Opinião

Mercado Imobiliário

A volta para o escritório

Marcos Kahtalian, especial para HAUS*
01/07/2021 13:28
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Modelo híbrido é aposta para retorno de trabalho presencial no pós-pandemia | Bigstock

A grande pergunta que ronda o mercado imobiliário pelo mundo é: mas afinal, quando os funcionários irão voltar ao escritório?
Não é uma questão pequena – e não apenas porque há vários bilhões de dólares investidos em espaços corporativos mundo afora. A volta ao escritório significa também a volta à vida ativa dos centros das cidades, do comércio circunvizinho que disto depende, e mesmo das moradias fixas ou temporárias, alugadas ou próprias, de todos os que gravitam ao redor dos prédios de escritórios e das cidades como centros de serviços.
Você tem alguma aposta para esta pergunta, cuja resposta vale, como se diz, um milhão de dólares?
Bem, aqui há um debate interessante, que vai além da vacinação maior da população, o que já vem ocorrendo em algumas partes do mundo e, acredita-se, também será o caso brasileiro, lá pelo final do ano.
Com o risco de ser esquemático, nas diversas pesquisas internacionais que acompanhamos e realizamos nós mesmos, observamos uma espécie de divisão de opiniões: funcionários, quando perguntados, querem ficar em casa (que dúvida!); mas diretores e acionistas querem a volta ao escritório - ainda que de forma híbrida.
Uma versão atualizada da luta de classes? Talvez. Porém há bons argumentos de ambos os lados: pelo lado do colaborador, ganha-se em tempo de deslocamento, maior vivência familiar, e, pode-se supor, algum grau de conforto longe das pressões sociais do escritório. Do lado das empresas: maior interação colaborativa, ganhos de comunicação e trabalho em equipe, uma gestão mais próxima, e sobretudo, desenvolvimento de cultura criativa e corporativa.
 "Ir ao trabalho é uma atividade enriquecedora, de trocas sociais e simbólicas."
"Ir ao trabalho é uma atividade enriquecedora, de trocas sociais e simbólicas."
O que você acha? Com certeza, o melhor será ficar com o lado bom das duas visões: há muito não faz mais sentido um sistema, digamos, taylorista de controle da equipe funcional; há, seguramente, vários níveis de flexibilidade laboral que podem ser exercidos com benefícios mútuos, inclusive com maior adesão do colaborador. Por outro lado, não se prescinde da vivência presencial para os ganhos sinérgicos que o trabalho em equipe gera. Híbrido é melhor – já sabe disso quem há muito tempo pratica.
O fato é que só num mundo muito fantasioso pode-se imaginar que, numa imunização plena, estaríamos muito aptos para ir a todo lugar, menos ao escritório. Como disse certo executivo internacional: “se você pode ir a um restaurante, então pode ir ao escritório”. Faz sentido.
Portanto, nossa reposta é: o trabalho presencial em escritórios volta, sem dúvida, se estendermos a visão para os próximos dois anos, supondo, como se acredita, uma boa dose de controle epidêmico. E em cada país, conforme a cultura local, conforme as leis trabalhistas, e conforme mesmo as questões mais objetivas (qualidade do acesso à rede em casa versus escritório, mobiliário e espaço adequado etc.), este retorno será tão mais ou menos rápido.
Dá para imaginar todos voltando ao escritório menos você? Difícil. Do mesmo modo, se nem mesmo os supergigantes de tecnologia como Google, Facebook e demais estão retornando ao trabalho presencial-híbrido, não há motivo para crer que esse retorno não aconteça e as cidades não voltem a ser o que sempre foram: centros de geração de valor, de convívio, de criatividade. Para muitas pessoas, vale dizer, sair de casa – para ir ao trabalho – é uma atividade enriquecedora, de trocas sociais e simbólicas.
Afinal, cidades enfrentaram guerras terríveis, epidemias devastadoras, mas sempre resistiram. Assim, não apresse tanto a morte do escritório. A sua casa, mas que um escritório, deve ser um lar - e não um local em que você fica enfurnado, o dia inteiro, olhando para a tela de um computador. Passado mais de um ano de pandemia, parece que essa ficha começa a cair.
*Marcos Kahtalian é sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica.