Conheça o movimento Reação Urbana que trará propostas de revitalização para o Vale do Pinhão
Foto: Leticia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
As cidades, seus bairros e regiões não são imutáveis. Com o passar dos anos, a chegada ou saída de elementos urbanos, bem como o crescimento de determinada área trazem novos usos e significados para sua paisagem. Em Curitiba a região que talvez represente melhor as mudanças pelas quais a cidade vem passando nas últimas décadas engloba os bairros do Rebouças e Prado Velho – local da antiga área industrial, nos tempos áureos da erva mate – hoje sob o conceito do Vale do Pinhão.
“Com o passar do tempo, as indústrias foram se transformando, a erva-mate deixou de ser a grande cultura do Paraná, criou-se a CIC (Cidade Industrial de Curitiba) e o antigo pátio industrial foi adormecendo. A cidade ‘passou por cima do Rebouças’. Podemos dizer que o bairro ficou meio que num estado de hibernação até hoje”, contextualiza Reginaldo Reinert, presidente do Instituto de Pesquisa Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc).
O que fazer para resgatar a identidade de uma região com tantas vocações e oportunidades, mas que por uma série de fatores permanece “adormecida”?
Moinho Rebouças. Foto: Cido Marques
Movimento colaborativo
Para auxiliar os setores públicos e privados nos enfrentamentos sociais, econômicos, ambientais e culturais típicos de um processo de reabilitação urbana como este do Rebouças, está surgindo o movimento Reação Urbana, que engloba tanto órgãos públicos, como é o caso do Ippuc e da Agência Curitiba; a sociedade civil organizada, como a startup Reurb – primeira Organização Social Civil de Interesse Público (Oscip) criada no Vale do Pinhão; além de setores acadêmicos, a iniciativa privada e a Gazeta do Povo, que realiza o projeto em parceria com a Prefeitura e Reurb.
“Um processo dessa magnitude, visando o longo prazo, precisa ser colaborativo. O movimento consiste em uma plataforma para concentrar esforços de agentes das mais variadas áreas de conhecimento no processo de revitalização urbana do Vale do Pinhão. Ninguém sozinho consegue mudar a paisagem do Rebouças como ela está hoje. A região necessita se desenvolver social e economicamente, com investimentos que atraiam uma densidade maior tanto de moradores, quanto de usuários urbanos daquele espaço”, define o arquiteto e professor universitário Orlando Ribeiro, presidente da Reurb e um dos colaboradores do Reação Urbana.
Atividades e usos simultâneos
Envolvida no movimento desde o início de sua criação, a Agência Curitiba tem se reunido semanalmente para discussões com o Reurb de discussões sobre a revitalização da região. “O conceito de ecossistema de inovação do Vale do Pinhão é fundamental para o trânsito entre o setor público e a academia. Além das universidades envolvidas, temos o reforço de agentes da economia criativa, da tecnologia. É uma união bem interessante de fatores”, reforça Frederico Lacerda, presidente da Agência Curitiba.
“Nosso objetivo é tentar ‘fazer diferente’, em todas as frentes: nas legislações, na agilidade das tramitações burocráticas, na forma com que os empresários participam e constroem. Queremos um espaço em que seja possível imaginar todas as atividades existindo simultaneamente, coisa que as cidades não exercitam mais, devido às limitações dos zoneamentos. A revitalização do Rebouças nada mais é do que criar um espaço pretensamente pensado para que tudo isso possa acontecer”, completa Reginaldo Reinert.
Responsável pela mobilização pública e comunicação do movimento, a HAUS, da Gazeta do Povo esclarece os principais pontos sobre o Reação Urbana.
Sobre o que se trata o movimento Reação Urbana?
O movimento surgiu com o propósito de auxiliar os setores públicos e privados nos enfrentamentos sociais, econômicos, ambientais e culturais típicos deste processo de reabilitação das cidades.
“Não só a iniciativa é importante, como é interessante o formato: uma parceria entre a sociedade civil, a academia e o setor público. É a primeira vez que acontece um esforço nesse sentido, já que as iniciativas anteriores geralmente envolviam apenas uma das partes”, destaca Frederico Lacerda.
Para isso, uma série de ações será realizada a partir deste mês, com enfoque inicial até o final do ano, como a realização de um evento que reúna todos os agentes envolvidos no movimento, e que proponha o debate com a população interessada em contribuir.
Como será esse evento? Já tem data?
Na edição inaugural do Reação Urbana, será realizado o Laboratório de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão, exercício coletivo para propostas e debates sobre a reabilitação urbana da região.
O evento está previsto para acontecer entre os dias 26 e 29 de outubro, em que irá reunir cerca de 50 pessoas em uma equipe que debaterá fundamentos, conceitos, boas práticas e estratégias para formular as etapas de metodologia, diagnóstico, participação social e proposta de ações para o Plano “Preliminar” de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão.
