Sustentabilidade
Movimento quer impedir construção do novo Angeloni para criar parque no Bom Retiro
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
A polêmica em torno da construção da nova unidade do Angeloni no bairro Bom Retiro, em parte do terreno onde funcionou o antigo Hospital Psiquiátrico Bom Retiro, não para. Há pouco tempo surgiu nas redes sociais um movimento popular intitulado de “A Causa Mais Bonita da Cidade”, que reivindica a criação de um novo parque municipal em Curitiba, batizado extraoficialmente de Parque Bom Retiro.
O grupo, que já reúne mais de 3,4 mil apoiadores no Facebook, defende a preservação integral da área, enquanto a Prefeitura de Curitiba, o Grupo Angeloni e a Federação Espírita do Paraná (FEP), em matéria anterior de HAUS, anunciaram que irão preservar o espaço do bosque.
Apesar da criação recente do grupo, a causa não é totalmente nova. Em 2012, logo após a demolição do prédio do antigo hospital, que aconteceu em 36 horas, sem grande discussão pública, o engenheiro civil Eloy Casagrande Junior, que leciona na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e coordena o Escritório Verde da instituição, criou uma petição on-line que ainda está coletando assinaturas para a criação do Parque Municipal do Bosque do Hospital Psiquiátrico do Bom Retiro.
“Eu passo por ali há 18 anos. É meu caminho de trabalho, e fiquei revoltado com a demolição super-rápida no dia 8 de dezembro de 2012, nos últimos dias da gestão Luciano Ducci, quando todos estavam com a cabeça no Natal”, conta Casagrande. “Não houve discussão. E agora queremos preservar esta área, que é o último remanescente do tipo dentro da cidade e que funciona como um importante corredor biológico para os animais da região que vivem entre o Parque São Lourenço, o Bosque do Papa e o Bosque do Alemão.”
Para o engenheiro civil, a área não pode ser entregue a grupos econômicos sem discussão profunda das pessoas. “O voto para uma pessoa não significa carta branca para fazer tudo. O prefeito é um servidor público que deveria, antes de mais nada, consultar a população sobre o que está fazendo”, sentencia.
Outro membro do movimento é o arquiteto Geraldo Pougy, que já foi presidente da Fundação Cultural de Curitiba (FCC) na gestão anterior do prefeito Rafael Greca (PMN), de 1993 a 1996, e hoje é crítico da atual posição da prefeitura. “Eu respeito o Angeloni e acredito no princípio do terceiro de boa fé”, frisa o arquiteto. “Mas o que me deixa chateado é que a prefeitura deixou isso acontecer sem discussão. Algumas vezes, não tem como escapar de alguns problemas, mas, em muitos outros, a prefeitura tem sim muito poder de negociação“.
“Uma pena que a prefeitura esteja a reboque dos grandes investimentos. O Rafael [Greca] é muito capacitado e sabe como funciona tudo isso, mas deveria liderar a cidade”, critica o arquiteto que também já passou pelo escritório de Jaime Lerner.
A artista plástica Iara Regina Teixeira também participa do movimento por acreditar que o terreno deveria ser preservado integralmente em decorrência de sua importância para a história do Paraná e para a memória da própria FEP. “Inicialmente, lá atrás, o espaço foi comprado com específico fim filantrópico. A área deveria sediar mais alguma instituição de educação ou de caridade para honrar com a história de Lins de Vasconcelos, um dos fundadores do local”, destaca.
Procurada pela reportagem, a prefeitura diz por meio de nota da assessoria de imprensa que ainda não foi procurada pelo movimento para discutir a proposta de criação do parque. E complementa: “O posicionamento da cidade em relação a novas unidades de conservação é favorável, basta analisar o histórico da cidade na criação das mesmas e a quantidade de área verde por habitante no município”.
De acordo com a Federação Espírita do Paraná (FEP), a entidade foi procurada pela prefeitura, que anunciou internamente que está conduzindo novos estudos para tentar viabilizar uma maior preservação do terreno. “É importante salientar que há mais de 100 anos a federação se dedica a cuidar de seu patrimônio. Não há omissão de nossa parte. Basta observar o bosque da área, que está bem cuidado, como nenhum outro da cidade”, destaca.
O Grupo Angeloni não tinha uma resposta oficial acerca do movimento que pede a criação do parque até as 18h40 desta terça-feira (12).