Ela é a prova de que o fruto não cai longe do pé. Para quem cresceu no viveiro do avô, na região de Campinas, interior de São Paulo, nada mais natural do que escolher a profissão de paisagista. Com um escritório localizado em São Paulo, Renata Tilli projeta jardins contemporâneos para casas, hotéis e lojas no Brasil e no exterior.
Entre os seus projetos recentes, ela cita a casa da atriz Carolina Dieckmann e o shopping Village Mall, ambos no Rio de Janeiro. Outro trabalho do qual se orgulha é a construção das piscinas de “água viva”, feitas com plantas aquáticas e peixes, que criam recantos naturais em plena cidade.
Podemos dizer que a família Tilli foi feita para o trabalho com plantas?
Tenho um amigo que brinca que nas veias da família Tilli corre clorofila. Estamos envolvidos há mais de um século no cultivo de plantas, desde que meu avô veio da Itália para o Brasil. Meu pai, hoje com 87 anos, ainda cuida do viveiro que a Floricultura Campineira (empresa da família) se transformou. Meu avô foi um grande orquidófilo e meu pai, um homem muito sensível. Sempre estivemos ligados à beleza.
Sua profissão é bastante empírica. O convívio que teve desde a infância com as plantas ajuda você?
Desde criança eu trabalhei com o meu pai, só que ao lado dele eu não criava. Convivo e entendo de plantas praticamente desde que nasci. É como se eu tivesse sido criada dentro de um viveiro. Quando viajávamos, por exemplo, levávamos muito mais tempo na estrada. Meu pai parava o carro toda vez que avistava uma planta diferente. Ele fotografava, colhia sementes, procurava saber sobre a história da planta. Isso me trouxe muita bagagem, meu trabalho flui de maneira artística e natural.
Em que momento da vida você escolheu o paisagismo como profissão?
Foi aos 16 anos. Nesta época eu era assistente do Renato Righetto, um paisagista que trabalhava com meu pai. Eu adorava ver a forma com que ele trabalhava e me envolvi com a área. Depois disso procurei me especializar. Ainda assim, não é o academicismo que me interessa, não gosto de contar para as pessoas em quais faculdades estudei. Tudo o que expressei de melhor na minha vida foi por causa do amor que tenho pelo que faço e da criatividade.
Quais os segredos de um belo jardim?
Amor e cuidado. Existem jardins que não tocam, porque não houve envolvimento emocional de quem os fez.
Como funciona o seu processo de criação?
Parto da observação, pensando nas três perguntas: para quem, onde e como. Para quem estou fazendo é a primeira questão. Preciso saber quem é o proprietário, o arquiteto, como eles pensam. Depois é a vez da topografia, do clima, do solo… São muitas coisas a serem consideradas. A partir dessa fusão de informações e caminhos inicio meu projeto. A inspiração inicial é técnica, mas o paisagismo é feito de técnica, criatividade e também do inesperado. Esta é uma das coisas mais preciosas e poéticas na paisagem: a espontaneidade.
Quanto tempo um jardim leva para ficar pronto?
É uma pergunta bem relativa. Por exemplo, quando eu termino um jardim ele está bonito, mas fica cada vez mais incrível com o tempo. Se uma planta nova nascer em um jardim que criei depois de dois anos, eu não vou a arrancar de lá, não se deve interferir nisso o tempo todo. É mais ou menos como uma mulher que envelhece, ela não precisa fazer uma plástica a cada ruga que aparece.
Existe moda quando o assunto é paisagismo?
Na natureza não existe design. Minha luta é fazer tudo o mais natural possível. Não existe tendência, cada planta tem o seu lugar. Claro, se você observar o que aconteceu nos últimos 100 anos, pode até fazer um contraponto com a moda, as mulheres pararam de usar luvas e chapéus ao sair de casa, pois estavam agregado a atmosfera da época. Mas em paisagismo, por exemplo, não é possível que uma samambaia que foi destaque nos anos 1970 não possa ser mais usada, isso não importa. Eu planto samambaias todos os dias. A paisagem é tão atemporal quanto um quadro do Rembrandt, que vai ser lindo sempre.