Soy brasileño

Eloá Cruz, especial para a Gazeta do Povo
24/04/2014 03:19
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Foi pela insistência de Roberto Burle Marx – ícone do paisagismo brasileiro – que Raul Cânovas decidiu deixar de ser turista para viver no Brasil. Com mais de dois mil projetos espalhados no país, inclusive em Curitiba, Cânovas não se considera mais argentino. Seus projetos, inspirados na alegria nacional, são exuberantes e cheios de vida.
De onde surgiu a sua vontade de trabalhar com o paisagismo?
Sou a quarta geração de uma família dedicada à jardinagem. Meu pai era paisagista, meu avô cultivava rosas. Meu bisavô foi trabalhar na Espanha e montou uma empresa de jardinagem. Eu engatinhava embaixo da prancheta do meu pai e, com 13 anos, ele me incumbiu de fazer o projeto de um canteiro com uma árvore em uma calçada. Foi uma brincadeira, mas serviu de oportunidade. Daí vieram pequenos serviços, até eu voar em “carreira solo”.
De onde vem sua inspiração?
De qualquer lugar que não seja jardim: música, cinema, viagens. O paisagista tem de ter uma consciência sócio-política, tem de saber como será usado o jardim, especialmente se ele é público. Nos anos 1950, por exemplo, você via idosos lendo jornal embaixo da sombra de uma árvore. Hoje eles malham, viajam, namoram. Preciso planejar o jardim para eles e para quem vive no entorno dele.
Qual sua marca registrada?
O Brasil. Quando cheguei aqui, estava apaixonado pelo Brasil e minha marca era representar o país e sua gente. Não gosto de jardins clássicos, como os da Europa. Nem dos clean. Gosto de jardim latino, com arte, colorido. A flora brasileira é a mais rica do mundo. Você fazer aqui um jardim com gramado e um pinheirinho no canto é uma estupidez. Para os ingleses, que não têm flora, é ótimo, mas para nós é ridículo.
Como você vê o trabalho dos paisagistas brasileiros?
Quando você diz que é brasileiro as pessoas se surpreendem. E nós somos admirados exatamente pela criatividade que temos. Mandamos bem na gastronomia, na arquitetura, no design, no estilismo. Mas ainda falta um paisagista hoje como Roberto Burle Marx, que mostre nossos jardins para o mundo. Os brasileiros ainda sofrem do chamado “complexo de cachorro vira-lata”, termo criado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, que se refere à falta de auto-estima dos profissionais nacionais.