, coordenador da Rede Nossa São Paulo e do programa Cidades Sustentáveis.
Sua fala integrou o Seminário Internacional Futuro do Consumo. Promovido pela ONG Proteste, maior entidade de defesa do consumidor da América Latina, o evento aconteceu nesta quinta-feira (22) em São Paulo e apresentou várias facetas do que se pode esperar da tecnologia em áreas como mobilidade, design e urbanismo.
Foto: Aléxia Saraiva/Gazeta do Povo
Foto: Aléxia Saraiva/Gazeta do Povo
O debate foi mediado pela jornalista Isabela Leite. Também estavam presentes no talk show o secretário de mobilidade do Governo do Distrito Federal Fábio Damasceno e o publisher do Portal Ecycle Onofre de Araújo Neto.
Damasceno apresentou algumas das soluções de transporte implementadas na região de Brasília, como um novo biocombustível a ser utilizado na frota de 2700 ônibus e primeiros ônibus elétricos. Ele questiona que projetos de mobilidade são impossíveis de serem planejados e executados no período de um mandato, já que cada governo tem uma nova perspectiva. “Precisamos de uma política de estado, e não de uma política de governo; e a participação popular pode ajudar a contribuir para essa continuidade”.

Mau uso do carro

“Quando todo mundo abraça a mudança, a tecnologia vem como consequência”. A fala do diretor-geral da Uber Brasil, Gui Telles, encerrou o talk show sobre o futuro da mobilidade. Telles aponta que o principal objetivo do aplicativo é acabar com o mau uso do carro. Segundo ele, em média, o paulistano passa 1 mês por ano no trânsito, e 25% do espaço urbano da cidade é ocupado por garagens. Além disso, cada carro anda com, em média, 1,4 passageiros, e ainda fica 95% do tempo parado. “Quando o motorista está o tempo todo circulando, ele reduz o tempo na garagem e preocupa esse espaço. Assim você muda a configuração da cidade”, argumenta.
Ele aponta ainda que o aplicativo de mobilidade foi pioneiro na sua área, mas como o foco é na tecnologia a empresa não pretende parar por aí: “Os livros estão para a Amazon assim como o transporte de passageiros está para a Uber”, brinca. Um exemplo é o Uber Eats, serviço de entrega de comida que já funciona em Curitiba. Outro, que será lançado em breve no Brasil, é o Uber Pool Express.
Talk do diretor geral da Uber Brasil, Gui Telles, com a jornalista Isabela Leite, no evento O Futuro do Consumo. Foto: Aléxia Saraiva/Gazeta do Povo
Talk do diretor geral da Uber Brasil, Gui Telles, com a jornalista Isabela Leite, no evento O Futuro do Consumo. Foto: Aléxia Saraiva/Gazeta do Povo
O lançamento integra uma nova característica ao Uber Pool, modalidade do serviço em que o carro realiza múltiplas corridas ao mesmo tempo, levando passageiros com trajetos similares. O Express adiciona à conta a possibilidade do usuário andar algumas quadras para otimizar o trajeto do motorista – o que barateia o custo total em até 40% do valor da viagem. A nova aposta da plataforma só foi possível graças a um mapeamento minucioso das cidades brasileiras, com uma tecnologia semelhante à do Google Street View.
Telles é otimista com a possibilidade do país se adequar às transformações, já que a mudança de cultura foi rápida quando o aplicativo foi implementado. “O normal é primeiro ter a inovação e depois a regulamentação, que acompanha o progresso. Não tem por que impedir um serviço que está funcionando”, conclui.
*A jornalista viajou a convite do evento.

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