Organização
Marie Kondo e livros sobre minimalismo puxam onda de arrumação
Marie Kondo, que estrela o reality show Ordem na Casa, na Netflix. Foto: Divulgação.
A faxina geral de fim de ano começou mais cedo com o lançamento, em janeiro, da série “Tidying Up With Marie Kondo” (“Arrumando com Marie Kondo”, em tradução livre), da Netflix, que deu início a uma loucura nacional de limpeza de armários nos Estados Unidos.
Instituições de caridade têm recebido toneladas de doações e os feeds do Instagram transbordam de hashtags como #sparkjoy e #konmari, referências ao método de organização japonês apresentado na série que, basicamente, nos ensina a manter apenas coisas que nos trazem alegria.
A mágica da arrumação
Kondo conquistou o imaginário americano em 2014 com o lançamento do livro “A Mágica da Arrumação: a arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida”. E ela não está sozinha em seu fascínio por arrumação. A chegada de outros livros às prateleiras coincide com um momento em que os americanos no geral estão reexaminando o guarda-roupa para ver o que pode ser mandado embora.
Quando o programa de Kondo estreou na Netflix, a thredUP, uma loja on-line que recebe objetos usados em consignação para venda, registrou aumento de 80% nos pedidos dos kits Clean Out, sacolas que os consumidores enchem com tudo que querem vender. Uma instituição de caridade que luta contra a Aids e a falta de moradias observou um aumento de 15% nas doações para as lojas de arrecadação na cidade de Nova York.
A própria Kondo aparentemente não esperava essa repercussão. “Estou muito surpresa com o alcance das reações. Mas, em relação ao impacto que a organização pode ter na vida das pessoas, isso é algo que eu sabia e em que acreditava desde o começo”, afirmou por meio de uma intérprete pelo programa de chat do Google.
Organizar a casa saiu do espectro das tarefas domésticas cotidianas para adentrar o universo do bem-estar, sendo mais um passo na infinita jornada rumo ao autoaperfeiçoamento. Limpe a sala de estar para poder limpar sua vida.
Todos os livros recém-lançados apoiam a necessidade de adotarmos uma postura mais eficiente em relação à vida, mas trazem recomendações sutilmente diferentes de como chegar lá e diferentes opiniões sobre a quantidade de coisas de que você precisa em casa.
Livros sobre organização
Enquanto o livro “The Minimalist Home” (“A casa minimalista”, em tradução livre) defende uma vida com o mínimo possível de posses e guia o leitor nesse caminho cômodo a cômodo, “The Home Edit” (“A edição da casa”, em tradução livre) se concentra na classificação de bens em caixas com muito estilo, transformando gavetas e armários em sistemas de armazenagem criativos e oferecendo diferentes soluções, dependendo do tamanho e do perfil do local disponível para depósito.
Gretchen Rubin, autora de em “Outer Order, Inner Calm” (“Ordem exterior, calma interior”, em tradução livre), acredita que a força está em organizar lugares específicos, como o armário de casacos (ou a cozinha ou a gaveta de meias). Se você souber onde colocar o chapéu e as luvas ao entrar em casa e onde encontrá-las quando sair, poderá se concentrar nos problemas mais relevantes da vida. “Sentir que tem mais controle sobre si mesmo, que está no comando, pode ajudar você a fazer coisas mais difíceis. Saber que seu armário de casacos está em ordem pode levar a hábitos alimentares mais saudáveis ou à prática de exercícios”, justificou.
Rubin não oferece sugestões de como organizar esse espaço. Em vez disso, recomenda: “Faça de um jeito que funcione para você. Você pode querer reservar um sábado para fazer tudo”, ou, talvez, prefira passar o ano inteiro arrumando, dez minutos por dia. O propósito, ela argumenta – usando títulos como “Você é do tipo que enche ou limpa o balcão?” –, é entender sua motivação para então encontrar um sistema que funcione, independentemente de qual seja.
Arrumar, ao que tudo indica, é um grande negócio. O mercado de organização doméstica cresce 4% ao ano e faturou US$ 16 bilhões (R$ 60 bilhões) em 2016, informou Joshua Becker, autor de “The Minimalist Home”. Não é de se admirar. Com a redução da geração dos baby boomers, eles têm menos espaço para guardar coisas e os filhos, já crescidos, não estão interessados em manter os aparelhos de jantar e as escrivaninhas dos pais.
Os millennials, com financiamentos estudantis para pagar e salários estagnados, demoram para comprar e entulhar grandes imóveis. A tecnologia tornou mais fácil eliminar os excessos, já que podemos armazenar e acessar músicas, livros e fotos em nuvens. Serviços de empréstimo de roupas on-line também colaboram para o esvaziamento gradual do armário. A quantidade média de itens em um armário americano caiu de 164, em 2017, para 136, em 2019, segundo informações da thredUP.
