Mais da metade da população brasileira (com renda para tal) pensa em adquirir um imóvel para investimento, especialmente se ele for residencial, tiver dois dormitórios e outros atributos que favoreçam sua locação. De maneira simplificada, este é o perfil do investidor de imóveis brasileiro, segundo aponta a pesquisa realizada pela Brain Inteligência Estratégica, apresentada no último dia 23 de março.
O levantamento ouviu mais de seis mil pessoas, sendo que 13% delas declararam já possuir ao menos um imóvel como investimento. Entre os 87% restantes da amostra, 57% afirmaram ter interesse em investir neste mercado no futuro.
Dentro deste grupo, ao contrário do que comumente se imagina, o interesse é, em sua maioria, por um imóvel residencial [studio (25%), um (22%), dois (33%) e três ou mais dormitórios (20%)], que atrai 57% dos entrevistados. O segmento comercial é foco de 18% deles e outros 24% investiriam em ambos.
"Esses apartamentos pequenos são fáceis de comprar, têm ticket acessível, financiamento [disponível], boa liquidez, ocupação e novas plataformas que operam de forma eficiente a locação", acrescenta Antonio Setin, sócio-fundador da Setin Incorporadora e convidado na apresentação da pesquisa, ao destacar o papel que o fenômeno dos imóveis compactos, segundo colocados no ranking de preferência dos investidores, tiveram no destaque dado ao segmento residencial como opção de investimento.
Este é um ponto relevante quando se avalia que 54% dos entrevistados que têm interesse em investir pensam em fazê-lo para gerar renda por meio da locação. Outros 32% planejam garantir reserva de valor patrimonial e os 14% restantes esperam contar com a valorização do bem como forma de garantir renda futura.
Para isso, a maior parte dos respondentes (36%) espera investir menos de R$ 200 mil, seguidos de 28% que planejam direcionar a partir disso até R$ 299 mil, 13% que pretendem aportar de R$ 300 mil a R$ 399 mil para a aquisição e 6% que almejam apostar de R$ 400 mil a R$ 499 mil no bem. Os imóveis com ticket superiores a R$ 500 mil, por sua vez, são o foco de investimento de 17% dos entrevistados com interesse em adquirir o bem, muitos dos quais já possuem outros apartamentos ou salas comerciais na carteira.
"A ênfase nos tickets mais baixos reforça a opção pelos produtos menores [em contraposição à preferência pelos residenciais de dois dormitórios, geralmente com valores superiores] e a oportunidade para os FIIs [Fundos Imobiliários]", destaca Marcos Kahtalian, sócio-diretor da Brain.
Parte do todo
Ter renda para contratar um financiamento (opção adotada por 65% dos entrevistados) ou comprar o bem à vista (o que fazem 35% deles) não é a única forma de se tornar um investidor ou ampliar a carteira no mercado imobiliário. Os especialistas lembram que cada vez mais os fundos de investimentos imobiliários tornam-se uma opção atrativa, considerando-se os valores investidos e a rentabilidade que proporcionam.
"A grande vantagem do fundo imobiliário é que ele democratizou o acesso ao mercado de imóveis. Não é apenas a questão de você poder diversificar muito mais com pouco recurso, mas também de poder comprar um pedaço de um imóvel lá na Faria Lima com menos de R$ 100 reais. Ele é muito mais acessível", destaca Rodrigo Cardoso de Castro, sócio-fundador do Clube FII, também convidado para comentar os resultados do levantamento.
Além de atrair investidores, que hoje somam cerca de 1,250 milhão no país, os fundos também contribuem para alavancar o segmento residencial, ao garantir aos incorporadores o aporte necessário à aquisição de terrenos, por exemplo, aliviando o caixa das empresas antes do início das obras, estas, sim, cobertas pelo financiamento bancário.
A participação dos fundos nos empreendimentos, no entanto, ainda está fortemente concentrada na cidade de São Paulo. Isso porque, segundo os especialistas, eles avaliam criteriosamente os projetos e preferem apostar em incorporadoras maiores, com longo histórico de mercado e cujo projeto esteja bem localizado.
"Quando falamos de mercado imobiliário, temos que olhá-lo a médio e longo prazos. Se olhamos no longo prazo a taxa de juros dentro da perspectiva da economia brasileira, vemos que o imóvel é muito resiliente. E [também é preciso] olhar para os fundamentos dele: está bem localizado?; é bem construído?; tem uma proposta de valor consistente?. Isso é o que permanece", finaliza Kahtalian.