Brasileiros criam mini-hidrelétrica que permite gerar energia elétrica em casa

Giselle Ulbrich
05/09/2018 21:26
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Fotos: Divulgação

Dois jovens curitibanos desenvolveram uma inovação tecnológica que traria tranquilidade a muitos brasileiros: o sonho da usina elétrica própria. Conforme apurou a Tribuna do Paraná, os engenheiros mecânicos Felipe Wotecoski, 31, e Juliano Rataiczyk, 30, desenvolveram um equipamento capaz de gerar energia no quintal de casa com impacto reduzido ao meio ambiente.
Com o tamanho similar ao de um fogão de quatro bocas, a microusina é capaz de gerar até 720 Kilowatts/hora por mês, energia suficiente para abastecer de três a quatro residências e ainda devolver um pouco de energia à rede elétrica. A economia, com essa quantidade de energia, é de aproximadamente R$ 500 mensais com a conta de luz, de acordo com os engenheiros.
A alternativa é sustentável e parte do princípio da energia renovável. “As megausinas hidrelétricas são muito grandes e difíceis de gerenciar. A ideia é descentralizar esta produção, com equipamentos simples de instalar, operar e fazer manutenção, para dar conta da crescente demanda de energia que temos visto a cada ano. Temos cada vez mais aparelhos eletrônicos dentro de casa”, conta Felipe.

Limitação geográfica

Embora seja inovadora, a ideia das microusinas tem uma limitação: para instalar uma do tipo em casa, é preciso ter uma fonte de água perto da propriedade – um rio ou riacho, até mesmo um vertedouro, ou seja, uma disponibilidade mínima de água – e uma queda natural de pelo menos 15 metros de altura, para que a correnteza tenha força suficiente para acionar a turbina da usina.
Conforme Felipe Wotecoski, um dos criadores do equipamento, nestas condições, o fluxo de cinco litros de água por segundo é suficiente. É uma quantidade pequena, visto que uma descarga consome nove litros por segundo. Um cano de PVC de tamanho médio (40 milímetros) poderia ser suficiente. Mas, para evitar travamentos no caminho e a água fluir mais rápido, os engenheiros optaram por utilizar um cano maior, como os usados em instalações sanitárias de uma residência. Indústrias que possuem pontos de água sob pressão também podem ter os equipamentos.
A operação para instalação da usina é simples: é preciso substituir o relógio comum da Copel por outro bidirecional, que mede a quantidade de energia usada na rede da operadora e o volume devolvido à rede.
O relógio calcula a diferença e, se a pessoa consumiu mais energia da Copel do que da microusina, paga só esta diferença.
Mas se não consumiu nada da rede da Copel e ainda jogou energia da micro usina para a rede, vai ganhando créditos, que podem ser usados ao longo de 60 meses. O usuário pode aproveitar estes créditos em quaisquer outros imóveis sob o mesmo CPF ou CNPJ.
E o que sobra da energia produzida é jogada de volta na rede da Copel, que pode ser usada pela vizinhança (igual como acontece com outros sistemas, como os de energia solar e eólica). Uma micro usina hidrelétrica “caseira” pode ter quantos módulos forem necessários, multiplicando a produção. E a vantagem de ter mais módulos é que, se um dos equipamentos para de funcionar por algum motivo, os outros continuam suprindo a demanda, pois apesar de interligados, agem independentes.
O custo da instalação de cada módulo é de R$ 19.900, mas o valor reduz se forem instalados mais do que um. E a expectativa é que o custo reduza em breve, tão logo as encomendas e a produção em série aumente.
Quem já enxerga as vantagens do projeto é o empresário Daniel Collere. Ele mora no município de Colombo, na região metropolitana de Curitiba, e tem uma chácara em Antonina. Foi na chácara dele que os jovens engenheiros instalaram os primeiros protótipos, testaram e conseguiram as devidas licenças e homologações para produzir e comercializar as micro usinas em larga escala.
Daniel conta que o fornecimento de energia na região, à beira do Rio do Nunes, é muito instável, principalmente quando chove ou venta muito. E a chegada do equipamento hidrelétrico veio em boa hora. Reduziu as perdas de aparelhos elétricos queimados (antena parabólica, antena da Sky, geladeira, etc.) e deu um “alívio” pro bolso. “Vou para lá só aos fins de semana. Mas fim de tarde e noite sempre falta luz. Ficávamos à luz de velas. Chegava até a ser romântico”, brinca Daniel, que gasta cerca de 300 Kw/h por mês na propriedade. A usina é capaz de pagar a conta de luz da chácara e ainda manda créditos para abater da residência do empresário, em Colombo.
Fotos: Divulgação
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“É um investimento que, pra mim, se paga em menos de três anos. É um projeto legal e que ainda ajuda a natureza. Tenho tanques de peixes e, antes, eu oxigenava a água com a queda natural da água, de um rio que passa em cima da chácara. Como agora a água passa pela turbina da micro usina, desce bem mais oxigenada para o tanque. E o equipamento não altera em nada as propriedades da água, nem polui”, afirma ele, que conseguiu otimizar a produção de tilápias.

Startup

A Metha, empresa aberta por Felipe e o sócio Juliano para o desenvolvimento da microusina, foi a única do Paraná selecionada no programa Empresa Brasileira de Inovação e Pesquisa (Finep) para receber R$ 1 milhão, dinheiro que irá permitir à startup instalar sua linha de montagem e selecionar distribuidores do equipamento em todo o país.
A iniciativa está sendo desenvolvida dentro do Vale do Pinhão, o movimento da Prefeitura e do ecossistema de inovação da capital para tornar Curitiba a cidade mais inteligente do país, e acelerado pela Fiep (Federação das Indústrias do Estado do Paraná).

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