“Home Edit” usa etiquetas escritas a mão por Clea Shearer, fixando-as em caixas e cestas cheias de itens coordenados por cores, transformando armários e gavetas em sistemas atraentes. No site da publicação, é possível comprar caixas, cestas, jarras e etiquetas personalizadas. “Etiquetar é realmente onde a forma e a função se encontram”, esclareceu Shearer.
Mas se você procurar ajuda no “The Minimalist Home” provavelmente não precisará comprar nada, já que, presumivelmente, não vai sobrar muita coisa quando terminar. “Se você tem de comprar coisas para guardar suas coisas, provavelmente tem coisa demais”, brincou Becker, que também gerencia um curso online de 12 semanas para aspirantes ao minimalismo. A teoria minimalista é simples: tenha menos coisas e direcione a energia que seria dispendida para cuidar delas a outras atividades.
Processo de limpeza
Independentemente do método, o processo de limpeza é trabalhoso. A seguir, você verá a história de três pessoas que usaram métodos de organização diferentes e, hoje, vivem felizes sem tanto entulho.
ESTOQUES
A organizadora de festas Seri Kertzner aplicou as técnicas para limpar o estoque da empresa. (foto: Tony Cenicola/The New York Times)
Em 2017, Seri Kertzner, presidente de uma empresa que organiza festas, não conseguia encontrar uma maneira de organizar o estoque de confetes, pratos, copos e suprimentos.
Ela havia acabado de mudar o escritório da empresa do seu apartamento de dois quartos para um estúdio no mesmo prédio, mas, mesmo assim, lutava para manter os armários em ordem. “Era difícil manter um inventário das coisas que eu tinha”, contou.
Foi quando contratou a equipe da The Home Edit, atraída pelo estilo. “Confesso que as etiquetas escritas a mão me conquistaram. Fiquei encantada com o visual que eles davam a tudo. Não era apenas organização, era estilo”, relatou Kertzner, de 40 anos.
Em um dia de trabalho, a equipe de duas pessoas mediu espaços, eliminou excessos e foi às compras. Voltou com dezenas de recipientes. Hoje, tendo armários organizados com muito bom gosto, Kertzner consegue encontrar todos os produtos e inventariá-los rapidamente.
CASA COMPACTA
Brielle, filha de Tamika François-Lawson, e seu guarda-roupa organizado com um método de Marie Kondo. (foto: Tony Cenicola/The New York Times).
Desde que tinha 20 anos, Tamika François-Lawson sonhava com uma casa compacta, minimalista, livre de entulho. Mas isso parecia nunca virar realidade. A fonoaudióloga de 38 anos mora em uma casa de três dormitórios com o marido, Ernest Lawson, de 42 anos, advogado, e a filha de quatro anos. Apesar dos esforços, François-Lawson continuava acumulando coisas, especialmente itens de bebê.
“Meu objetivo era ser minimalista, mas não estava acontecendo da maneira como tinha imaginado. Eu precisava comprar coisas e me sentia culpada”, lembrou. Foi quando leu os livros de Kondo e foi atraída pela mensagem de que poderia manter qualquer coisa que lhe trouxesse alegria, disse, “mesmo que fosse algo que não fizesse sentido para ninguém.”
Em novembro, contratou Patty Morrissey, uma organizadora de Nova York, treinada pelo método KonMari de Kondo e que enviou uma de suas associadas dando início a um processo de um mês. No quesito roupas, Huynh incentivou François-Lawson a contemplar a imagem que queria passar para o mundo e jogar todo o resto fora.
CINCO QUARTOS
Karen Lynch fez um curso para aprender a organizar a casa de cinco quartos na Califórnia. (foto: Jason Henry/The New York Times).
Durante anos, quando Karen Lynch ia receber visitas em sua casa de cinco dormitórios em Burlingame, na Califórnia, pegava todo o entulho que encontrava pela casa e metia em caixas de plástico que depois escondia em armários, no porta-malas do carro ou na banheira.
“Era uma questão de aparência; da máscara que eu usava”, revelou Lynch, de 52 anos, profissional de coaching de vida que mora com o marido, Paul Lynch, de 53, eletricista, e os dois filhos adolescentes. “Queria que as pessoas achassem minha casa arrumada, limpa e organizada.”
Ela queria, no entanto, uma solução permanente. Experimentou o método KonMari, mas percebeu que sempre encontraria uma desculpa para alegar que quase todos os seus objetos lhe traziam alegria.
Então, em setembro, após ver um anúncio do curso de Becker, decidiu dar uma chance ao minimalismo.
Durante três meses, eliminava de seis a oito sacolas de coisas por semana. Em janeiro, inscreveu-se novamente no curso para acompanhar os desafios semanais, conversar com outros alunos no grupo privado do Facebook e ir semanalmente a uma loja de arrecadação local para deixar itens.
Hoje em dia, também mudou a maneira de consumir, não comprando mais impulsivamente de catálogos ou lojas. “Agora, a cada compra me pergunto: posso comprar isso usado? Preciso disso? Posso pegar emprestado de alguém?”, exemplificou.
Mas ela acredita que ainda tem um longo caminho a percorrer. “Sou uma minimalista com rodinhas”, concluiu.
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