Quando resolveu construir sua casa no bairro Campo Comprido, em Curitiba, nos anos 1970, Regina Moreira Rodrigues a queria igual a uma revista de arquitetura alemã. Na verdade, sonhava com um lindo jardim que estampava as páginas da publicação. “Ninguém sabia como fazer aquele projeto, comecei a trabalhar nele sozinha”, conta. A partir daí, não se viu fazendo outra coisa. “Eu vejo como um chamado”, diz a devota de São Fiacre, o santo dos jardineiros.
Depois de iniciar o jardim de sua casa, Regina fez alguns projetos para os amigos até que seu marido fez uma proposta irrecusável. “Me mandaram passar quatro meses na Europa, com toda certeza queriam se livrar de mim”, brinca. E lá foi ela estudar paisagismo em um dos maiores jardins da Europa. O Le Vasterival era coordenado pela princesa Greta Sturdza, na cidade de Dieppe, na França. Com a nobre, aprendeu tudo sobre paisagismo, jardinagem e botânica. Criou então, o Centro de Jardinagem Arte Floral do Paraná, que comanda até hoje.
A visão
Anos depois do primeiro contato com o paisagismo, dona Regina, hoje com 83 anos, acordou no meio da noite imaginando como é triste a vida daqueles que não podem enxergar a beleza de um jardim e suas flores. Criou então o conceito do Jardim dos Sentidos (inspiração para o que existe no Jardim Botânico) – em um primeiro momento voltado para os cegos – que consiste em usar o tato, o olfato e até mesmo o paladar para sentir o jardim a sua volta. “Foi quando percebi, que, por nossa visão, somos muito mais cegos do que aqueles que não conseguem enxergar”, afirma. Ela, então, decidiu construir o jardim dos sentidos no quintal da própria casa e receber os mais diversos grupos – não só formados por deficientes visuais.
O espaço verde, que é formado por um circuito com plantas das mais diversas texturas, é todo montado com canos para que a pessoa possa acompanhar o trajeto, mesmo vendada. Foram mais de oito anos incentivando pessoas a se integrar a natureza e desenvolver sensibilidades táteis, olfativas, auditivas e até gustativas, utilizando, por exemplo, uma bala de menta enquanto sente as folhas e o cheiro das folhas da planta. “Promovíamos uma percepção diferente”, explica. Hoje, dona Regina mantém apenas um pedaço do Jardim dos Sentidos junto de outras árvores, flores e a imagem de São Fiacre. O local deixou de receber visitantes no ano passado. “É agora um espaço de contemplação”, conta.