A elaboração do Laboratório nesse formato foi pensada utilizando a metodologia do Ministério das Cidades, para que o projeto – quando aprovado pela prefeitura – possa receber verba federal para sua implementação.
O que é o Vale do Pinhão, criado pela Prefeitura de Curitiba, e qual a relação com o movimento Reação Urbana?
O Vale do Pinhão é um programa de inovação lançado pela gestão do prefeito Rafael Greca (PMN) tanto como espaço físico, na região do Rebouças e Prado Velho, quanto como plataforma conceitual que agrega iniciativas diferentes em torno de um objetivo comum, que é a revitalização urbana daquela área.
Definido como “ecossistema de inovação”, o Vale do Pinhão é composto por agentes que buscam o desenvolvimento de inovação, como por exemplo, universidades, aceleradoras, incubadoras, fundos de investimento, centros de pesquisa e desenvolvimento, startups, movimentos culturais e criativos. Além da Prefeitura de Curitiba, outras instituições também fomentam o programa, dentre elas Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Paraná (Sebrae), a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Paraná (Fecomércio).
Também fazem parte do grupo inicial de estudos do ecossistema as universidades PUCPR, UTFPR, Universidade Positivo e UFPR.
Por que investir nessa área em específico do Vale do Pinhão?
A região do Rebouças tem potencial para se estabelecer como o centro geográfico da Região Metropolitana de Curitiba (RMC): se você olhar o mapa da RMC e centralizar, como num “alvo”, verá o Vale do Pinhão. “Isso, em longo prazo, vai fazer com que seguramente você tenha circulando por essa região algo próximo de dois milhões de pessoas. Não é um lugar qualquer, é o coração da região metropolitana, sem dúvida”, analisa Reginaldo Reinert.
Qual será o papel da HAUS / Gazeta do Povo nesse processo?
Ampliar o debate em torno da reabilitação do Vale do Pinhão. Para isso, vamos tornar as etapas de concepção, implementação, execução e monitoramento do movimento Reação Urbana mais participativas, atraentes e orientadas à diversidade, com ações inovadoras e políticas públicas eficientes.
Para manter o assunto aquecido, o movimento Reação Urbana contará com uma sub-editoria exclusiva em HAUS, nutrida periodicamente com conteúdos contextualizando a região do Vale do Pinhão, apontando os desafios do plano e discussões geradas em torno do projeto.
E para dar voz ao público, um canal de discussão no Facebook será aberto, de onde serão coletadas opiniões e relatos que servirão de subsídio para as discussões propostas no Laboratório de Reabilitação do Vale do Pinhão
Outras iniciativas que deram certo em Curitiba vão ajudar na elaboração desse Plano de Reabilitação Urbana do Vale do Pinhão?
Sim, isso é fundamental. Soluções que vêm de fora muitas vezes não se adequam ao cenário curitibano. O que vem sendo feito com sucesso na cidade vai, sem dúvidas, ajudar nesse processo.
De acordo com o arquiteto Orlando Ribeiro, um bom exemplo a ser apontado é a área conhecida como “Batel Soho” – que engloba a Praça da Espanha, o Hauer Shopping Batel e a Rua Vicente Machado – repleta de vitalidade urbana, ao reunir pessoas de vários grupos sociais, idades e interesses numa região que oferece opções de gastronomia, boemia e entretenimento.
O sucesso do movimento depende da atração de empresas e moradores para a região do Rebouças? Como isso pode ser feito?
Certamente. Não adianta revitalizar uma área se não existe população interessada em habitá-la, trabalhar, consumir ou passear por lá. Para isso, é preciso dois cuidados, segundo os especialistas envolvidos no movimento: não afastar os moradores antigos, ao alterar características do bairro, ao mesmo tempo em que novos grupos populacionais precisam ser atraídos.
“A ideia é trazer grupos novos, mas que os moradores que lá estão participem e sejam incentivados junto. Terrenos e edifícios vazios precisam ser usados e ocupados, sejam em parcerias público-privadas, com a estratégia do aluguel social, por exemplo, ou em atividades para o público, como parques, estacionamentos e áreas com food trucks. Faltam espaços públicos no Rebouças para as pessoas se encontrarem. É preciso convencê-las de que o movimento vale a pena e que todos sairão ganhando com isso”, pontua Orlando Ribeiro.
Para isso, de acordo com Reginaldo Reinert, é preciso transitar pelo Rebouças e entender seu potencial. “Nós já temos atividades instaladas, algumas pouco divulgadas, como o próprio Engenho da Inovação e os polos das universidades. O teatro mais antigo da cidade, depois do Guaíra, é o Paiol, que está no Rebouças. Três saídas imediatas para o Aeroporto Afonso Pena passam por lá, via Avenida das Torres, Marechal Floriano e Salgado Filho. É impossível que as pessoas não percebam toda essa gama de diferenças em um mesmo lugar e passem a aproveitar o que o Vale do Pinhão oferece”, resume.
*Especial para a Gazeta do Povo