Se você não é um gato de Ipanema, não tem porque manter no seu jardim um daqueles coqueiros típicos das orlas litorâneas. Bichos do Paraná que se prezem precisam ter em casa espécies nativas. Não seriam plantas paranaenses com certeza, até porque plantas não conhecem os limites geográficos dos mapas, mas plantas pertencentes ao mesmo ecossistema. A vantagem disso é explorar plantas que já estão adaptadas ao clima, preservar a identidade da nossa vegetação e, principalmente, evitar que ela sucumba aos modismos importados.
Não há nenhum problema em emprestar um bambu mossó da cultura oriental para colocar dentro de casa ou fazer como os imigrantes europeus que recriaram parte da paisagem de onde moravam com os cedrinhos de regiões frias. “O perigo está nas plantas exóticas invasoras, que se reproduzem muito rápido e acabam com a mata nativa. Foi isso que aconteceu na região do Passaúna, que recebeu alfeneiros nas margens da represa e acabou perdendo sua mata ciliar. E com isso, a fauna também é impactada”, comenta a bióloga Marília Orgo, da SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental). A Prefeitura de Curitiba e algumas ONGs ambientais têm até alguns projetos para substituir as invasoras (uva-do-Japão, alfeneiros, pinus, eucaliptos) por espécies nativas.
Depois de assinar o acordo da Convenção de Biodiversidade há cinco anos, o Brasil assumiu o compromisso não só de combater as exóticas invasoras, mas também de proteger e valorizar a mata nativa. “Acontece que não estamos acostumados a olhar para o mato e ver algum potencial decorativo ali. A ideia de uso de nativas é recente e implica que os profissionais aprendam mais sobre sua região. O que, no final de tudo, acaba gerando uma certa exclusividade regional a que as pessoas ainda não estão acostumadas, mas que pode ser um diferencial para os projetos de paisagismo”, diz Marília, destacando espécies como filodendros, samambaias, orquídeas e bromélias com potencial decorativo.
No entanto, segundo a engenheira agrônoma Erica Mielke, não é tão fácil assim montar um jardim regional, por conta da ausência de variedade no mercado. “E é muito importante comprar só o que tem origem controlada, para que se evite a exploração predatória das matas”, comenta. Antigamente era comum ir ao mato retirar uma muda de planta. O problema é virar costume e centenas de pessoas passarem a fazer o mesmo. “Foi o que aconteceu com o xaxim, que está na lista de espécies em perigo de extinção, principalmente por ter sido usado na confecção de utensílios de jardinagem. Hoje existem produtos que substituem o xaxim, como a fibra de coco”, explica Erica.
Serviço
Instituto Horus: www.institutohorus.org.br
Sociedade Chauá: www.chaua.org.br
