Navegação no Rio Belém está mais perto de se tornar realidade

Trecho do Rio Belém no Boqueirão. Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo | Gazeta do Povo
Navegar pelo Rio Belém e seus afluentes pode se tornar realidade antes do que se imagina. É o que garante a engenheira civil Lucy Schellin, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Curitiba, em entrevista exclusiva à HAUS sobre o projeto conjunto com a Secretaria do Planejamento do Governo do Estado do Paraná para a despoluição e navegação da bacia do Rio Belém. Nas próximas semanas o projeto será oficialmente divulgado.
Segundo a engenheira, a região do Vale do Pinhão é ideal para o projeto piloto da bacia do Rio Belém. “Além de facilitar o centro de troca de modais, que já contempla carros, ciclovias, ônibus e trens, com acesso à rodoferroviária e ao Aeroporto Afonso Pena, o Vale do Pinhão abrange o trecho retificado e canalizado do Belém, até o Rio Iguaçu. Bastaria ajustar a vazão e dar o suporte para a navegabilidade”, pontua, lembrando que até um acesso ao aeroporto será possível.

“A navegação em rios já é prevista na política de recursos hídricos, mas a legislação é inteligente: antes é preciso resolver o saneamento básico, retirar o lixo, os sedimentos, tudo isso pra navegar em um rio limpo. Para que o transporte no rio seja eficiente é preciso ter interligação com outros modais. Estando incluso no planejamento urbano, os encaixes ficam mais fáceis de fazer depois”, explica Lucy.
Entre as vantagens apresentadas, estão a rapidez e fluidez do transporte hídrico, em especial para passageiros, tanto curitibanos quanto turistas. “Na França, já existem aplicativos de transporte de passageiros que levam até cinco pessoas em pequenos barcos de fibra, movidos a energia solar. Com menos cruzamentos e barreiras, o acesso até o aeroporto seria muito mais rápido, por exemplo”.

Saneamento
Arquiteta e urbanista responsável dentro da Secretaria do Planejamento do Paraná pelo projeto de despoluição do Rio Belém, Patricia Cherobin ressalta que o saneamento é fator fundamental para que o projeto de navegação no Rio Belém saia do papel. “É viável, não é só uma ideia em nossas cabeças. Hoje há ações pontuais para a revitalização do rio, em trechos isolados, feitas por diferentes entidades. O objetivo dessa cooperação é integrá-las. Se vamos trabalhar com esgoto, também devemos voltar os olhos a questões como drenagem, lixo, permeabilidade do solo e arborização”, afirma.
Entre as entidades parceiras, segundo Schellin, estão a Sanepar, o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CEMA) e a Agência Nacional de Águas (ANA). “A despoluição hídrica precisa ser feita de forma eficiente, bem como o controle de sedimentos, para evitar que se abra alguns trechos hoje canalizados dos rios, principalmente na região central, e que desencadeie problemas de saúde pública, como acontecia na região do Passeio Público“, relembra, citando uma epidemia de tifo que desencadeou a canalização do Rio Belém naquele trecho.
Abertura dos rios

A reabertura de trechos canalizados dos rios Ivo e Belém, nas região central, é sugerida também por arquitetos especializados em urbanismo tático. É o caso do escritório de arquitetura Solo Arquitetos, que apresentou projeto com essa abordagem na Exposição Arquitetura para Curitiba 2017.
“Enxergarmos na descanalização a chance de retomarmos a relação do cidadão com o rio, a chance de trazer maior vitalidade a uma área degradada do centro da cidade. Dessa forma, decidimos explorar diversos usos ao longo do trecho escolhido, não só a caixa do rio, mas também alguns lotes subutilizados do entorno. Optamos por trabalhar os seguintes usos: esportivo, canoagem, natação, yoga, quadras poliesportivas, escalada, skate e outros”, detalha o grupo em trecho do projeto.

Recarga de aquíferos
Lucy Schellin destaca ainda outra tecnologia em fase embrionária no Brasil, mas que pode ser integrada ao projeto hídrico da bacia do Belém: espaços para infiltração de água no solo para garantir recarga de aquíferos. “Se vamos adensar os espaços subutilizados, precisamos garantir abastecimento de água para a geração futura com qualidade e quantidade. Devido a inúmeros alagamentos, a China implementou no planejamento urbano o conceito de cidades esponja, como Zhuhai. Estão usando todos os tipos de tecnologia DBI (de desenvolvimento de baixo impacto) em larga escala para garantir a infiltração de excedentes hídricos no solo”, sugere.
*Especial para a Gazeta do Povo.