Calor intenso na Europa devasta jardins de Versalhes

Gazeta do Povo*
29/09/2019 20:52
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Foto: Flickr/Dom Crossler

Ícone da riqueza da monarquia francesa, os jardins de Versalhes chegam ao fim do verão europeu com sinais de desgaste pelo calor intenso. Diferentes tipos de árvores morreram ou secaram ao longo da estação. O problema é que as espécies que sofreram não são da época de Luís XIV, que teriam dificuldade para se adaptar no clima atual: elas já são espécies pensadas para sobreviver aos efeitos das mudanças climáticas.
“É de partir o coração”, afirma Alain Baraton, chefe de jardinagem de Versalhes. “Estou sendo forçado a deixar a história de lado e ser pragmático”, acrescenta, se referindo ao fato de que, cada vez mais, o jardim vai deixar suas características originais de lado se quiser ter espécies que se adaptam ao clima cada vez mais quente e seco no norte da Europa. “Visualmente, os visitantes do palácio não percebem grandes mudanças mas, aos poucos, tudo está mudando“.
Chefe de jardinagem em Versalhes, Alain Baraton explica que espécies tradicionais do jardim estão dando lugar a espécies mais resistentes. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
Chefe de jardinagem em Versalhes, Alain Baraton explica que espécies tradicionais do jardim estão dando lugar a espécies mais resistentes. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
Os jardins que antes tinham olmos, castanheiras e bétulas estão ganhando espécies que sobrevivem a maior amplitude térmica e são mais resistentes a parasitas.
As árvores são uma das maiores formas de armazenamento de carbono da natureza. A Agência Europeia do Meio Ambiente estima que as florestas absorvam 13% de todas as emissões de dióxido de carbono da União Europeia. No entanto, secas mais frequentes e tempestades cada vez mais violentas colocam em risco as florestas da região. No dia 19 de setembro, o Centro Nacional de Pesquisa Científica da França divulgou um estudo climático que mostra as temperaturas ao redor do mundo aumentando ainda mais do que o já esperado.
Novas árvores plantadas em Versalhes não sobreviveram ao verão. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
Novas árvores plantadas em Versalhes não sobreviveram ao verão. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
“As árvores costumavam ter centenas de anos para se adaptar, mas não têm mais esse tempo”, disse Xavier Bartet, oficial da Agência Nacional de Florestas da França. “E na natureza, se você não pode se adaptar, você morre”, complementa.
Os efeitos estão sendo sentidos em toda a Europa. É estimado que cerca de 50 milhões de árvores tenham secado e muitas outras tenham sofrido danos. Para evitar que isso se intensifique, a Agência Florestal da França está desenvolvendo um software para determinar quais variedades de espécies terão que ser plantadas nos próximos anos no país. O software, que está trabalhando no pior cenário de temperaturas de verão — com 5,3ºC a mais que a média — será traduzido em inglês para ser usado em todo o mundo.
Versalhes investe 3 milhões de euros por ano em manutenção da propriedade. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
Versalhes investe 3 milhões de euros por ano em manutenção da propriedade. Foto: Martin Barzilai/Bloomberg
Enquanto isso, a propriedade de Versalhes, que gasta cerca de 3 milhões de euros por ano para manter seus jardins, é a elite das florestas da Europa. O terreno “à prova de futuro” está sendo meticulosamente orquestrado: a propriedade está construindo um banco de dados de toda a sua vegetação, insetos e animais. As árvores terão mais espaço para capturar a água no solo e reter a umidade. O objetivo é manter vivo o espírito da grandeza do Rei Sol até o próximo século.
*Com informações do Washington Post e dos repórteres Dan Liefgreen, Jesper Starn, Kati Pohjanpalo e Joao Lima, da Bloomberg.

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