Nem todo Palace se parece com um. Nem toda Maison é très chic. E tem muito Palazzo que manca em elegância. Yes: quando se fala em nome de empreendimentos imobiliários lançados, há boa chance de você acertar se apostar em um nome de língua estrangeira.
Levantamento feito pela nossa consultoria em Curitiba com 335 prédios em comercialização mostram a espantosa estatística: 35% de prédios com nome em inglês, 14% em italiano e 13% em francês. Se acrescentarmos espanhol e alemão mais 5%. Ou seja, 67% de nomes em outros idiomas. Nomes em português somam 27% e os 6% restantes dividem-se em nomes os mais variados, inclusive de origem de línguas indígenas (apenas 2%).
Daria uma ótima dissertação de sociologia de botequim o fato de um país conhecido por sua baixa proficiência gostar tanto de nomes em inglês. E nem se apele aqui ao fato de Curitiba ser uma cidade com forte presença de descendentes de imigrantes – que se saiba, não vieram ingleses ou americanos para cá – pois faltariam também nessa lista nomes poloneses, ucranianos, e muitos mais alemães e japoneses, para ficar em apenas alguns.
Mas antes que o preocupado leitor dessa coluna queira ressuscitar proposta de cotas ou restrições idiomáticas, como certa vez um parlamentar que não quero recordar o nome sugeriu, vale pensar afinal o que é o nome de um lançamento imobiliário e qual o seu impacto no sucesso comercial do produto. Spoiler (sic): o nome não é tão importante assim. Se o produto for bom e bem precificado, o nome é a menor questão para que ele venda bem.
O nome do empreendimento é sempre, evidentemente, um signo do produto. Este signo procura remeter às várias significações idealizadas pelo marketing da empresa para os seus públicos-alvo. Daí, por óbvio, nomes que magnificam a residência com ressonâncias ideais de moradia e bem-estar (flow, air, view, open, one, new, infinite, icon, harmony, life, linked, evolve, experience, moments etc), castelos ou torres (chateau, tower, palais, palazzo), cidades e lugares (London, New York, Firenze, Paris, Ibiza, City, Place, Square, Urban) ou mesmo o bom e velho lar e suas fruições, e atributos de localização (home, terrace, landscape, hills, giardino, entre outros).
Desde que o nome não seja pavorosamente contrário à aceitação dos seus compradores, com conotações muito negativas, o nome precisará apenas cumprir o papel de ser lembrado e facilmente pronunciado por aqueles que o procuram e trabalham com ele. Há casos em que o nome em outra língua torna-se um trava língua local, devido à insuficiência do domínio idiomático. Island vira islandí; high por higui; e assim por diante. Um bom nome, por óbvio, ajuda; um nome ruim, atrapalha – inclusive na pronunciação.
Com certeza você já viu ou ouviu vários desses nomes - mas a preocupação da originalidade não deve ser superestimada. Do mesmo modo como não é possível pretender que exista uma única Ana ou Marcos em Curitiba, o mesmo vale para a escolha de nomes que devem apenas, a seu momento, conseguirem emular aquilo que a construtora intenta. Por isso, é claro, vale aqui a máxima: o nome é mais bonito para o pai, que vê nele qualidades infinitas: Beautiful Dreams, Magnificent Residences (nomes inventados para esta coluna) assumem uma tal pretensão difícil de entregar. É por isso que nem todo Palace vai se parecer com um.
Bem, so what? Nenhuma surpresa, portanto, que também se vendam gardens, penthouses, open malls. E aproveitemos o rooftop, o living room, o balcony, o fire place em nosso home office.
Nomear dessa forma os ambientes pode não ajudar a aprender inglês; mas para as construtoras parece ajudar a vender apartamento. The building is on the table.
* Marcos Kahtalian, sócio-fundador da Brain Inteligência Estratégica – consultoria com nome em inglês também. Colunista da Haus (alemão).